A vida é algo por demais impressionante. Acabei fazendo uma ponte entre o premiado escritor José Eduardo Degrazia e o Selvino Heck que conheci ambos pelas páginas do velho Correio do Povo, nos anos 70.
Em 1976, os dois estiveram juntos num livro que virou um fenômeno no seu lançamento chamado “Em mãos”, do Grupo Veredas. Este grupo andou editando de forma cooperativada outras obras.
Os dois não se viam há tempos. Marcamos o encontro no Chalé, que está virando – junto com o Mercado – ponto de encontros de gente da cultura, lançamento de livros etc.
Conversa vai e conversa vem, vi que o Degrazia tinha dois exemplares de um livro na mão, e tive a sensação que queria muito falar daquilo.
Era mesmo, ele nos deu o “Memórias de um gaúcho na Rússia”, de Anatólio Gach, Eduardo Jablonski e José Eduardo Degrazia.
Degrazia nos deu um relato breve que o tal gaúcho era um sujeito famoso que a gente não conhecia, constituindo-se num absurdo, Na verdade, a gente não trata devidamente a Memória. Anatólio Gach nasceu no interior do município de Novo Machado, perto de Santa Rosa, em 1937.
Ele nos relatou a técnica da escrita que foi usada, com trocas de e-mails inicialmente entre ele e o Anatólio, sendo depois chamado o Jablosnki pela sua experiência de editor e crítico, para completar.
A forma, ou seja, a técnica de composição deu muito certo, pois a Editora Bestiário nos apresenta em 117 páginas a trajetória deste brasileiro, filho de poloneses, que volta com a família para a Polônia e daí para a URSS, hoje Rússia, e ele mais especificamente para Leningrado, hoje São Petersburgo. Torna-se o primeiro professor de português na Rússia.
Pelo papo eletrônico se fica sabendo de muitas coisas do antes e do depois da II Guerra, o caos pós Guerra, a construção do Estado soviético, o papel dos partidos comunistas no Leste Europeu.
A trajetória de nosso gaúcho merecia de fato esta biografia pelo seu papel de construir os estudos do português na Universidade, formando gente que se espalhou pelo mundo dado o papel dos russos no século passado por Cuba, África e outras regiões.
O livro vai além dos relatos de sua vida acadêmica com riqueza de informações que se tem de seus dois anos e maio na África, em especial em Angola. A gente vibra com aquele povo se independiza do jugo português para fazer seu caminho.
Tão ou mais emocionante é sua volta ao Brasil para o trabalho na Fidene/Unijuí, ficando evidente a importância da volta às origens, a irmandade que se constrói com os russos que estão naquela região.
Anatólio deixa claro no seu papo sempre sereno e sincero que é defensor do Estado Soviético e está ao lado de Putin, mesmo tendo filho e parentes na Ucrânia, dado o papel dos grupos fascistas naquele país. Sua honestidade intelectual é louvável. É um homem de posição.
Anatólio Gach acaba sendo membro honorário de instituições, entre elas a nossa Academia Rio-grandense de Letras.
Parabéns ao nosso poeta e escritor José Eduardo Degrazia por puxar o livro e ao Jablonski pela sua composição e escrita.
Vida longa ao nosso gaúcho na Rússia: Anatólio Gach.
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.