Iedi: ganho operacional das empresas não financeiras ficou quase igual às despesas financeiras por causa dos altos juros.
A margem líquida de lucros de empresas não financeiras de capital aberto encolheu em 2023, notadamente na indústria e no comércio, pressionada pelos altos juros – entre agosto de 2022 e agosto de 2023, a taxa básica de juros Selic ficou em 13,75% ao ano. Os dados estão na Carta Iedi, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, divulgada nesta segunda-feira.
A relação entre o indicador Ebtida (que mede os lucros antes de impostos e outras obrigações) e as despesas financeiras regrediu de 2,6 (em 2022) para 1,9 (2023). No caso da indústria, foi de 4,1 para 2,7. Mas, se forem excluídas da amostra quatro grandes empresas que influenciam muito o desempenho industrial – Petrobras, Vale, Suzano e Braskem – a relação Ebtida/despesas financeiras caiu de 1,6 (2022) para 1,1 (2023).
“Ou seja, neste último caso, o lucro operacional no conceito Ebtida foi praticamente igual ao volume de gastos das empresas industriais com despesas financeiras, excedendo-o em apenas 0,1”, salienta o Iedi.
Entre 2022 e 2023, a margem líquida de lucro das empresas não financeiras de capital aberto (negociadas em Bolsa de Valores) recuou de 12,1% para 8,4%, mas ainda se mantendo acima do nível pré-pandemia (6,2% em 2019). Na indústria, foi de 15,9% para 10,6%, mas, excluídas as quatro grandes, recuou de 5,7% para 4,3% neste período, ficando abaixo da marca de 2019 (5,2%).
“No comércio, a situação foi ainda mais grave, já que a margem líquida de lucros chegou a apenas 0,5% em 2023, partindo de um patamar de 1,8% em 2022. A crise nas Americanas, que provocou importante contração da liquidez e encareceu o crédito corporativo, pode ter afetado mais intensamente o setor de comércio ao qual a empresa pertence”, avalia o Iedi.
Menos intensivo em capital e cujos mercados dependem menos do financiamento para se dinamizarem, o setor de serviços preservou sua rentabilidade líquida. Sem as empresas de energia, passou de uma margem de 6,3% em 2022 para 6% em 2023. Considerando também o segmento de energia, aumentou sua margem de 7,8% para 8,6%. Em ambos os casos, porém, ficou aquém do patamar de 2019.
“Vale notar que houve melhora da rentabilidade líquida ao longo do ano 2023. A Carta IEDI 1223, que analisa o balanço das empresas até o 1º trim/23, indicava margens líquidas ainda mais fracas, tanto para a indústria sem as quatro grandes empresas mencionadas (2,1%) como para o comércio (-0,5%), do que os valores do ano como um todo”, destaca a Carta divulgada nesta segunda-feira.
Foram analisados os dados de 285 empresas não financeiras de capital aberto, sendo 137 indústrias; excluindo as quatro grandes companhias que influenciam muito o desempenho industrial, sobram 133 empresas do setor industrial.
Lucro operacional segue em declínio
As margens de lucro operacional mantiveram no ano passado o declínio iniciado em 2022. Para o total das empresas, saiu de 19,5% em 2022 para 15,8% em 2023. O recuo foi ainda mais intenso na indústria, de 22,9% para 17,2%. “Em ambos os casos, as margens seguiram acima dos níveis pré-pandemia, mas isso devido às quatro grandes empresas industriais mencionadas anteriormente.”
Excluindo os número de Petrobras, Vale, Suzano e Braskem, a margem operacional da indústria recuou de 10,4% (2022) para 8,4% (2023), inferior ao patamar de 9,9% de 2019. Houve elevação apenas para os serviços (incluindo energia), de 20,2% para 21,1% entre 2022 e 2023.
“Neste processo, cabe observar a queda dos preços de commodities nos mercados internacionais a partir de meados de 2022 e normalização das cadeias produtivas globais após os distúrbios, reduzindo margens operacionais sobretudo em setores da indústria de bens intermediários, como metalurgia, siderurgia, minerais não metálicos, petróleo e gás, papel e celulose etc.”, analisa o Iedi.
A pressão dos custos financeiros não foi mais intensa ainda porque as empresas, sobretudo as industriais, buscaram reduzir seu endividamento, embora o contexto econômico geral não tenha permitido um recuo substancial. Para o total da amostra, a relação entre endividamento líquido e capital próprio declinou de 74,4% em 2022 para 73,9% em 2023, ficando aquém do nível de 2019 (80,6%), em função da evolução no setor industrial.
Para o total das empresas industriais, este indicador de endividamento recuou de 68,4% para 66,6% no período em questão. Se desconsiderarmos Petrobras, Vale, Braskem e Suzano, o declínio foi de 75,4% para 71,7%, mas seguiu acima do nível de 2019 (70,4%).
Nos demais setores, ou o endividamento aumentou entre 2022 e 2023, notadamente nas empresas do comércio, ou então houve ampliação da parcela de empréstimo de curto prazo, como no ramo de energia e no comércio também.