A economia solidária, sendo um conjunto de atividades econômicas dentro duma perspectiva da autogestão onde se dá o cooperativismo e desenvolvimento social, no estado do Tocantins tem as mulheres como protagonistas.
A maioria vindo da agricultura familiar, participam tanto do processo de produção, como da organização, ocupando cargos de presidentes das cooperativas e associações, no próprio Fórum de Economia Solidária, no Conselho Estadual de Economia Solidária, como também são representantes comunitárias na área da saúde, no Conselho de Segurança e no Conselho de Desenvolvimento Rural.
No início o intuito era apenas garantir renda para o sustento familiar, no entanto essas mulheres começaram a perceber a sua importância na autogestão e nas próprias relações sociais, e não somente no processo de produção. Buscaram informação e formação, se debateram com questões que até então não tinham na sua prática cotidiana e o crescimento foi inevitável. Aprenderam a como se organizar dentro de cooperativas, conhecimento que foram repassando para outras companheiras, criando uma rede de mulheres. A luta dessas mulheres na economia solidária vem demonstrando para uma sociedade machista, onde impera o coronelismo, o poder da mulher ruralista em grandes espaços de lideranças.
A partir do momento que reconhecem sua importância na sociedade, e começaram a discutir políticas Públicas, mulheres agroextrativistas da Área Estadual de Proteção Ambiental (APA Cantão), as quebradeiras de coco, as quilombolas, as agricultoras familiares, envolvidas nesse processo da economia solidária, buscaram trabalhar de forma democrática, visando sempre o bem coletivo e não o lucro individual, passaram a ter uma visão de empreendedoras, de cooperativismo e solidariedade, são capazes de juntas transformarem um sistema em todos os locais por onde elas passam, seja na economia solidária, nos movimentos de agroecologia, nas associações, cooperativas, seja na discussão de políticas públicas ou no processo das comunidades tradicionais e da própria biodiversidade no nosso país.
Um dos exemplos de economia solidária desenvolvida no interior do estado é o Fundo Rotativo Solidário, criado a partir da necessidade das mulheres, da Colônia de pescadores de Miracema (TO), organizarem suas atividades na pesca e venda dos produtos adquiridos com a atividade. Foram organizados bazares com produtos usados e com a renda formaram o FRT (Fundo Rotativo Solidário). A cada empréstimo, as mulheres se comprometem a devolver o valor e fortalecer o Fundo.
Onde tudo começou
A criação da Associação de Mulheres do Assentamento Santo Onofre em Ponte Alta- TO, narrado pela presidenta Raquel Pinheiro.
Em 2006, quando nós chegamos no Assentamento Santo Onofre e Santa Tereza, vivemos no acampamento, durante dois anos, até que eu e uma companheira tivemos a ideia de criarmos um grupo para trabalharmos com o capim dourado e artesanato, fomos de barraca em barraca chamando as companheiras, muitas não acreditaram, primeiramente criamos um grupo de cinco mulheres, em dois meses já tínhamos um grupo com dezenove mulheres, foi quando decidimos construir a associação.
Procuramos parceria com Sebrae, mas não obtivemos retorno. Ficamos sabendo de um projeto aqui no Tocantins, na geração de renda na região do Cantão e Jalapão, tinha também o Instituto Brasil Ásia, que buscavam associações para fazer um projeto com a fundação Banco do Brasil, porém quando procurado Paulo Cesar, coordenador do projeto, fomos informadas de que as vagas já haviam sido preenchidas, ficando assim na lista de espera.
Por sorte fomos contempladas depois de muita espera, tivemos a ajuda de uma advogada para constituir a associação de mulheres, o que era exigido pelo projeto. Desde a criação sempre trabalhou nos princípios da economia solidária, que é da autogestão, onde se elege uma diretoria, um Conselho fiscal, as eleições acontecem de dois em dois anos.
Depois do cadastro no Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA começamos a participar das feiras de agricultura Familiar e Economia Solidaria, já participamos de feiras no Rio de Janeiro, em Brasília e no Rio Grande do Sul.
A nossa associação começou a ter nome. Mulheres assentadas da reforma agrária que viviam em situação de vulnerabilidade, mas que estavam ali, não desistiram em momento algum.
Sempre tem seus momentos de crise, como qualquer empreendimento, mas nós estamos firmes e fortes. Agora, mesmo nesse tempo de pandemia, a gente tá se virando da forma que pode.
Em Tempos de pandemia
A feira de agricultura familiar e Economia Solidária do Município de Ponte Alta do Tocantins é gestado por mulheres, elas são as maiores protagonistas na produção e comercialização. A Feira teve início em 2019, acontecendo todos os domingos em espaço público e com logísticas cedidos pela prefeitura.
Uma parceria entre representantes dos empreendimentos locais, e das agricultoras familiares, junto a instituições como, Ruraltins, sindicato dos Trabalhadores Rurais, Conselho de Segurança alimentar, vigilância Sanitária do Município e a prefeitura Municipal em parceria com o projeto ECOSOL Territorial/SETAS Tocantins, com apoio de artistas e da Comunidade local.
Mensalmente acontecem as reuniões entre as instituições e os expositores da Feira, nessas reuniões acontecem palestras, avaliações, motivações e geralmente as instituições apresentam novos projetos.
Devido orientações de distanciamento social, nos adaptamos para continuar produzindo e para que essas mulheres não perdessem sua fonte de renda; a feira passou a atender por delivery, seguindo essa metodologia: criamos um grupo de whatsapp para comunicação mais próxima com o consumidor, dessa forma mapearam os consumidores locais e esses fazem os pedidos do que precisam pelo aplicativo e os produtores fazem as cestas e entregam os produtos nas casas dos consumidores – relata Raquel Pinheiro, protagonista da Feira de Agricultura Familiar e Economia Solidária do Município de Ponte Alta do Tocantins.
Luciana Pereira de Souza é especialista em Gestão pública e Sociedade com ênfase em Economia Solidária Pela UFT