Após se reunir com o presidente Jair Bolsonaro, nesta segunda-feira (20), o governador Ibaneis Rocha (MDB) saiu do Palácio do Planalto dizendo que poderá reabrir a rede pública de ensino do Distrito Federal, em pleno pico da pandemia do novo coronavírus, a partir da próxima semana, a começar pelas escolas militarizadas. Se reabrir, irá expor crianças, adolescentes, professores, orientadores educacionais e pôr a vida delas em risco.
A reunião com Bolsonaro o fez abandonar a política de isolamento social e de contenção da pandemia. Assim, se optar por reabrir as escolas militarizadas, pode estar nos planos do Palácio do Buriti a reabertura, sem nenhuma responsabilidade com a vida, todas as escolas da rede. É assim que Ibaneis irá expor meio milhão de estudantes, professores, orientadores educacionais e milhares de pais, mães, avós e toda a comunidade escolar à contaminação e morte por covid-19.
A diretoria colegiada do Sinpro-DF repudia a atitude e defende, intransigentemente, que o governador do DF siga as recomendações científicas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e abandone, sim, a orientação de um presidente que, a cada dia, só reafirma não ter nenhum compromisso com a vida dos(as) brasileiros(as). Caso o governador se submeta ao Palácio do Planalto a ponto de pôr a vida de milhares de pessoas em risco e decida pelo retorno às salas de aula, o Sinpro-DF irá recorrer e apelar para todos os recursos até mesmo a judicialização.
Não é a primeira vez que ele dá passos atrás para atender às pressões do Palácio do Planalto. Lamentavelmente, vem mudando seu posicionamento de manter o isolamento social e proteger a população da pandemia há algumas semanas. Tem se dobrado, sucessivamente, às pressões e passando por cima de milhões de pessoas que precisam da proteção do Estado para abrir, desnecessariamente, serviços que não precisam estar abertos no auge da contaminação.
Além disso, não assinou a Carta Aberta à Sociedade Brasileira em Defesa da Democracia, do Fórum de Governadores, divulgada nesse domingo (19), e assinada por 20 chefes do Poder Executivo. Essa, no entanto, não foi a primeira vez que ele se omitiu. Também não assinou a carta de 25/3, assinada por 25 governadores, na qual assumiram que a decisão prioritária era cuidar da vida das pessoas e que a responsabilidade com a economia não era algo excludente.
Ao expor a categoria de professores, os estudantes e suas famílias na linha de frente da contaminação da covid-19, justamente durante o pico da pandemia no Brasil, Ibaneis se declara, como o próprio Presidente da República, inimigo do povo e defensor da necropolítica neoliberal, que abandona os valores sociais de respeito à vida para valorizar o lucro de alguns.
A diretoria colegiada do Sinpro-DF lembra que os governantes de outros países que agiram como Jair Bolsonaro e ignoraram o novo coronavírus conseguiram apenas levar milhares de pessoas à morte. A Itália, a Espanha, os EUA, o Equador e a própria China não respeitaram a força da pandemia e viram o novo coronavírus devastar milhares de vidas.
Com o Brasil e o DF mergulhados na escuridão das subnotificações, o governador do DF adota a política da morte, criticada no mundo inteiro. Sem firmeza nas atitudes, ele começa a pôr o DF no mapa do caos sanitário, uma vez que nada justifica, nos meses de abril, maio e junho, meses que marcam o pico da pandemia no DF e no País, a reabertura de comércios e outros serviços, no dia 3/5, e escolas na próxima semana porque não há nada que indique e comprove a regressão da pandemia..
Os países europeus que já anunciaram o retorno à vida normal já passaram pelo pico da pandemia, fizeram muitos testes e não trabalharam com subnotificação, como ocorre no Brasil. E, ainda assim, estão voltando lentamente, com previsão de abertura de alguns setores da economia a partir da segunda quinzena de maio. Nesses países, a educação será o último setor a retornar à normalidade, cuja previsão é somente para setembro.
Os países que prometem o retorno da educação em junho, também já passaram pelo pico da pandemia, não tiveram subnotificação, preservaram com firmeza a quarentena, vão efetuar muitos testes no retorno da educação e vão recomeçar com as turmas bastante reduzidas e horários diferenciados.
A Declaração Universal de Direitos Humanos, uma carta assinada em 10 de dezembro de 1948, da qual o Brasil é signatário, declara que a vida é mais importante do que qualquer outra coisa. A vida é que tem de ser o foco da atenção e atenção dos governos.
É para isto que eles foram eleitos: para cuidar da vida. A história da gripe espanhola, no início do século XX, mostra que as cidades que se recuperaram mais rapidamente dos efeitos econômicos daquela pandemia foram as que fizeram o isolamento social e salvaram vidas. Há estudos técnicos que comprovam isso.