Jornal afirma que inteligência israelense viu uma “oportunidade” após Hezbollah incentivar o uso de pagers para comunicação
Uma reportagem do New York Times, publicada na 4ª feira (18.set.2024), relata que Israel teria criado uma empresa de fachada para produzir pagers enviados ao Líbano. Uma explosão quase simultânea dos dispositivos, usados por integrantes do Hezbollah para se comunicar, deixou ao menos 12 mortos e cerca de 2.800 feridos na 3ª feira (17.set).
O grupo extremista e o governo libanês acusam Israel de ser responsável por hackear os pagers. Tel Aviv não confirmou nem negou o envolvimento nas explosões. Mas 12 atuais e ex-oficiais do país relataram ao New York Times sob condição de anonimato que foram informados sobre o ataque e que os israelenses estavam por trás da ação.
O jornal norte-americano afirma que a operação supostamente arquitetada pelos israelenses foi “complexa” e “planejada há muito tempo”.
Segundo o veículo, uma empresa chamada B.A.C. Consulting, com sede na Hungria, apresentou-se como uma produtora internacional de pagers. Ela foi contratada para fabricar os dispositivos em nome da Gold Apollo, uma empresa de Taiwan.
A B.A.C. também teria fabricado pagers para outros clientes. No entanto, aqueles que seriam entregues ao Hezbollah foram produzidos separadamente. “Eles continham baterias com o explosivo PETN, segundo 3 oficiais de inteligência”, disse o New York Times.
Os dispositivos teriam começado a ser enviados ao Líbano em 2022 em pequenas quantidades. Mas a produção e a entrega foram intensificadas depois que o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, disse em fevereiro, durante um discurso televisionado, que Israel estava usando as redes de celulares para localizar integrantes do grupo.
Na ocasião, o líder do grupo extremista pediu que os celulares parassem de ser usados e incentivou a utilização de pagers para evitar o rastreamento por Israel.
Segundo o New York Times, autoridades da inteligência israelense viram isso como uma “oportunidade”. Eles se referiam aos dispositivos como “botões” que poderiam ser acionados quando o momento adequado chegasse.
Antes das explosões dos pagers na 3ª feira (17.set), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou no domingo (15.set), durante uma reunião de seu gabinete de segurança, que faria o que fosse necessário para permitir que mais de 70.000 israelenses deslocados pelos combates com o Hezbollah, no norte de Israel, voltassem para casa. O conflito na região se intensificou depois do início da guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza.
Na 3ª feira (17.set), foi dada uma ordem para ativar os pagers. Segundo 3 oficiais de inteligência e de defesa, Israel teria acionado os dispositivos para emitirem um sinal sonoro. Também teria enviado uma mensagem em árabe que parecia ter vindo da liderança sênior do Hezbollah.
Depois das explosões, o Hezbollah declarou que aplicará uma “justa punição” contra Israel por terem, segundo ele, hackeado os dispositivos. “Nós responsabilizamos o inimigo israelense por essa agressão criminosa que também teve civis como alvo”, disse o grupo.
Uma nova série de explosões em dispositivos eletrônicos foi registrada no Líbano na 4ª feira (18.set). O Hezbollah afirmou que comunicadores do tipo walkie-talkie explodiram em áreas no sul do país, incluindo a capital Beirute. Ao menos 20 pessoas morreram e mais de 450 ficaram feridas, segundo o Ministério da Saúde do Líbano.
O QUE SÃO PAGERS
Os pagers, ou “bipes”, como são chamados no Brasil, são dispositivos de comunicação que se popularizaram nas décadas de 1980 e 1990. O termo “pager” foi registrado oficialmente em 1959 pela Motorola.
Os aparelhos funcionam por transmissões de rádio e permitem o envio e recebimento de mensagens curtas de voz ou texto. Para se comunicar com alguém, é necessário ligar para uma central telefônica e informar a um atendente para qual número gostaria de enviar uma mensagem.
Feito isso, a mensagem aparece na tela do pager do destinatário. Os dispositivos podem ser tanto unidirecional –que só recebe mensagens– ou bidirecional, que também consegue enviar. Além disso, os pagers não têm geolocalização, o que evita que sejam rastreados.
A proliferação de telefones celulares –e posteriormente smartphones– reduziu o uso de pagers. Apesar da diminuição de sua popularidade, os dispositivos ainda são usados em setores como o hospitalar, pela sua confiabilidade e independência das redes móveis.