No patético desfile militar golpista de Bolsonaro, o estado de “calamidade pública” dos tanques e blindados da Marinha (os tanques alemães Leopard 1, do Exército, estão em melhores condições, embora também obsoletos), com seus desgastados motores fumacentos, concentraram totalmente as atenções e piadas das redes sociais.
Embora não sirvam para guerra, tais tanques obsoletos servem perfeitamente para dar um golpe militar. Todo golpe militar é a “guerra” mais desonrosa e covarde que existe pois é contra o povo desarmado do país, que as FFAA teriam a obrigação constitucional de defender.
Claro que o desfile mambembe, junto com o destemor dos deputados e da sociedade civil organizada e a zoação irônica das redes sociais caíram como uma luva para mostrar as condições, também mambembes, do golpe de Bolsonaro.
Mas não podemos subestimar o fato de Bolsonaro contar com comandantes militares dispostos a pagar esse mico em nome dos interesses pessoais dos militares do governo e principalmente do presidente-genocida e seu clã miliciano.
Essa força militar mambembe é suficiente não para dar um golpe de Estado apoiado no consenso das classes dominantes, como foram os golpes de 1964 e de 2016, mas para aventuras militares golpistas, sem sustentabilidade política e por isso de fôlego curto e duração idem.
O golpe militar pretendido por Bolsonaro não seria contra o governo, pois deste já fazem parte 6 mil militares em postos chaves, mas contra o STF, a imprensa, os movimentos sociais e partidos de esquerda, os governadores e a oposição parlamentar. Nem seria um golpe para combater a corrupção, mas para permitir que os enclaves militares corruptos, junto com os políticos tradicionalmente corruptos do Centrão, continuem devorando o dinheiro público, como gafanhotos famintos. Ou seja, um golpe sem projeto nem causa.
O mais importante no dia ontem é que o ridículo desfile de blindados-fumacê não conseguiu intimidar os parlamentares, e o voto impresso golpista não foi aprovado. Bolsonaro queria de fato a sua aprovação e Lira não precisava forçar uma votação em plenário para saber que o impeachment não passaria. Enquanto tiver apoio do Centrão é claro que a oposição não conseguirá sozinha reunir 342 votos para aprovar o impeachment.
Portanto, a rejeição do voto impresso, além da revogação da LSN aprovada ontem, no Senado, representam derrotas políticas do golpismo bolsonarista. Isso não significa que o genocida vai deixar de disseminar a desconfiança na urna eletrônica, pois tal coisa é necessário para justificar a sua derrota para Lula como fraude e assim não entregar o poder de forma constitucional, como tentou fazer Trump.
Finalmente, é importante entendermos a dinâmica da votação do Congresso, pois enquanto as pretensões ditatoriais de Bolsonaro são barradas, as privatizações e a extinção de direitos dos trabalhadores são aprovadas sem problema, como é o caso da MP 1045, aprovada ontem mesmo, que permite a contratação de jovens sem vínculos empregatícios, ou seja, trabalhadores de segunda categoria.
A política econômica neoliberal é o grande divisor de águas das forças que se opõem a Bolsonaro: de um lado, o campo democrático popular, que defende o crescimento econômico inclusivo e soberano, de outro, a burguesia liberal associada ao capital estrangeiro, defensora do Estado mínimo para o povo e dependente da geopolítica do Império norte-americano.
Val Carvalho – escritor e militante de esquerda