No dia 3 de setembro de 2024, médicos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (DF) deflagraram uma greve por tempo indeterminado que faz parte de um movimento para combater a crescente privatização do Sistema Único de Saúde (SUS). A mobilização conta com o apoio de médicos de programas de provimento para a Atenção Primária à Saúde e de residentes.
Bernardo Ramos, membro do comando de greve, militante da Unidade Classista e médico na Estratégia de Saúde da Família no DF, diz que a greve é encabeçada por médicos da Secretaria de Saúde do DF, com solidariedade de colegas de diversos programas da Atenção Primária e de residentes. “O movimento vai além das questões trabalhistas e visa a frear o avanço do capital privado sobre o SUS, o que tem se traduzido em um processo de privatização da rede pública de saúde em todo o Brasil”, denuncia.
O Sindicato dos Médicos do DF (SindiMédicos) lidera o movimento, que surgiu em resposta à transferência, pelo governo Ibaneis Rocha e Celina Leão, de gestão das Unidades de Saúde para o Serviço Social Autônomo (SSA), um modelo que os grevistas afirmam favorecer o setor privado na gestão pública de saúde. Ramos explica que essa modalidade representa uma precarização das condições de trabalho, flexibilização dos vínculos contratuais e desvalorização salarial, ao mesmo tempo em que recursos públicos são desviados para empresas privadas
Privatização e mercantilização da saúde
“O SUS foi criado em um contexto de reorganização do capital no fim do século XX, fruto de intensas lutas da classe trabalhadora. Hoje, lutamos contra o avanço desse capital sobre o SUS, que visa privatizar a rede pública de saúde”, afirma Ramos. Para os grevistas, a expansão do SSA representa o início de um processo de mercantilização da saúde pública, com impacto direto nas condições de trabalho e no atendimento à população.
Os profissionais em greve argumentam que seu objetivo é não apenas desacelerar esse processo, mas também organizar a categoria para lutar contra a privatização da saúde a longo prazo. A intenção é manter a mobilização até que as demandas sejam atendidas e garantir a preservação de um sistema de saúde público, gratuito e de qualidade.
Posicionamento do governo
Na manhã dessa sexta-feira (13), o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), comentou sobre o movimento durante uma cerimônia oficial em Taguatinga Norte. Para o governador, “os pedidos dos médicos são absurdos, fora do comum, e o governo não tem condições de atendê-los”. Ibaneis destacou que as negociações estão sendo conduzidas pelo secretário de Economia, Ney Ferraz, mas que a dificuldade está no valor das reivindicações, que ultrapassariam R$ 600 milhões, segundo o governo.
“Vamos ter de nos esforçar, mas demos um reajuste de 18%, contratamos policiais, concedemos um plano de saúde dos mais baratos do país e viemos atendendo as reivindicações dos servidores. Mas, de vez em quando, chegam pedidos que são impossíveis de atender”, concluiu o governador.
Perspectivas futuras
No entanto, diante das declarações do governo, o movimento grevista permanece firme em suas ações. A categoria busca ampliar a mobilização e levar a discussão para outras regiões do país, criando uma resistência nacional contra a mercantilização da saúde pública. A greve dos médicos do DF reflete não apenas uma luta por melhores condições de trabalho, mas também a defesa do SUS como um sistema público e gratuito que atenda a toda a população com dignidade.