O país pega fogo, não apenas na Amazônia, como no sudeste e centro oeste. O impacto na economia vai ser grande, mas ainda não temos como mensurar. Ainda não temos culpado, mas com certeza a culpa não é da natureza. O Brasil tem sido palco de várias fakenews há tempos, muitas delas institucionalizadas, foi notícia a dias, uma senhora senadora disse que são os brigadistas que colocam fogo no mato, na floresta e no cerrado.
A nova situação do clima não é fake, pelo contrário, é uma radical mudança em todo o mundo, ou seja, estamos em uma nova era do clima e não sabemos nada do que pode acontecer, mas como disse Carlos Nobre: “estou apavorado”. Eu, estou em pânico, não apenas por mim, mas sobretudo pelos mais vulneráveis, são eles que mais sofrem.
Os alertas foram dados, assuntos como desenvolvimento sustentável, mitigação às mudanças climáticas, educação ambiental, reed, reflorestamento e adaptação às mudanças climáticas não produziram resultados e efeitos no comportamento da sociedade, pelo contrário, aqueles que reclamaram e alertaram foram chamados de eco-chatos, xiitas climáticos, radicais, comunistas, contra o desenvolvimento…
Sabemos que o poder econômico e a elite econômica mundial, local e regional, não permitiu e não permitirá que nada seja feito. Mas, é importante destacar que a acumulação da elite econômica foi proporcional ao agravamento dos impactos ambientais: quanto mais a elite acumulava mais os problemas ambientais se agudizavam, como exemplo, 1% da população mais rica mundial concentra 38% da renda (2022) e muito maior do que na década de 1980; os 10% mais ricos do Brasil controlam 59% da renda nacional (2022).
Não podemos culpar a natureza pelas mudanças do clima. As modificações são resultado da readaptação aos novos parâmetros dos biomas e dos parcos ecossistemas, por isso temos um novo normal. Até este momento não há preocupação com esse novo normal por parte da sociedade, mesmo especialistas de primeira grandeza, tais como Carlos Nobre e Paulo Artaxo estejam alertando que o momento é grave, não há movimentação da sociedade.
O momento é de eleição municipal e a campanha é o time de discussão dos caminhos para as cidades, mas não há nenhuma preocupação com o Meio Ambiente e, tampouco, nenhuma preocupação com adaptação as mudanças climáticas; ouvi de uma articulista que é um absurdo as eleições não tratarem de meio ambiente. Ou seja, meio ambiente ou adaptação às mudanças climáticas são negligenciados por todos, é isso mesmo: negligência e que pode cobrar preços altos da sociedade.
Por que estou cobrando dos prefeitos? É simples a resposta, porque é no território do município que as principais ações devem ser feitas, no campo e na área urbana. Me esmero em descrever algumas ações que acredito serem importantes: nas áreas urbanas, é preciso absorver água (já tem a tecnologia da Cidade esponja), alterar a cobertura do solo com tecnologia que absorva água, diminuir asfalto em áreas que podem utilizar outra cobertura para diminuir as ilhas de calor, diminuir o calor com plantio de espécies adequadas ao bioma e ao território, investir em transição energética, com substituição do diesel no transporte de passageiros, público e escolar, atuar em eficiência energética e conservação de energia, tratar água e esgoto, também recuperar as matas ciliares, fazer mapeamento das áreas vulneráveis a alagamento, retirar a população que estejam em áreas inadequadas.
Nas áreas rurais, os municípios devem fazer articulação local e nacional para recuperar as áreas degradadas e as matas ciliares, eliminar o desmatamento, auxiliar na transição ecológica para eliminar o uso de insumos químicos na produção agrícola, mapear as populações que estão em áreas inadequadas, sem esquecer de eliminar as queimadas, as áreas de garimpo ilegal e a grilagem de terra.
Não é fácil, mas é urgente e se não fizermos nada no futuro será bem pior.
Ações no município produzirão cidades mais acolhedoras e sustentáveis, sobretudo, mais preparadas para defender a sociedade frente aos efeitos das mudanças climáticas.
Temos que agir rapidamente para que os desastres não se tornem normalidade. Porque até hoje a elite ficou com mais “grana” com o aumento dos impactos ambientais. Mas, também, não podemos cair da armadilha de dizer que quem coloca fogo no Brasil são os brigadistas.
(*) Artur de Souza Moret, físico, doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos é pesquisador amazônico em Energia Renovável. Marxista, Ambientalista, Pacifista e anti Capitalista.