No mundo em que o sistema financeiro determina quase tudo, até mesmo que é ou deixa de ser cidadão, abrir uma conta bancária fora do circuito das instituições financeiras tradicionais era um sonho de centenas de milhares de pessoas. Uma pequena mudança na legislação promovida pelo governo democrático-popular deu um fim nessa exclusão bancária instituída pelos bancos tradicionais e tem promovido uma espécie de alforria aos estigmatizados nas listas do Serasa. A notícia boa é que, com isso, já é possível, no Brasil, sair do esquema tradicional, esquecer a exclusão bancária e abrir uma conta numa instituição financeira que se identifica com sua ideologia.
Com o slogan “seu dinheiro, sua conta, sem banqueiro”, foi criado o Left Bank, que está de olho numa enorme fatia da população excluída do sistema financeiro: são mais de 50 milhões de pessoas sem direito a organizar a própria vida porque perderam, num país em que grassa o desemprego total, o direito a uma conta bancária. Foram excluídas do e pelo sistema financeiro tradicional por não terem as características que os banqueiros exigem. Geralmente, são discriminadas e tachadas de pessoas sem “confiança” pecuniária para o mercado. Elas costumam ter o “nome sujo” numa lista de excluídos do Serasa.
Marco Maia, diretor-geral do Left Bank, ex-deputado federal pelo PT-RS, explica ao Jornal Brasil Popular a proposta do Left Bank: um novo banco em todos os sentidos, cuja criação foi possibilitada por uma pequena mudança na legislação, em 2014, durante o governo da presidenta Dilma Rousseff. “A intenção é a de popularizar o sistema financeiro e bancário no País porque há mais de 50 milhões de pessoas que necessitam de um banco para viabilizar sua vida e não se enquadram na estrutura financeira e econômica montada no Brasil. Portanto, essas pessoas são considerados inadimplentes, devedores e não têm acesso nem sequer a uma conta bancária”, explica. O Left Bank faz parte das chamadas fintechs, empresas de tecnologia que funcionam como instituições de pagamento, alternativas ao sistema bancário tradicional.
Maia traça uma linha do tempo, apoiando-se nas palavras da ex-presidenta Dilma naquela época, que era, justamente, levar o mercado financeiro e os bancos para comunidades, em locais mais distantes do País, onde o cidadão não tinha acesso a banco. “Àquele cidadão discriminado pelo sistema tradicional. Podemos dizer que já realizamos 99% daquilo que um banco tradicional faz. Nós só não temos ainda a parte de crédito, que é um passo posterior, um passo mais complicado. Mas, no restante, temos emissão de boletos, PIX, transferência, DOC, TED, tudo aquilo que tem num banco tradicional , nós oferecemos também”, explica.
O Left Bank é um banco digital, criado, em 18 de dezembro de 2020, quando começou a ser disponibilizado por meio de aplicativos para os celulares. Desde o dia 27 de abril, entrou em operação a empresa Left Fone com venda de serviços de telefonia digital. “Nós optamos por entrar no coração do capital, no coração da estrutura capitalista do mundo”, diz o ex-deputado.
A partir das eleições de 2018, com a vitória de Jair Bolsonaro, diversos grupos econômicos e financeiros declararam apoio aberto à sua candidatura. Alguns, com financiamento de campanha, e, outros, publicamente, declarando-se abertamente. Como é o caso da rede de restaurantes Coco Bambu ou a das lojas Havan, do empresário Luciano Hang. Maia diz que isso mostra que é possível construir uma rede de apoio aos interesses da classe trabalhadora e destaca as observações feitas no sentido oposto, ou seja, as que identificam os projetos ligados à esquerda.
“A gente percebeu que, com a vitória de Bolsonaro, houve uma identificação maior de atores econômicos e financeiros com o projeto fascista na nossa sociedade. A partir dessa premissa, na visão da sociedade que passamos a estudar um pouco, essa coisa do mercado financeiro e do mercado de serviços, surgiu essa ideia. Vamos montar um conjunto de ideias e de serviços que estejam sob o controle de companheiros vinculados à esquerda e que possam desenvolver outro projeto, outra forma de organização financeira. Essa é uma iniciativa, de algum tempo, alguns companheiros discutiam porque você está financiando, patrocinando empresas, grupos econômicos e financeiros que não dialogam e que não tem, absolutamente, compromisso com nossas bandeiras, com nossos projetos, com nossas propostas. Estamos aqui optando por entrar no coração do capital, da estrutura capitalista do mundo, nós entramos no do sistema financeiro”, explica.
O diretor-geral do Left Bank destaca ainda que os bancos digitais são uma tendência mundial. “O que temos percebido é que os bancos tradicionais estão investindo na compra dos bancos digitais ou investindo em proposta de bancos digitais porque já perceberam que este é um movimento forte que disputa o mercado de uma forma muito incisiva. O Left Bank também prioriza nas suas metas, temas sociais e questões ligadas ao meio ambiente. Assuntos de destaques no site da instituição, além de um blog com artigos e informações sobre vida financeira independente. Segundo o site Infomoney, o banco conta com dois mil correntistas atualmente”, informa.