Deputada estadual do PT recebe aval do presidente para reorganizar pasta e diz defender apurações sobre antecessor preservando o direito de vítimas ao sigilo
O presidente Lula (PT) anunciou nesta segunda-feira (9) a deputada estadual mineira Macaé Evaristo (PT) como a nova ministra dos Direitos Humanos.
Ela vai substituir Silvio Almeida, demitido na sexta-feira (6) após acusações de assédio sexual. Uma das vítimas seria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Lula recebeu Macaé no Palácio da Alvorada por volta das 14h30 desta segunda. A ministra Esther Dweck, titular da Gestão que responde interinamente pelo Ministério dos Direitos Humanos, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), também participaram do encontro.
Em seguida, Lula publicou em rede social uma foto ao lado da nova ministra confirmando sua escolha.
Na conversa, Lula deu liberdade para que Macaé reorganize a pasta, já que será de sua responsabilidade a apresentação de resultados. O presidente disse que estava contente por ela ter aceitado seu convite e que conhece a sua história e sabe de seu compromisso público.
Mais tarde, em entrevista, Macaé defendeu a apuração das acusações contra Silvio Almeida preservando o direito de vítimas ao sigilo.
“Quanto às denúncias, é muito importante que os órgãos responsáveis façam as apurações devidas. […] Acho que é preciso garantir o direito dos denunciantes, [mas] também garantir o amplo e pleno direito de defesa”, disse a jornalistas na frente do ministério.
Macaé afirmou ainda ser “muito importante” garantir “a privacidade e o sigilo sobre os fatos, principalmente daquelas pessoas que foram lesadas”.
Ela ainda precisará se licenciar do cargo de deputada estadual antes de ser oficializada no Diário Oficial da União, mas disse que já havia começado os trabalhos e previa a posse na próxima semana.
A escolha da nova ministra foi celebrada pela presidente do PT. “O presidente Lula nomeia uma mulher negra, combativa, com história de lutas e realizações na defesa da educação e dos direitos humanos, das crianças e adolescentes”, escreveu Gleisi em rede social.
Macaé Evaristo foi a primeira mulher negra a ocupar os cargos de secretária de Educação em Belo Horizonte (2005 a 2012) e no estado de Minas Gerais (2015 a 2018). Também já atuou no governo federal durante o governo Dilma Rousseff (PT): entre 2013 e 2014, comandou a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, subpasta ligada ao MEC (Ministério da Educação).
Reconhecida no meio educacional e nas discussões sobre racismo, ela é professora desde os 19 anos. Em 2022, foi eleita como deputada estadual em Minas.
Aliados já apontavam que Macaé era a principal favorita e que outros nomes apenas se encontrariam com o mandatário caso a conversa com a mineira não avançasse.
Havia receio de que a pretensão dela de disputar a eleição para a Câmara dos Deputados em 2026 fosse um problema, considerando que não poderia permanecer até o fim do governo.
Além de Macaé, chegou a ser cogitado o nome da ex-ministra Nilma Lino Gomes, que foi chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no governo Dilma.
Também havia sido mencionado o nome do secretário licenciado da Justiça e Direitos Humanos da Bahia, Felipe Freitas. Interlocutores no Planalto, no entanto, apontavam que esse nome era resultado de uma tentativa do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), de ampliar seu controle do governo.
No fim da tarde de sexta (6), Lula decidiu demitir Silvio Almeida após o surgimento de acusações de assédio sexual contra o ministro. A organização Me Too Brasil disse que recebeu os relatos e prestou auxílio às supostas vítimas.
Silvio Almeida vem negando as acusações. “Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra mim. Repudio tais acusações com a força do amor e do respeito que tenho pela minha esposa e pela minha amada filha de 1 ano de idade, em meio à luta que travo, diariamente, em favor dos direitos humanos e da cidadania neste país”, afirmou.
“Toda e qualquer denúncia deve ter materialidade. Entretanto, o que percebo são ilações absurdas com o único intuito de me prejudicar, apagar nossas lutas e histórias, e bloquear o nosso futuro”, disse.
O episódio virou munição para a direita, e o caso tem gerado divergências dentro do campo político da esquerda. Bolsonaristas usam o episódio que culminou na demissão do ministro para criticar os adversários, inclusive Lula, que soube do episódio pelo menos sete dias antes de as acusações serem tornadas públicas, como mostrou a Folha.
Dentro da própria esquerda, apesar de uma majoritária solidariedade a Anielle, houve nomes que defenderam Almeida. Após a divulgação das acusações, uma série de nomes da direita foi às redes sociais para criticar o ex-ministro, o governo Lula e a esquerda.
A área dos direitos humanos era, no início do mandato petista, uma das principais apostas governistas, diante da má imagem, inclusive internacional, que o governo Jair Bolsonaro (PL) tinha nesse setor —o ex-mandatário tem histórico de declarações preconceituosas contra minorias.
Bolsonaro chamou o ex-auxiliar de Lula de “taradão da Esplanada” horas depois de o caso ser divulgado. Ele e seu filho senador, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), compartilharam nas redes a manchete da notícia das acusações de assédio.
O governo passado também teve denúncias de assédio contra um importante membro: Pedro Guimarães, então presidente da Caixa Econômica Federal. Próximo a Bolsonaro, ele foi acusado por no mínimo cinco funcionárias do banco de assédio sexual. Guimarães acabou saindo do cargo após intensa pressão, e Bolsonaro nomeou Daniella Marques para Caixa Econômica Federal.