Fazer com que as mulheres tenham consciência de que é possível ter projetos de vida sem a obrigatoriedade de inclusão do casamento, da maternidade e da validação masculina é trabalho estratégico na luta em defesa dos direitos, da emancipação das mulheres e, consequentemente, do combate à violência de gênero. Esse foi o tema central da II Imersão de Mulheres nos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, realizado pela Secretaria de Mulheres Educadoras do Sinpro, no último 23 de novembro.
Durante o encontro, realizado na Chácara do Sinpro, dezenas de professoras e orientadoras educacionais praticaram atividades de autoconhecimento, autocuidado e debates políticos coletivos sobre a violência no trabalho e na vida. Além da reflexão sobre a temática para aplicação na vida pessoal, as participantes discutiram o papel da escola na conscientização das(os) estudantes.
“Se pretendemos fazer educação emancipadora na vida de estudantes, precisamos perceber e construir em nós essa emancipação enquanto professoras e orientadoras, para que possamos projetar essa educação para meninas e meninos”, afirma a diretora do Sinpro Mônica Caldeira.
A II Imersão de Mulheres nos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres teve início com o contato das participantes com ervas medicinais, banhos para a saúde da mulher e escalda-pés, que dialogam com a necessidade do autocuidado diário.
Em seguida, foi trabalhado o uso da Educação Popular, da Pedagogia Griô e dos saberes ancestrais na luta pelo fim da violência contra as mulheres, facilitado por Dona Josefa, educadora popular, guardiã de saberes ancestrais e agricultora familiar. Isso porque essas três formas de vivência dão base à construção de relações mais justas e equitativas; valorizam a dimensão comunitária, promovendo a construção de relações de cuidado e proteção entre as mulheres; transmitem conhecimentos e experiências de forma mais acessível, entre outras ações.
Ainda na parte da manhã, a pesquisadora na área de Saúde Mental e Gênero Valeska Zanello realizou a palestra “Letramento de Gênero: O papel emancipador das escolas no combate às violências contra mulheres”. A professora do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília tem entre as publicações o livro “A Prateleira do Amor”, que traz como uma das frases-destaque: “Mulheres aprendem a amar os homens, homens aprendem a amar o que quiserem”. O nome do livro é uma metáfora criada pela pesquisadora para entender a lógica afetiva que as mulheres aprendem, mediada por um ideal estético e comportamental criado por uma cultura machista e patriarcal.
Em uma programação extensa, a diretora do Sinpro Berenice Darc falou sobre “Violência contra Educadoras”. A pesquisa “Mulheres e violência”, realizada pelo Sinpro em 2021, mostra que 60% das professoras avalia que a comunicação direta com a família e com os próprios estudantes são situações que trazem maior insegurança. O estudo ainda mostra que 46% das professoras somente às vezes sente segurança e tranquilidade para falar e expressar opiniões diante dos colegas, 38% afirmou que não é sempre que se sente respeitada pelos estudantes e 30% disse que, raramente, se sente segura no local de trabalho.
O debate sobre Feminismo Negro também foi pauta da II Imersão de Mulheres nos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Facilitado pela diretora do Sinpro Márcia Gilda, o foco central do debate foi a intersecção entre gênero, raça e classe quando se fala de violência contra as mulheres. Para a dirigente sindical, uma das estratégias mais eficazes de combater o racismo e o machismo é dando protagonismo às mulheres negras na sala de aula. Para isso, ela sugeriu seja estudada de forma interdisciplinar a participação da mulher negra nos diversos segmentos da educação.
Na avaliação da diretora do Sinpro Regina Célia, a atividade realizada pelo Sinpro no último dia 23 é uma iniciativa que visa ampliar informações, contribuir com a formação continuada da categoria e debater medidas de prevenção de combate ao machismo. “Quando estamos interligadas a uma entidade sindical, conseguimos organizar melhor as lutas ao lado de pares, em reivindicações, e isso nos fortalece individual e coletivamente. É o fazer política para mulheres”, destaca.
A mulher trabalhadora aposentada também foi tema da II Imersão de Mulheres nos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. A diretora do Sinpro Elineide Rodrigues foi a facilitadora do debate, e disse que as principais violências cometidas contra mulheres aposentadas são a patrimonial e a emocional.
Entretanto, a sindicalista ressaltou que essas mulheres fazem toda a diferença na luta da categoria do magistério público, de outras categorias e na luta feministas, sendo sempre um ser político. “Mergulhamos num processo fluido, que correu transparente, que tomou a forma do ambiente seguro, afetuoso e verdadeiro que foi organizado pelo Sinpro. Vivemos uma experiência tocante, rara, irrepetível. Nesta experiência, peculiar e grupal, partilhamos situações e circunstâncias que transitam entre a esfera privada e a pública, entre o que sinto e o que sentimos, entre o que vivencio e o que vivenciamos, entre o que aspiro e o que aspiramos. Que venham outras imersões!”, pontua a professora aposentada Edna Rodrigues Barroso, que participou da II Imersão de Mulheres.
A atividade ainda teve automassagem, ginástica integrativa e cortejo com a Batucada Feminista. “A Imersão de Mulheres realizada pelo Sinpro é uma atividade de envolvimento, de trocas de experiências e atualizações de leis e estatísticas que demonstram onde ainda temos que avançar na busca de espaços, direitos e igualdade na sociedade”, finaliza a diretora do Sinpro Silvana Fernandes.