A DERROTA DO IMPEACHMENT FACILITARIA O GOLPE
Boa parte da UDN, o principal partido de oposição, achava que o pedido não tinha sentido, mas um dos maiores líderes do partido manteve-se intransigente – o Brigadeiro Eduardo Gomes. É o que diz John W. Foster Dulles em sua biografia de Carlos Lacerda:
– Afonso Arinos … encontrou Eduardo Gomes inflexível na exigência de que o líder da UDN no Congresso [apoiasse a proposta de impeachment de Getúlio.]. Afonso Arinos disse ao Brigadeiro que o impeachment não era o caminho certo a seguir e que o projeto provavelmente seria recusado, beneficiando o Presidente. O Brigadeiro insistiu.
Afonso Arinos conta como foi:
– Foi o Brigadeiro que me pediu, pessoalmente, que encaminhasse o requerimento. Eu disse a ele: “Brigadeiro, é completamente impossível. Esse recurso nunca deu resultado, mesmo quando era recomendável. Todas as tentativas feitas durante a República fracassaram. Não há justificativa alguma para o que o senhor está querendo que eu faça, é uma aventura. O senhor está me mandando chefiar uma aventura destinada ao fracasso.” Ele falava sempre por meias palavras – não por sutileza, mas por reserva militar – e me disse: “Mas dr. Afonso, isso é preciso.” Insistiu, insistiu, e da última vez chegou a ir à minha casa em Petrópolis. Ficou pedindo, pedindo, e afinal me disse: “Isso é necessário para que se forme, no meio militar, a consciência de que não há solução legal”. Aí, descobri o jogo.
O Brigadeiro queria que o impeachment fosse derrotado – e quanto maior a derrota melhor – para convencer militares ainda indecisos (ou contrários a Getúlio mas defensores de seu afastamento por meios legais) de que não existia a possibilidade de acabar com ele a não ser por um golpe militar, como acontecera na derrubada de seu primeiro governo, em 1945.
De acordo com o desejo do Brigadeiro Eduardo Gomes, que fora derrotado por Getúlio na eleição presidencial de 1950 e antes pelo candidato apoiado por Getúlio, o General Eurico Dutra, na de 1945, o pedido de impeachment foi votado no plenário da Câmara na sessão de 16 de junho e rejeitado por 136 a ridículos 25 votos. Com esse resultado, ficava muito mais fácil arregimentar apoio militar para o golpe.
(Continua… Na 4ª parte, “Por 6 a 2 o Supremo confirma o salário mínimo”)
*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.