“Na mesma barca nos encontramos.
Todos concordam – vamos lutar.”
Agostinho Neto
Poemas de Angola
O Brasil está chocado, eu sei. O que fazer? Quando vemos as notícias, nos jornais, revistas e televisão – ou nos blogs e redes sociais -, a gente tem a impressão de que chegamos ao fundo do poço: um bando de abutres milicianos tomou o país. “Tá tudo dominado? Quando lembramos num passado recente, as declarações de um certo ex-senador chamado Jucá (de tão triste memória) que tudo estava combinado: Congresso, Judiciário, tudo, vem-nos a todos o sentimento de terra arrasada. Mas, notícias recentes nos chamam também a atenção: há um certo desconforto entre eles, um desentendimento – O Executivo quer ser a Suprema Corte. Quer legislar, ser o Congresso. Quer a volta da Ditadura Militar. Do AI-5. E o que mais vier. Milicos de botas já estão em todo o Poder.
E daí? O que fazer? “Eles estão na nossa varanda, vão arrombar a porta”?
É o que avisa Lula, maior liderança da oposição.
As imagens muito claras da Polícia Militar de São Paulo atacando as torcidas unidas pela Democracia, deixam claro: Eles estão prontos e preparados pra arrombar a porta. As imagens do policial abraçado com a madame da bandeira americana com o taco de basebol, também: eles já escolheram o lado. No Rio, o PM com o deputado fascista, rindo. Em Brasília, a PM que emprestou o cavalo ao Ditador do Planalto que sequer esconde o rosto. Não usa a máscara em desobediência à lei. Nos três casos, A PM escolheu seu lado, e não são seus governadores, em desobediência, nem o povo. Mas, o Ditador do Planalto.
O que Fazer? Um Manifesto pela Unidade Nacional busca resgatar a democracia. Todos juntos e misturados. E querem nossa assinatura. “Dos que vieram (Globo, Hulk, Maria Setúbal, Lemann, FHC, Mirian, Ciro) – parafraseando Agostinho Neto, o Santo poeta de Angola – “muitos trazem sombras no olhar, motivos ocultos, outras intenções”. Para alguns deles a razão da luta é a luta do Poder pelo Poder. Para nós, o ponto central é conter o ódio, deter o fascismo e lutar pela liberdade. Derrotar Bolsonaro contra o golpe e retomar a democracia
Do povo buscamos a força. Quando vejo Lula reunindo Centrais, sindicatos e movimentos sociais, mostrando um novo caminho, novo sentido da caminhada. Eu até compreendo Zé Dirceu tentando incluir o tal Ciro – embora ache que isso não vale uma discussão com Gleisi. Mas, lembrando os conselhos do meu bispo, saudoso Dom Tomás Balduíno (naquele aviãozinho bimotor vermelho), e relendo “Poemas de Angola”, de Agostinho Neto, penso: Será que estamos na mesma barca?
Como nos ensina Lula, não podemos pegar o primeiro ônibus que está passando. É preciso ter cautela. Fico muito atento ao movimento e à origem deste Manifesto, patrocinado por Lemann e Setíbal, como em 1989. Já vimos esse filme, e esse trem vai descarrilhar e quando acontecer – como nas “Diretas Já” e em 2013 vai nos surpreender, não vamos estar no vagão que eles estavam.
Agora Somos70porcento? Uma aliança ampla, de esquerda, centro-esquerda, centrão e direita, para a retomada da democracia. Todos concordam? Vamos lutar? Lutar pra quê? Fui buscar em Dom Tomás Balduíno e Agostinho Neto, em Dom Pedro Casaldaliga, a fundamentação para esse texto. Aprendi com Dom Tomás e Pedro Wilson, a importância de organizar o povo, nas CEBs, nas Pastorais, para a resistência. Aprendi, lendo “Poemas de Angola” a importância da aliança para a luta, e os cuidados – discernimento – para entender as diferenças na unidade. E Lula está buscando isso, um projeto de povo.
A lição foi aprendida: “Não basta que seja, pura e justa, a nossa causa; É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós”. Eu continuo, sem medo de ser feliz. Na mesma barca nos encontramos, mas pergunto: Quem há de ser o timoneiro? Lutar para nós é ter aquilo que o povo quer ver realizado e que fizemos. Sou 100% Democracia. Queremos o povo na direção da barca.
Osni Calixto é jornalista, poeta e escritor, e assessor da Liderança do PT no Senado Federal
Dom Tomás Balduino – Arcebispo de Goiás, morto em 2010.
- Agostinho Neto – Poemas de Angola – líder da Revolução com o Moçambicano Jorge Rebelo. (Eu li este poema no livro de Agostinho – daí dar-lhe o crédito).