Não vai ser fácil a vida do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, aprovado por maioria na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O plenário, dominado pelos conservadores de centro-direita, vitoriosos na eleição municipal, deverá seguir a votação da Comissão.
Paralelamente, o que se viu, desde já, por parte dessa base conservadora, na sabatina a Galípolo, é que ela, para aprová-lo, fez exigências para ele continuar seguindo a política neoliberal, comandada pelo atual presidente do BC, o bolsonarista Roberto Campos Neto. Afinal, foi essa política monetária restritiva que impediu o presidente Lula de dinamizar, mais fortemente, a economia, por meio de desenvolvimentismo mais explícito, o que lhe teria garantido ampla vitória eleitoral, o que não aconteceu.
O Congresso, sob controle do semipresidencialismo neoliberal, francamente, inconstitucional, que freia o presidencialismo constitucional lulista, vai querer a continuidade da prática conservadora, na economia, justamente, para evitar avanço da popularidade do presidente, que venha a favorecer sua reeleição em 2026.
Nesse sentido, Gabriel Galípolo já pode sentir, a partir de hoje, a pressão indisfarçável de Lula, expressa, durante proclamação de nova política energética, na declaração de que os juros elevados haverão de cair, justamente, para permitir fôlego mais largo ao desenvolvimentismo, que não se deslanchou nos dois primeiros anos de governo sob neoliberalismo do BC, apoiado pelo Congresso semipresidencialista conservador anti-lulista.
SOB FOGO CERRADO
Galípolo, portanto, estará entre dois fogos: de um lado, sob pressão dos congressistas conservadores, saíram vitoriosos na eleição municipal, favorecidos pelas restrições fiscais e monetárias pró-mercado financeiro que impediram o governo de deslanchar plenamente.
Tivesse a política monetária e fiscal sido mais folgada, no compasso de juros mais baixos, a popularidade lulista teria sido irresistível para alcançar amplo triunfo eleitoral, fortalecendo a larga aliança governista, com destaque para o PT. Ou seja, o centro-esquerda lulista teria feito mais prefeituras e mais vereadores, sinalizando fortes expectativas positivas para a reeleição lulista em 2026.
Como isso não aconteceu, os conservadores, agora, querem a continuidade das restrições fiscais e monetárias, para manter Lula amarrado, enquanto ao mesmo tempo cuidarão de exercitar e fortalecer o novo poder que alcançaram, como maioria legislativa ampla, a fim de continuarem aprovando emendas parlamentares capazes de estreitar suas ligações com prefeitos e vereadores eleitos, graças aos recursos públicos aprovados por maioria parlamentar conservadora.
Consagrou-se ligação direta parlamento conservador antilulista-prefeitos municipais, ao largo da influência reduzida do poder executivo pela correlação de forças políticas saída das urnas.
O rompimento dessa aliança Congresso-prefeituras, favorecida pela ortodoxia fiscal e monetária, conduzida pelo Banco Central-mercado financeiro, somente iria ocorrer, se o novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, ir no caminho defendido, hoje, por Lula, de que os juros, sob o comando dele, no BC, começará a cair.
Haveria retomada firme da economia, para abrir espaço ao discurso desenvolvimentista lulista, reequilibrando a correlação de forças executivo-legislativo.
Galípolo, portanto, terá que se equilibrar na corda bamba.
CONFIRMARÁ PROFECIA DE ZÉ DIRCEU?
A vitória do centro-direita nas eleições municipais, que reverteu predomínio do centro-esquerda, vitorioso em 2022, com Lula, alcançando o terceiro mandato, cria correlação de forças que exigirá aproximação pragmática do presidente aos vitoriosos nas urnas. O lado conservador da aliança que Lula formou em 2022 para vencer eleição presidencial tende a ser predominante de agora em diante. Será ou não a fatura a pagar para alcançar cacife mais poderoso de modo a negociar com o Congresso suas demandas no exercício do poder nos dois últimos anos de mandato presidencial?
Vale dizer, Lula somente conquistará mais espaço no parlamento, se flexibilizar relações com os principais vitoriosos nas urnas, os conservadores do PSD e do PMDB, que fizeram maioria das prefeituras brasileiras, dispondo, portanto, de maior base de apoio para ganhar as eleições parlamentares em 2026.
O fato é que, independentemente da flexibilização necessária do governo para melhor conviver com a base conservadora vitoriosa eleitoralmente, estarão os conservadores de centro-direita e ultradireita no comando do parlamento para viabilizar, mais vantajosamente, as condições objetivas capazes de assegurar-lhes o poder junto a sua base politicamente ampliada na fase pós-eleitoral.
Desse modo, o Planalto, no novo cenário, será necessariamente arrastado pelos conservadores a fazerem governo de coalizão com o centro-direita.
Em outras palavras, Lula deixa ou não de ser ator preferencial de centro-esquerda, para cumprir a pregação do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, de que ele migraria para o centro-direita, como fator indispensável ao exercício da governabilidade?
O centro-direita teria ou não Lula como candidato à reeleição em 2026?
O líder do partido que mais prefeituras fez, Gilberto Kassab, do PSD, indiretamente, admitiu aliança pró-Lula ao dizer que é muito difícil vencê-lo.
Isso significou ou não sinal de aproximação mais firme Lula-Kassab, num futuro imediato, como resultado do pragmatismo dado pelo avanço do centro-direita vitorioso na eleição municipal do qual o presidente não poderá mais se afastar?
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.