O Brasil está assistindo ao vivo e a cores o desenrolar da luta de classes entre os mais pobres e os mais ricos na disputa pela renda nacional em torno do ajuste fiscal neoliberal.
De um lado estão os que perdem renda, se o arrocho fiscal neoliberal for imposto para atender as demandas do mercado rentista.
Faltará renda aos setores sociais que representam gastos disponíveis em consumo, que giram a economia, com emprego, arrecadação, investimento, industrialização.
Quem abocanha essa renda, cerca de R$ 50 bilhões, serão os credores da dívida pública, favorecidos pelos juros altos, que deverão subir ainda mais na reunião do Copom nesta quarta-feira, indo a Selic para 11,25%.
Corta-se no social para favorecer o capital especulativo que não dá retorno em forma de desenvolvimento econômico.
Transferência líquida de renda da classe assalariada para a classe rentista, que embolsa anualmente cerca de R$800 bilhões em juros e amortizações da dívida, 16 vezes mais que o corte de gastos primários orçamentários dos setores sociais, a ser anunciado nas próximas horas ou dias.
Luta de classe explícita pela exploração da financeirização absoluta por meio da dívida pública graças ao mecanismo dos juros compostos, juros sobre juros, pura especulação, anatocismo já considerado ilegal pelo STF, segundo a Súmula 121.
Ainda há quem diga que luta de classe é coisa do passado não vigente mais no capitalismo financista rentista especulador.
DEBATE 247
A discussão que se aprofunda, como por exemplo, na TV 247, é saber o novo caráter da luta de classe.
O ex-governador Tarso Genro, do Rio Grande do Sul, teoriza marxistamente que a diversificação do mercado de trabalho gerada pela inteligência artificial, no mundo virtual das redes sociais, cria trabalhadores empreendedores desinteressados das relações de trabalho consagradas na social democracia.
Ele mesmo duvida da sua teoria.
O fato é que a social democracia, com discursos reformistas, enganou os trabalhadores com políticas econômicas conciliadoras com o capital financeiro.
Destruiu-se, com o neoliberalismo, o social da social-democracia e deixou no lugar uma democracia meramente retórica, destituída dos direitos sociais aos quais se filiavam os trabalhadores.
Descrentes, os trabalhadores abandonaram a social-democracia e aderiram à democracia liberal dominada atualmente pela financeirização econômica global.
A derrota eleitoral do centro-esquerda para o centro-direita nas eleições municipais explica.
INDIVIDUALISMO X COLETIVISMO
A democracia liberal financeirizada vende o discurso da individualidade no lugar do coletivo.
E cria, dessa forma, a teoria da prosperidade, que emagrece a esquerda e engorda a direita e a ultradireita.
No cenário econômico da ultradireita no qual se desenvolve plenamente o fascismo com destruição dos trabalhadores, vigora a lei de Darwin da seleção natural.
O mercado especulativo – nas propostas de ajustes fiscais neoliberais – aplica a lei natural darwinista para defender o esvaziamento econômico do Estado, transformando-o em criador de riqueza fictícia especulativa por meio da dívida pública alimentada pelos juros especulativos.
Os gastos primários tendem a zero e os gastos financeiros tendem ao infinito.
É preciso enxugar o Estado social para transferir renda aos credores do Estado financeiro, democrata liberal de direita, atraente aos individualistas destituídos de valor moral.
Em tal enxugamento, são socialmente excluídas as classes assalariadas.
A mais valia, verdadeiro lucro do capital por meio do valor trabalho não pago, vai deixando de ser funcional ao capitalista, no desenvolvimento da produção e do consumo, se ele ganha muito mais na financeirização econômica especulativa do juro alto.
O juro Selic vira a mais valia em si que bombeia os lucros dos capitalistas financeiros sem precisar contratar trabalhadores assalariados, o custo variável gerador de valor trabalho.
Assegurar o juro cada vez mais alto passa a ser a garantia de mais valia crescente e absoluta.
O lucro fictício vira lucro real sem produção de mercadorias nem de empregos.
A sociedade sem trabalho e emprego, de Rifikin, vira realidade.
O ajuste fiscal neoliberal que a Faria Lima empurra no governo goela abaixo com ajuda do Congresso de centro-direita conservador, semiparlamentarista, semipresidencialista, pró-mercado, pró-especulação, anti-estado, passa a ser o bombeador de mais valia via juro Selic.
A nova mais-valia dispensa o valor-trabalho como formador de riqueza, para transformar o trabalhador em sucata, já que o lucro do capital requer, apenas, a manipulação e a especulação, na nova luta de classe no cenário da financeirização, onde dinheiro vai parindo dinheiro.
Capital poder sobre coisas e pessoas de forma absoluta impõe os ajustes fiscais que enterram os setores produtivos, especialmente, nas periferias capitalistas dominadas pela financeirização especulativa.
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.
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