A última Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do DIEESE, divulgada nos últimos dias pela Companhia de Planejamento (CODEPLAN) do Distrito Federal, indica o que já denunciávamos desde quando da aprovação da malfadada Reforma Trabalhista, ainda em 2017. A rigor, o cenário de aumento do desemprego no Brasil, e também no Distrito Federal, é desdobramento natural da queda da atividade econômica em todos os setores, mas aqui no DF esse impacto custou mais a aparecer em decorrência dos empregos no setor público que, mais blindados da crise que se iniciou ainda em 2015, animavam também os outros setores de atividade econômica da capital.
A taxa de desemprego total no DF atingiu a marca de 20,7% dos moradores da cidade, o que representa quase 350 mil brasilienses sem emprego. Esse índice atinge o pico de 30% da população nas regiões mais pobres de Brasília, como no Itapoã, Estrutural, Paranoá e Recanto das Emas. A promessa de geração de empregos da Reforma Trabalhista de Temer, aprofundada pelas medidas econômicas de Bolsonaro, nunca chegaram a capital do país, assim como não chegaram a nenhuma parte do Brasil. No Distrito Federal, esse quadro se intensifica com o abandono da política de fortalecimento do Estado e dos serviços públicos que, reproduzidos pela política de Ibaneis, gerou uma forte diminuição na realização de concursos públicos.
O mais grave desse quadro de brutal desemprego, no entanto, é que esses números não mostram ainda o impacto da pandemia do Coronavírus em nossa cidade. Um retrato mais exato e real do desemprego no DF só sairá na próxima pesquisa da PED/DIESSE, nesse mês de junho. E as taxas de desemprego, que já vinham em uma tendência de forte crescimento, vão escancarar os efeitos da histórica desigualdade social na capital do país. Estimativas mais pessimistas dão conta que, em muitas regiões do Distrito Federal, especialmente nas mais pobres, teremos um quadro de mais da metade dos moradores dessas regiões em situação real de desemprego. Legiões de trabalhadores, pais e mães de famílias, estarão em breve sem emprego.
Esse cenário catastrófico será resultado direto do fechamento de inúmeros postos de trabalho no setor de comércio e serviços, em especial pelo fechamento de bares, restaurantes e pequenos comércios nas cidades. A pandemia já indica um aumento vertiginoso no número de homologações dos sindicatos nas demissões que estão a ocorrer nesses setores. É cada vez mais urgente que os governos do DF e federal se esforcem em viabilizar a concessão do auxílio emergencial de renda básica a todos que dele necessitem. Esse quadro alarmante de desemprego e absoluta falta de renda traz, via de regra, aumento nos índices de violência nas regiões mais ricas da cidade, habitadas por quem acredita, usualmente, estar imune a isso tudo. O enfrentamento à pandemia deve, assim, considerar, por parte dos governos, o amparo necessário às pessoas que estão sendo afetadas, sem piedade, pelo sumiço dos postos de trabalho em nossa cidade, em especial os jovens e negros mais pobres de nossa cidade.
Os sindicatos de Brasília estão atentos a essa realidade e, para além do trabalho de apoio às populações mais vulneráveis de nossa cidade, continuam a insistir no trabalho de organização e conscientização da classe trabalhadora, além de denunciar incessantemente esse quadro desolador a nossos governantes e exigir medidas de enfrentamento a essa triste realidade.
Rodrigo Rodrigues é professor de História da Secretaria de Educação do DF e atualmente presidente da Central Única dos Trabalhadores do DF – CUT/DF.