Como se não bastasse a hostilidade com que vários integrantes do governo Bolsonaro vêm tratando a China, agora o Brasil resolveu assinar, com os Estados Unidos, uma declaração à Organização Mundial do Comércio com críticas veladas à atuação do país asiático no comércio internacional.
Vale lembrar que o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, chegou a insinuar que os chineses se beneficiaram da crise da Covid-19 e postou imagens do personagem Cebolinha na muralha da China trocando o “L” pelo “R”, em alusão à alegada fala dos chineses.
A China ainda é o maior parceiro comercial do Brasil, mas essa relação corre risco porque o governo Bolsonaro não se cansa de demonstrar seu alinhamento com o governo Trump. Dessa vez foi longe demais ao tomar partido na disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Até os neoliberais brasileiros estão preocupados. Por exemplo, o jornal Estadão publicou matéria condenando a decisão de Bolsonaro. Representantes do agronegócio pediram uma mudança de postura do governo, dado o receio de eventual retaliação por parte das autoridades chinesas.
A pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Lia Valls, afirmou que “o Brasil não ganha nada com isso. Segundo ela, “nossa tradição é mais multilateral e o governo tem de atender a interesses de diversos grupos; não dá para ficar só na questão ideológica”.
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, um dos problemas do alinhamento automático com os EUA é que, na arena do comércio internacional, brasileiros e americanos também são concorrentes. E as duas maiores potências agrícolas do planeta têm a China como principal mercado.