No último dia 04 de junho, o governo Bolsonaro escandalizou a todos os brasileiros quando, em plena crise sanitária que o Brasil atravessa, com desdobramentos graves também no campo social e econômico, decidiu tirar recursos do Programa Bolsa Família, destinados originalmente para os Estados da região Nordeste, para aplicar em ações de propaganda governamental. Enquanto todos estão preocupados em como manter o emprego, o salário e a renda dos trabalhadores, o governo Bolsonaro escancara, mais uma vez insensível, o seu projeto de poder voltado para os ricos. Definitivamente, é um governo que nutre, por suas políticas aplicadas, uma ojeriza aos mais pobres. Não gosta sequer de com eles conversar, diante do cada vez mais explícito pouco espaço de diálogo com a sociedade.
Passado o período de promessas típicas das campanhas eleitorais, todo governante se revela a partir das prioridades que assume em seus governos. O governo Bolsonaro explicita as suas prioridades, cotidianamente, com suas ações políticas. A transferência de recursos do Bolsa Família para a Secretaria de Comunicação da Presidência da República foi somente o coroamento mais recente dessa agenda que tomou o poder no Brasil a partir de uma enxurrada de notícias falsas (fake news) nas eleições de 2018. O montante que sairia do bolso dos brasileiros para as agências de propaganda do governo seria de quase 84 milhões de reais.
A repercussão da sociedade contra essa absurda medida de Bolsonaro e sua equipe econômica, capitaneada pelo neoliberal Guedes, ministro da Economia de seu governo e, certamente, uma das figuras mais nefastas e insensíveis aos pobres do nosso país, conseguiu se fazer ouvir pelos órgãos de controle do Estado brasileiro. Apenas 5 dias depois, no último dia 09 de junho, resultado de um pedido do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), o governo recuou de mais uma de suas atrocidades e revogou a Portaria que autorizava o repasse de R$ 83,9 milhões de reais do programa Bolsa Família para a propaganda do governo. Sob argumentos estapafúrdios, a equipe econômica disse que como o povo estava recorrendo ao Programa Emergencial de Renda Mínima de 600 reais, valor esse que só foi alcançado em função da ação dos partidos de oposição no Congresso Nacional, já que o governo Bolsonaro queria conceder apenas 200 reais, esse dinheiro estaria parado nas contas governamentais. O absurdo das mentiras continua mesmo depois do fim das eleições!
Esse ato cruel do governo Bolsonaro foi revogado em decorrência da repercussão de amplos setores da sociedade brasileira, inclusive da imprensa. Mas a intenção de sua ação ficou para explicitar a todos, mais uma vez, que o Brasil ocupa as piores posições no mundo, tanto nos casos de contaminação do novo Coronavírus como pelas mortes por ele causadas, porque tem um governo cruel com as expressivas maiorias de nosso país. O enfrentamento à pandemia no Brasil está encontrando enormes dificuldades porque temos um governo que faz a opção de governar somente para os ricos. Toda a sua política econômica pauta essa agenda: retirar recursos das políticas públicas de saúde, educação e assistência social para escoá-los às mãos dos setores privados. Trata-se de um governo que trabalha deliberadamente para fomentar a captura de nosso orçamento público por grupos privados e para ações em que o trabalhador e o povo mais pobre não são prioridades.
Todo esse conjunto de escândalos, quase que diários, vem para nos mostrar que não nos interessa hoje somente a saída de Bolsonaro do poder. O esforço do conjunto dos movimentos sindical e social brasileiros deve ser o de pôr fim a todo esse governo e suas políticas genocidas. Não basta Bolsonaro sair e deixar essa política econômica intacta, como o querem setores da elite brasileira que, apesar do apoio a Bolsonaro em 2018, hoje percebem que entraram em uma canoa furada. O campo político popular do Brasil deve firmar convicção de que só nos interessa uma frente ampla que garanta e assegure a derrota definitiva de todo esse projeto de poder que chegou ao Brasil em 2018 e que, em continuação com as medidas do governo Temer, desde 2016, nunca colocou os pobres e os trabalhadores como prioridades em sua agenda política.