O RIO GRANDE DO SUL É UM ESTADO QUILOMBOLA?
Sim, o Rio Grande do Sul tem uma população quilombola importante, sendo o estado com mais localidades quilombolas da Região Sul.
Para muitos é um Estado de alemães e italianos. Não! O Rio Grande do Sul é um espaço multifacetado, tem uma variedade étnico-cultural que poucos outros lugares têm.
Porto Alegre que sempre foi tida como uma capital açoriana, na verdade é incrivelmente diversa, mais negra que açoriana. Já em 1814 havia quase 50% de negros habitando a capital.
Na era das charqueadas, Pelotas chegou a ter mais de 75% de negros.
INSTITUTO APAKANI
É uma entidade social, sem fins lucrativos, com sede no Bairro Lomba do Pinheiro.

ENTREVISTA
ELIANE ALMEIDA – PRESIDENTA O INSTITUTO APAKANI
ADELI – Por que “Apakani”?
ELIANE – Um dos fundamentos motivadores da criação de uma empresa ou organização é a sua identidade. Por este motivo, o nome nos chegou coletivamente, devido às ações que já desenvolvíamos ao longo do tempo em comunidades indígenas, quilombolas, periféricas, de povos tradicionais etc. Partimos do exemplo da palavra UBUNTU, que em Iorubá se traduz por: “Sou porque nós somos”, a palavra Apakani engloba este pensamento, que, em Guarani, significa “aqueles que voam alto e enxergam longe”. Por isso nossa logomarca possui em seu a imagem de uma harpia.
ADELI – Quais são vossos principais objetivos?
ELIANE – Entre muitos, os principais objetivos centram-se na defesa dos Direitos Humanos no que tange ao acolhimento dos imigrantes e povos originários e tradicionais, especialmente mulheres, pessoas idosos, crianças e deficientes, focando em suas necessidades, respeitando suas culturas. Na sede e virtualmente, realizamos encontros, oficinas, cursos e ações que dialogam com a temática supracitada, em especial, as PICS – Práticas Integrativas Complementares. Outro ponto focal do Apakani está nas atividades de ações emergenciais tais como apoio material na arrecadação e encaminhamentos de alimentos, roupas, sapatos, colchões, e de utensílios necessários para a subsistência das comunidades que atendemos. Temos atuação direta na área da saúde física, psicológica e espiritual dos que nos chegam, que vai desde benzeduras, até a aplicação de reiki, barras de access, hipnoterapia, constelação, etc.
ADELI – Antes mesmo da formalização da entidade, vocês eram o “movimento” Apakani. O que fizeram nas enchentes?
ELIANE – Sim, o APAKANI nasceu na pandemia, na qual realizamos virtualmente palestras, oficinas, cursos, assessorias, para grupos, entidades e instituições que nos procuraram. Também integramos a rede UBUNTU na realização de oficinas e cursos para a comunidade indígena e mulheres periféricas. Enviamos a energia do reiki à distância para todos que nos procuraram. E com a chegada da enchente, o grupo virtual passou a realizar, na prática, o atendimento de almoços, programas na Rádio Negritude para arrecadação de roupas, alimentos. Recebemos apoio de entidades e amigos que em ações conjuntas entregamos materiais e suprimentos nas casas das pessoas que perderam tudo. Também realizamos parceria com o IAFRA- Instituto África-América e a Associação MOCAMBO (quilombo urbano). Após a enchente, juntamente com o CAMP/MDS e o grupo de apoiadores, realizamos um projeto que foi desde a transformação de uma cozinha comum em solidária, até o trabalho em equipe de servimos mais de 450 refeições três vezes por semana no Ilê de Mãe Cenira de Xangô e Iansã, localizado no bairro Lomba do Pinheiro e comunidades adjacentes.
ADELI – Vocês receberam migrantes venezuelanos, indígenas Warao, não foi?
Como foi esta experiência?
ELIANE – Sim!!! Primeiro acolhemos duas famílias de venezuelanos no Instituto que contribuíram na confecção dos alimentos. Depois vieram 17 indígenas do povo Warao da Venezuela e ficaram gratuitamente no Instituto pelo período de seis meses. Não hesitamos neste acolhimento, porque no ano de 2015, também passamos por uma experiência acolhendo nove haitianos de diferentes povos, culturas e línguas, e vejam que o Instituto ainda não existia.
ADELI – Um dos focos de vossa ação é a saúde integral, com o uso das PICs. Fala um pouco?
ELIANE – O SUS atualmente reconhece 29 PICS- Práticas Integrativas Complementares. Nós no APAKANI somos formados por mais de doze PICS. Por isso, reconhecemos, utilizamos e indicamos para a sociedade a importância destas terapias em instituições, entidades, e principalmente para o SUS. Aqui no Apakani realizamos encontros, oficinas, cursos e ações diretas com as PICS. Inclusive, temos um espaço específico que acolhe outros terapeutas e também um lugar na qual os usuários podem permanecer para um trabalho que vai desde a desintoxicação alimentar, até a aplicabilidade das terapias.
ADELI – A ideia é formar uma grande Federação de PICs, com grupos formais/informais, associações etc. Como será isso?
ELIANE – Sim, está em curso a FENAPICS – Federação Nacional das Pics que vai priorizar os povos tradicionais e originários. Seu Presidente chama-se Marcos e a sede encontra-se em Novo Cabrais. Ele é o primeiro terapeuta integrativo a ser contratado pelo SUS, abrindo precedente para que possamos seguir neste processo de incluir mais terapeutas, realizando reuniões também com o Ministério da Saúde.
ADELI – Vocês estiveram recentemente no Maranhão? O que vocês nos trazem do Nordeste?
ELIANE- Além de atendermos pessoas com as terapias, tive o privilégio de ser uma das representantes técnicas da FENAPICS também no estado do Maranhão, e as expectativas são as melhores. A Universidade Federal do Maranhão apontou o desejo de ter um braço da FENAPICS dentro da instituição, além de outras possibilidades, tais como contribuir na identificação dos grupos, pessoas e instituições que serão reconhecidas nacionalmente pela Federação. Aguardem!
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.