O tabuleiro político visando a corrida presidencial de 2022 complica-se com o passar dos dias, como mencionei em artigo anterior. Se até antes das denúncias de corrupção envolvendo negociações para compra de vacinas contra Covid-19 a situação do presidente da República era difícil e complexa, com a revelação dos escândalos seu projeto de reeleição sofre um duro golpe.
Jair Messias Bolsonaro foi eleito à sombra do discurso de combate à corrupção e até recentemente ousava afirmar que em seu governo não havia um só escândalo envolvendo cobrança de propina.
Sem conseguir cumprir as promessas de campanha e avançando reiteradamente nos últimos dois anos no campo dos crimes de responsabilidade, o presidente se viu obrigado a aliar-pedir socorro ao Centrão, grupo político do qual fez parte enquanto parlamentar.
Alvo de dezenas de pedidos de impeachment, todos estacionados na Câmara dos Deputados à espera de um sinal verde, Bolsonaro precisou se render à “velha política” para salvar o próprio mandato.
No primeiro momento a aliança com o Centrão não produziu tantos ruídos, mas por questão de segurança o Palácio do Planalto preferiu trabalhar nos bastidores para garantir a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado.
Com o progressista Arthur Lira no comando da Câmara e o democrata Rodrigo Pacheco à frente do Senado, o governo vislumbrou a possibilidade de colocar em marcha o rolo compressor palaciano, aprovando medidas de seu interesse. Para tanto, foi pressionado a lotear o governo, rendendo-se à voracidade de grupos políticos.
Como também mencionei em artigo anterior, uma democracia jovem como a brasileira não suporta três processos de impeachment em tão pouco tempo. Não estou a defender o cometimento de crimes de responsabilidade e outros delitos, mas é preciso pensar nas consequências, principalmente para a parcela desassistida da população.
Com a reverberação dos escândalos envolvendo a compra de vacinas, aliados do presidente da República não demorarão muito a “abandonar o barco”. Lealdade no universo político tem prazo de validade curto e depende do cenário do momento.
No último final de semana, onze partidos fecharam questão contra o voto impresso, um dos esteios de Bolsonaro para ameaçar a democracia. Essa reunião ressaltou a necessidade de correção de rota por parte do governo, caso queira chegar até 31 de dezembro de 2022.
Entre os partidos que participaram do encontro virtual, alguns são da base de apoio do governo. Em outras palavras, Bolsonaro não terá vida fácil daqui para frente.
Por outro lado, causa estranheza o silêncio e o quase “sumiço” do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), eleito com o apoio declarado do Palácio do Planalto e a interveniência do antecessor, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que também submergiu.
Pacheco tem planos políticos que vão além do comando do Legislativo federal, como citei em texto anterior. O fato de o presidente do Senado estar distante dos holofotes permite conjecturas das mais distintas, dentre as quais uma candidatura a vice em chapa lidera pelo petista Lula.
Para isso, Rodrigo Pacheco teria de trocar de legenda. Um desembarque no PSD não deve ser descartado, já que o presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, já anunciou que a agremiação terá candidato ao Palácio do Planalto no próximo ano.
Nos bastidores da política é voz corrente que Kassab está fechado com o ex-presidente Lula, o que abre caminho para Pacheco fazer dupla com o petista.
No enxadrismo eleitoral que ora se apresenta, assim como nos anteriores, nenhum político está disposto ao abraço dos afogados. Como disse o cantor Renato Russo, “é o ter com quem nos mata a lealdade.”
Tapinhas nas costas e declarações de apoio valem até o momento em que o futuro de cada um dos atores não seja comprometido. Resumindo, “amigos, amigos, política à parte”.
Para finalizar, recorro ao ilustrador britânico Martin Handford, que criou a série de livros infanto-juvenis “Onde está Wally”, e deixo uma pergunta que não quer calar: Onde está Rodrigo Pacheco?
(*) Waldir Maranhão