A cada dia que se passa os números de infectados e de vítimas fatais aumentam conforme as previsões de especialistas ao redor do mundo inteiro. No Brasil, todos os estados da federação já registram vítimas fatais. Destes, alguns começam a entrar em colapso no sistema da Saúde não sendo suficientes leitos e respiradores, faltando até insumos para os profissionais de saúde. Um cenário alarmante e preocupante que deve ser enfrentado com serenidade, tranquilidade e sobretudo com equilíbrio necessário diante de tal gravidade no qual o planeta se encontra.
Indubitavelmente, mudaremos nossa visão de mundo, de comportamentos e de cultura. Enfim, haverá de ser uma experiência nova o pós-crise sanitária e econômica. Mas, o que de fato mudaremos mesmo numa nova era pós-pandêmica? Muitos anunciarão seus novos aprendizados sonhado da infância: aprender a cozinhar, tocar um instrumento ou apenas ter tido mais tempo para conviver com a família e perceber o quanto os filhos e filhas crescem. Tendo em vista que o “velho mundo” moderno de até 2019, nos roubava até mesmo a convivência familiar.
A evolução da humanidade não ocorre num simples estalar de dedos, é preciso séculos ou milênios para que a sociedades se modelem tal qual a vemos hoje; costumes, rituais e todo o acúmulo de saberes e fazeres. Em tempos de globalização é muito fácil perceber como o coronavírus se dissemina rapidamente por todos os continentes.
Antigamente as pessoas na maioria atribuíam as enfermidades às fúrias dos deuses, eram creditadas aos maus espíritos as causas das doenças, acreditava-se também que para combatê-las seriam necessárias crenças nos anjos de luz e espíritos do bem. Hoje, sabemos que a evolução cientifica e revolução da genética propiciaram descobrirmos bactérias e vírus ou qualquer outro patógeno equivalente.
Mas o isolamento ou distanciamento social (procedimento recomendado para diminuir possibilidade de contágio da COVID-19), aflora inquietudes e fragilidades psíquicas, gerando inseguranças no porvir. Lamentavelmente gera uma oportunidade incrível paro os charlatães de plantão. Que prometem prevenções, curas, conforto e salvação. Falsos médicos, falsos enfermeiros e falsos farmacêuticos.
O perigo está também presente em algumas religiões e seitas ao redor do mundo de maneira universal. Pois, se multiplicam junto aos falsários, pastores e “salvadores” da pátria. E essas armadilhas não se restringem a essa ou aquela classe ou raça .
Há promessas de produtos milagrosos de várias naturezas, o inconsciente coletivo cria arquétipos de uma sociedade saudável, limpa, higienizada e feliz, na qual o bem-estar é gerado a partir de pseudo sessões travestidas em cultos de adoração ao sagrado, ao divino em busca da salvação e redenção.
Mas como nos alerta a filósofa Marilena Chauí, na obra Servidão Voluntária e Manifestações Ideológicas, ao interpretar um texto de Ètienne De La Boetie (O Discurso da Servidão Voluntária), propôs ele o pensador francês do séc. XVI, entender porque o “tiranizado” aceita o tirano, posto que ele humilha, oprime e domina. Para ele, cada um de nós (ou parte) temos um tirano dentro de si e nutrimos um desejo de dominar o outro. Assim, nos submetemos aos poderes autoritários. A sociedade ou parte dela clama por ordem, segurança, militares e polícia em vez de democracia e liberdade. Ou seja, o desejo totalitário se torna latente por um comportamento inerente de uma cumplicidade.
Existe inúmeras representações como por exemplo; o gesto de “fazer arminha”, quebrar uma placa com o nome de uma parlamentar que fora brutalmente e covardemente assassinada, tornam-se expressões banalizadas daqueles que vibram por toda e qualquer violência perpetrada e ao mesmo tempo ancorada em princípios com características fascistas.