Começou bem: já se passaram dois meses desde que o primeiro caso de Covid-19 foi detectado no Distrito Federal e, até agora, a pandemia tem sido enfrentada aqui com relativo sucesso. As medidas de isolamento social tomadas pelo governo de Brasília antes mesmo da primeira morte deram resultado, mantendo o número de casos dentro das possibilidades de atendimento pela rede hospitalar.
Mas pode acabar mal: depois do início positivo em que o nível de isolamento chegou a 69%, o governador Ibaneis Rocha cedeu às pressões irresponsáveis do presidente Jair Bolsonaro e de empresários locais e reabriu desnecessariamente algumas atividades comerciais, o que aumentou substancialmente a circulação de pessoas pelas ruas. Chegou a anunciar a reabertura praticamente total para 4 de maio, adiou para o dia 11 e agora para 18. Depois de uma reunião com Bolsonaro, admitiu até mesmo a volta às aulas. Além disso, o governador não tomou nenhuma providência para impedir aglomerações, como as que acontecem nas feiras, lotéricas e agências bancárias e nas manifestações de bolsonaristas contra a democracia.
Para justificar a reabertura prematura, Ibaneis alega misteriosos estudos técnicos que até hoje não mostrou nem mesmo a pedido da Justiça e do Ministério Público. E engana a população com a realização de testes sorológicos que, segundo especialistas, são pouco precisos e atestam, com frequência, falsos positivos e falsos negativos e que, por isso, são perigosos: após receberem resultados negativos, pessoas que podem estar infectadas relaxam o isolamento e contaminam outras. Esses testes são apenas ferramentas para estudar o avanço do vírus e não se justifica o gasto com eles agora.
A reabertura foi adiada porque a juíza federal Kátia Balbino Ferreira impediu a reabertura praticamente total no dia 11 e pediu os tais estudos técnicos. Mesmo assim, reabrir no dia 18, enquanto aumentam os casos, pode piorar o que já está ruim. Há brasilienses demais nas ruas, incentivados pelas palavras e ações de Bolsonaro, pelas liberações prematuras e inoperância de Ibaneis e pela dificuldade em conseguir sobreviver em isolamento — por falta de medidas econômicas realmente eficazes do governo federal para garantir que pelo menos 70% das pessoas possam se manter distanciadas. Profissionais de saúde e cientistas têm mostrado os riscos dessa reabertura, pois o número de contaminados aumentará, o sistema de saúde não suportará e haverá mais mortes.
Felizmente a Justiça Federal impediu Ibaneis, por enquanto, de acompanhar a insanidade e a irresponsabilidade genocida de Bolsonaro.