Loura, como era conhecida, lecionou sociologia na Universidade de Brasília e era uma militante política
Faleceu neste domingo (2/3), aos 77 anos, a professora titular aposentada da Universidade de Brasília, Maria Francisca Pinheiro Coelho, no Hospital Santa Lúcia (Asa Norte), devido a falência múltipla de órgãos após uma cirurgia no pé. O velório da docente acontecerá na Associação dos Docentes da UnB e UnB Secretaria de Gestão Patrimonial (ADUnB); e o sepultamento, no cemitério Campo da Esperança. A família ainda não divulgou os horários.
Conhecida como Loura, era ex-presidente da Adunb (1998/2000) e fundadora do PT nacional e local. Era irmã da ex-deputada federal Maria Laura. Deixa dois filhos, Francisco, com o antropólogo Terri Aquino, e Thiago, com o jornalista Paulo Fona, além dos netos Raian e Melinda.
Nascida em Jaguaribe (CE) em dezembro de 1947, filha de dona Eglantine Pinheiro, Francisca era formada em ciências sociais pela Universidade do Ceará (1974) e fez mestrado e doutorado na UnB. A professora deixa uma vasta produção literária, como a biografia do colega de movimento estudantil na UFC José Genoíno, escolhas políticas, e as obras Política, Ciência e Cultura em Max Weber, Políticas Sociais para o Desenvolvimento pela UNESCO, A Esfera da Política e O Público-privado na Educação.
Paulo Fona, com quem Francisca viveu por 20 anos, relata que “a Loura é uma pessoa que ao longo de sua vida foi uma idealista, guerreira e uma figura humana especial. Inesquecível.” Francisca foi presa no Congresso da UNE em Ibiúna, militou na clandestinidade no grupo trotskista Trabalho e cumpriu pena no presídio feminino do estado do Ceará por dois anos, segundo Paulo.
A professora Fernanda Sobral conta que cursou o doutorado em sociologia ao lado de Francisca, em 1984: “Éramos só nós duas, ela na área de educação e eu na de ciência, mas tínhamos muita proximidade. Além disso, éramos e fomos durante toda a vida professoras, colegas da sociologia na UnB, atualmente já aposentadas. E era muito minha amiga.”
Para a amiga, o que mais impressionava em Francisca era a integridade e firmeza com os princípios políticos e postura acadêmica. “A cearense teve uma importância política muito grande no movimento estudantil em Fortaleza e na fundação do Partido dos Trabalhadores. Era muito íntegra, não fundamentalista nos princípios políticos, criticava o que era para ser criticado e também defendia arduamente o que achava correto”, relembra.
A educação era a maior dedicação da Loura, o que Fernanda enfatiza ter sido a tese de doutorado de Francisca. Posteriormente, o texto se tornou um livro que debate questões como público x privado e ensino laico. Ao longo da carreira, Francisca também se dedicou fortemente à sociologia política, sendo uma especialista do pensamento de Hannah Arendt.
Socióloga aposentada, Maria Salete Kern Machado descreve Francisca como possuidora de um grande senso de justiça e integridade que a acompanhou durante toda a vida. “Cada vez mais, Fransisca se entregava academicamente e politicamente. Foi uma colega e amiga admirável, e nos deixa muito triste com a partida.”
Salete narra que Francisca passou um período estudando na Alemanha, onde pesquisou sobre o trabalho de Arendt. “Estamos perdendo uma grande amiga com um senso de lealdade. Ela deixa um legado pela amizade e produção política e acadêmica”, diz Salete.
O sepultamento de Maria Francisca está previsto para segunda-feira (3/3), no Cemitério Campo da Esperança. A família ainda não informou o horário do velório.