Não é só no Brasil que isso acontece e explica a campanha de mídia contra o Ministro Alexandre de Morais, do Supremo. A plataforma X, de Elon Musk, que antes de ser comprada por ele era o respeitado e confiável Twitter, está sendo investigada e advertida em muitos outros países, sendo que no Reino Unido já se pediu a prisão preventiva de Musk, responsabilizado por incitar os recentes ataques de extrema direita, em vária cidades da Inglaterra, a mesquitas e locais de acolhimento a refugiados, até com a tentativa de incendiá-los.
Aqui, nos últimos dias, a Polícia Federal comunicou ao ministro Alexandre de Moraes que o X permitiu a transmissão ao vivo de conteúdo de investigados com perfis bloqueados por determinação da Justiça – entre outros os do blogueiro Allan dos Santos, do senador Marcos do Val e dos comentaristas de TV Paulo Figueiredo Filho e Rodrigo Constantino.
Allan dos Santos, aliás, acaba de ser objeto de novo decreto de prisão preventiva e está há tempo nos Estados Unidos, onde por alguma razão a Interpol ainda não conseguiu localizá-lo. O apoio que lhe dá o X mostra que Musk continua um cúmplice ativo de toda a mobilização golpista no Brasil.
No Brasil atual, Musk não tem mais as mordomias que tinha antes, a ponto de que quando veio aqui para tratar de seus interesses, não precisou ir a Brasília para uma audiência no Palácio do Planalto, porque Bolsonaro é que foi servilmente ao resort onde Musk estava hospedado para conversarem. É assim que Musk gosta de expor e impor seu poder e é assim que passou a se relacionar com o governo da Argentina a partir da eleição de Milei. Em vez de Musk ir a Buenos Aires para ser recebido na Casa Rosada, Milei é que foi aos Estados Unidos atrás de Musk.
Nos Estados Unidos, Musk está cada vez mais em evidência e protagonista na campanha de Trump e cada vez mais impondo sua vontade. Há dias Trump foi ao encontro de Musk para ser entrevistado num podcast do X, em vez de receber Musk em sua casa na Flórida ou em sua Trump Tower em Nova York.
Nessa longa entrevista, Musk não se limitou a entrevistar – e quando entrevistou nada saiu de suas perguntas que fosse além do xingamento habitual de Biden e agora Kamala. Cansado de perguntar, Musk passou a adestrar Trump para o exercício da Presidência, caso não perca de novo a eleição.
Trump deveria logo de saída, segundo Musk, criar uma comissão de eficiência do governo, encarregada de estudar e sugerir o corte de despesas e cargos e a extinção de órgãos desnecessários – ficando implícito no contexto dessa fala que tal comissão seria dirigida pelo próprio Musk. Trump concordou imediatamente, com uma frase que ao mesmo tempo era de grande incômodo:
— Sim, e você é o grande cortador.
Ao fazer esse aparente elogio, Trump devia estar pensando em como se livrar dessa comissão e desse cortadoar, cujas sugestões seriam verdadeiras imposições – porque, escoradas no poder do X, Trump não teria como recusá-las.
O que está ficando cada vez mais claro é que não basta a Elon Musk ser o homem mais rico do mundo. Ele quer ser também o mais poderoso. O problema, aí, é que isso Trump também quer…
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.