Ao contrário do agronegócio, que não vive sem fertilizantes e nem agrotóxicos, a agroecologia utiliza alternativas naturais para “alimentar” o solo e colocar comida saudável na mesa
Desde que a Rússia anunciou a suspensão das exportações de fertilizantes, o governo de Jair Bolsonaro tem feito de tudo para atender aos interesses do agronegócio e da mineração. Em nome de uma suposta garantia de comida na mesa do Brasil e do mundo, lançou o Plano Nacional de Fertilizantes, na sexta-feira (11). E já no fim de semana a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, se encontrou no Canadá com representantes de uma empresa chamada Potássio do Brasil. Seu proprietário, canadense, quer abrir na Amazônia a maior mina de potássio da América Latina. O mineral entra na composição de fertilizantes.
Os fertilizantes são insumos essenciais para o agronegócio que sustenta o governo. Por isso tamanho desespero com a crise em torno da guerra na Ucrânia. A ponto de sua produção justificar até mesmo abrir mineração em território indígena. E é assim porque o modelo de produção agrícola praticado pelos aliados do governo utiliza grandes extensões de terra. São monoculturas geralmente transgênicas, com máquinas pesadas que revolvem a terra, expondo ao sol a matéria orgânica que necessita de umidade e proteção. Por isso tornam o solo estéril. Outras máquinas o compactam em profundidade, o deixando como se fosse uma espécie de piso.
“Ali a água dificilmente vai penetrar; vai escorrer, deixando um rastro de erosao na camada superficial, justamente onde se concentram os agrotoxicos e os adubos, que serão carregados até rios e fontes”, disse à RBA o agrônomo Leonardo Melgarejo. Nesse ambiente extremamente hostil, microorganismos e insetos que garantem a fertilidade, a ciclagem, a aeração, a umidade e a matéria orgânica do solo são exterminados. “Trata-se de um modelo dependente, com necessidade de aportes crescentes. A cada ano precisam de maiores quantidades de adubos e agrotóxicos, em um ciclo de dependência que se retroalimenta.”
Fertilizantes naturais
Embora os fertilizantes químicos até sejam usado por pequenos produtores, não quer dizer que sejam presença obrigatória em todas as lavouras, como no agronegócio. Tanto é que os assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) espalhados entre municípios do Rio Grande do Sul não utilizam esses produtos. E nem uma gota de agrotóxico. A estimativa dos camponeses é de colher nesta safra 2021/2022 mais de 15 mil toneladas. Não à toa realizam na sexta-feira (18) a 19ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico.
Essa produção, segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz, faz do MST maior produtor de arroz orgânico da América Latina há mais de 10 anos. Segundo Melgarejo, isso é possível porque os minerais utilizados nos fertilizantes químicos, que a indústria retira em jazidas, são os mesmos liberados na natureza durante a decomposição de matéria orgânica por bactérias que vivem em simbiose com plantas leguminosas. É o caso do nitrogênio, por exemplo.
“As gramas incorporam matéria orgânica e retêm umidade. As plantas com raízes pivotantes descompactam o solo e estabelecem conexões com materiais e minerais das camadas profundas. Essa combinação ‘afofa’ o solo e estimula a multiplicação de milhões de organismos”, explicou. Em outras palavras, o solo dos assentamentos que produz o arroz sem veneno do MST também é alimentado de maneira saudável.
(*) Por Cida de Oliveira – RBA
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