A decisão política de Estado, coordenada pelo presidente Lula, e, igualmente, a disposição popular por meio da ação voluntária, humanista, envolvendo toda a sociedade, que se volta para enfrentar a catástrofe climática que destrói a economia do Rio Grande do Sul, são os dois elementos objetivos, característicos e fundamentais a se fundirem organicamente nesse momento histórico como ensinamento pedagógico social para enfrentar os problemas emergenciais como alternativa para vencê-los e superá-los.
Estão, portanto, dadas as condições objetivas para o desenvolvimento de projeto de governo da economia solidária, cooperativa, na qual se destaca, naturalmente, proposição de orçamento participativo, adequado às circunstâncias que convocam a sociedade ao engajamento na recuperação geral do estado riograndense.
Tal espírito de participação coletiva, municipalista, conforma-se com o projeto construído pelo economista Paul Singer, histórico militante do Partido dos Trabalhadores, que se dedicou a vida inteira ao assunto, para conduzir o PT a uma visão cooperativa social democrata, de viés socialista, conforme prometeu colocar em prática o candidato Lula em campanha eleitoral.
No caso do trágico evento gaúcho, no qual se destaca a reação da natureza contra o desatino neoliberal, que destruiu as bases econômicas do quarto mais importante Estado da Federação brasileira, governado pelo neoliberalismo tucano, herdado do bolsonarismo, evidencia o óbvio ululante, como diria o escritor Nelson Rodrigues: mobilização popular embalada pelo espírito voluntário, que entrou em cena, naturalmente, como alternativa para a crise.
São as recomendações dadas pela própria ação comunitária ditadas pelo bom senso popular que precisarão ser coordenadas e praticadas pelo gerente da crise climática, indicado pelo presidente da República como autoridade federal: o deputado gaúcho petista Paulo Pimenta, mergulhado nas circunstâncias dramáticas, emergenciais e contingentes, desde seus primeiros instantes envolvido nos seus desdobramentos consequentes.
A crise induz, necessariamente, a unidade governo-comunidade, para, em conjunto, por meio do exercício da solidariedade e participação comunitária, conduzir de maneira organizada a ação voluntária em forma de projeto político.
ESTADO E SOCIEDADE PARTICIPATIVOS
Portanto, o governo Lula tem em mãos proposta histórica do Partido dos Trabalhadores a ser colocada em prática para reconstrução de Porto Alegre e cidades do interior, destruídas pela catástrofe ambiental: a economia solidária.
O efeito demonstração pode ser estendido a todo o País diante do novo contexto despertado pela demanda social contra desastres ambientais, incompatível com a receita neoliberal.
O desastre ambiental foi fruto de políticas ambientalmente incorretas ditadas pelo interesse privado, pelos defensores do capitalismo especulativo na sua ânsia de acumular capital, que é a sua índole essencial, às custas do equilíbrio ecológico.
Essa estratégia desenvolvimentista privada, egoísta, individualista entrou em colapso no Rio Grande do Sul, dominado pelos empresários e classe média bolsonarista, anti-Lula, anti social-democrata.
O governador Eduardo Leite, do PSDB, seguiu o modelo bolsonarista ultraneoliberal e aprofundou o caos econômico.
A catástrofe ambiental coloca em cena outro paradigma econômico, político e social, depois do colapso neoliberal.
Restou duas forças em processo de combinação conjugadas: o Estado e a solidariedade social voluntária.
O interesse público, portanto, predomina como alternativa diante da comunidade destroçada, abrindo-se à economia solidária municipalista.
Aliás, desenha-se nesse sentido o que o ex-prefeito de Salinas, Minas Gerais, José Antônio Prates, diretor da Associação Brasileira de Municípios (ABM), propõe e articula com o Ministério do Planejamento: o Observatório Municipalista.
Trata-se de instrumento de ação comunitária, para planejamento municipal com população inferior a 20 mil habitantes, que compõem 75% da totalidade dos municípios brasileiros.
Sem dúvida, poderá ser acelerado o Observatório Municipal, em desenvolvimento pela ABM, cujo presidente é o gaúcho de São Leopoldo, Ary Vanazzi, onde o presidente Lula lançou o programa de recuperação estadual, na quarta-feira, 15.
NOVO MUNICIPALISMO À VISTA
Lula e o PT têm diante de si o desafio e a oportunidade de colocar em prática novo paradigma municipalista sob economia solidária que compõe a proposta econômica e desenvolvimentista popular de Paul Singer, economista progressista, nacionalista, de visão global, para implementar economia sustentável, econômica e politicamente, apoiada na comunidade.
O presidente está, certamente, diante do seu maior desafio político, para unir o Rio Grande do Sul, formado por correntes políticas ideológicas que se polarizaram sob o desastroso comando bolsonarista.
Caso não esteja à altura de vencer as adversidades, devido a divisões internas no governo, suscitadas pela política macroeconômica de viés neoliberal, em curso, não se estaria descartado perigo de rebeliões populares, no Rio Grande do Sul, que viesse despertar o que, historicamente, motivou lá espírito separatista.
Certamente, a debacle econômica afasta essa possibilidade, visto que não haveria condições objetivas que não sejam as de levar em contas o Estado como fator soberanamente político para conduzir a união riograndense para a sua necessária reconstrução, mediante fortalecimento dos municípios economicamente devastados.
A solução cooperativa Estado-comunidade, mobilizada pelo trabalho voluntário na construção de economia solidária, terá efeito continental, certamente, como estímulo à solidariedade latino-americana e fortalecimento do Mercosul.
Foto Roberto Stuckert/PR
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.