O G20 demonstrou o óbvio: o mundo, próximo de terceira guerra mundial, bombeada pelo império americano, está polarizado entre o capitalismo rentista de guerra dos Estados Unidos em crise de realização de lucros, na economia real, ultra financeirização, especulativa, e o socialismo de mercado da China em competição total, com franca vantagem dos chineses, que já dominam a economia mundial pelo critério do poder de paridade de compra.
Entre os dois lados, o presidente Lula está fazendo escolha diplomática calculada pelo lado chinês, que melhor atende sua proposta lançada no G20 de combate à fome global e à guerra, pela paz, pela solidariedade internacional e pelo desenvolvimento sustentável.
SEGREDO DE POLICHINELO
A questão de o Brasil fazer ou não a opção formal pela Rota da Seda, iniciativa chinesa que a China pressiona para ter ao seu lado o Brasil, seu maior aliado comercial, virou Segredo de Polichinelo.
Deixou de ser pretenso problema para relação dos dois países, que se estende por 50 anos de sucesso total, por questão de cuidado geopolítico estratégico da parte brasileira, para não ferir suscetibilidade de Washington.
Os 37 acordos assinados pelos dois presidentes de cooperação, que abrange todas as áreas econômicas comprometidas com o essencial, que visa o desenvolvimento sustentável, falam por si mesmos.
Inevitavelmente, serão aprofundadas as relações sino-brasileiras, como algo que ganha moto-próprio, dialético, irresistível.
VITÓRIA DE XI JINPING
A assinatura do amplo documento, que marca a iniciativa da maior relação econômica entre duas nações, no atual momento internacional, representou, pragmaticamente, vitória de Xi Jinping, com sua estratégia socialista de mercado, e derrota do presidente americano, Joe Biden, capitaneando capitalismo rentista em crise que abala a dívida pública americana e coloca os mercados de cabelo em pé.
O titular da Casa Branca chegou ao Brasil com mãos vazias, para incrementar a relação Brasil-Estados Unidos, salvo para fazer ameaças de que o governo brasileiro não aprofunde relações com os chineses.
O que trouxe, praticamente, Biden?
Guerra!
Em sua visita à Amazônia, com suas filhas, para conhecer a exuberância da maior floresta do mundo com sua biodiversidade infinita, ele anunciou autorização para a Ucrânia lançar bombas e mísseis sobre a China, dando partida perigosa para a 3ª guerra mundial.
Colocou o mundo em suspense completo, quando seu poder de gerir a maior potência, praticamente, acabou, com derrota acachapante nas urnas.
BIDEN É INCOMPATÍVEL COM LULA
A guerra, anunciada durante o G20, definitivamente, não interessa à estratégia de combate global à fome do presidente Lula.
Ao contrário, mais guerra é garantia de mais fome, mais miséria, mais divisão internacional, mais luta de classe, menos solidariedade e distância da paz, proposta pelo comunicado final do G20, assinado por 82 países, e dos documentos assinados por Lula e Xi Jinping.
Biden se mostrou incompatível com o anseio geral fixado por China e Brasil no âmbito dos 37 documentos históricos assinados pelos dois líderes.
Em desrespeito à autodeterminação dos povos, Biden anunciou, em território brasileiro, o acirramento do conflito mundial.
Violou a soberania brasileira, perante as 20 economias mais poderosas do planeta, dando exemplo de unilateralidade imperialista, em completa dissintonia com a propensão global ao multilateralismo que representou os pronunciamentos dos líderes do G20.
Os Estados Unidos, por meio do seu líder em fim de mandato, procuraram o que caracteriza a peculiaridade norte-americana, desde o fim da guerra fria, com extinção da União Soviética, em 1991: incrementar conflitos bélicos e espaciais, para impor a hegemonia imperialista, sob comando do dólar, agora, ameaçado pelos BRICS.
Biden expressou o inconsciente do império: nada de paz, tudo pela guerra.
Afinal, o capitalismo americano, dominado pela financeirização econômica especulativa neoliberal, essencialmente, rentista, é o que atende o estado profundo da América, comandado pelo Pentágono e por Wall Street, ou seja, a economia de guerra.
O presidente americano continuou, no G20, impulsionando a tônica imperialista, desde Bretton Woods, no pós-segunda guerra mundial.
VOCAÇÃO PARA A PAZ
Em contraposição a esse posicionamento guerreiro, que caracteriza a essência dos Estados Unidos como potência declinante, incapaz de competir vantajosamente com a China, na escalada pelo desenvolvimento internacional, a aproximação estratégia Brasil-China obriga a elite brasileira a fazer a opção fundamental de país vocacionado para a paz, não para a guerra.
Os líderes dos setores econômicos brasileiros reunidos em torno do líder chinês caíram na real: os Estados Unidos, para eles, deixam de ser a prioridade principal, pois, afinal, com a China a corrente de comercio entre os chineses e brasileiros superam 150 bilhões de dólares por ano, enquanto em relação aos Estados Unidos essa cifra é 3 vezes menos.
O comércio bilateral fala mais alto.
Por isso, a Rota da Seda, proposta chinesa, soa mais pragmática e fundamental, para o país que tem milhões de pessoas passando fome, sob tripé neoliberal imposto pelo BC imperialista americano, junto com FMI, com baixos salários, dependentes do Estado para gerar renda disponível para o consumo, como fator dinâmico do mercado interno, como é o caso brasileiro.
Biden mostrou ser uma proposta indesejável para o Brasil ao oferecer, apenas, 50 milhões de dólares, para o Fundo Financeiro da Amazônia, quando havia se comprometido em liberar 500 milhões de dólares.
Uma merreca de colaboração para sustentabilidade climática.
Também, soou como distante, para o interesse brasileiro e, também, latino-americano, o anúncio do presidente americano de autorizar o FMI e Banco Mundial reservarem meros 4 bilhões de dólares para as economias mais pobres, enquanto Washington está financiando com trilhões de dólares à Ucrânia e Israel a tocarem fogo no mundo.
XI JINPING-LULA CONTRASTA
TRIPÉ NEOLIBERAL DE BIDEN
O FMI e o BIRD perderam credibilidade internacional, visto que seus empréstimos são acompanhados de condicionalidades draconianas que colocam os tomadores em situação de subordinação ao império americano.
Debaixo do super-arrocho fiscal de Washington, monitorado pela Faria Lima-BC Independente, no sentido de exigir políticas macroeconômicas neoliberais economicamente depressivas, antidesenvolvimentistas cujas consequências são desnacionalizações e privatizações, o futuro de Lula fica mais negro do que a asa da Graúna.
Biden, ao contrário de Xi Jinping, quer, essencialmente, não o desenvolvimento sustentável, mas a continuidade do que se iniciou na Era FHC neoliberal(1994-2002), com o Consenso de Washington, apoiado no tripé neoliberal: metas inflacionárias, superavit primário e câmbio flutuante.
Tal tripé, vigente com o Banco Central Independente gerenciado por um bolsonarista neoliberal, tem sido a receita para o desastre econômico que joga as economias, na periferia capitalista latino-americana, em permanente perigo de recessão, mediante arcabouços fiscais que empobrecem a população aumentando a desigualdade social.
Por essas e outras é que, no cômputo geral do G20, o que se mostrou mais vantajoso para o capitalismo periférico subordinado a Washington, em sua tentativa de fugir da tirania rentista neoliberal, é optar pela parceria com a China, na construção da Rota da Seda, prenunciando o futuro econômico global expresso em socialismo de mercado.
As circunstâncias políticas e econômicas mundiais, sob os tambores da terceira guerra mundial, dirão se esse roteiro lulista será ou não atropelado pelo império de Tio Sam, contrário à aproximação da América Latina à China.
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.
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