O SETOR AGROPECUÁRIO
O planejamento de estratégias com modelos alternativos para os atuais sistemas de produção deve ser elemento obrigatório na agenda do setor agropecuário na Amazônia Legal. Atividades de reflorestamento precisam ser vistas como alternativas ao produtor rural, mas para que isso aconteça é necessário que todo o sistema de apoio a esse modelo de empreendimento, especialmente o de crédito, repense seu posicionamento para viabilizar novos modelos sustentáveis de organização das propriedades. Trata-se de uma proposta que procura consolidar a atividade agropecuária como segmento efetivamente comprometido com a sustentabilidade de suas cadeias produtivas.
O princípio básico é mudar a estratégia de discussão do desenvolvimento do agronegócio na região amazônica, especialmente com os produtores rurais, objetivando proporcionar alternativas de investimento que gerem aumento da renda do produtor e estimulem a opinião pública regional a rever seus conceitos quanto ao real valor e importância da produção rural para a estabilidade econômica, social, ambiental e política da Amazônia e, conseqüentemente, do país.
É preciso quebrar o atual paradigma de exploração dos recursos naturais, com a busca de um novo processo de exploração, com respeito aos critérios de zoneamento agro-econômico-social, e aprimoramento do manejo para a geração de externalidades mínimas ao meio ambiente. Ao mesmo tempo, é preciso viabilizar a agropecuária como instrumento de trabalho rentável para produtores e trabalhadores rurais, aproveitando as vantagens comparativas da atividade rural no Brasil.
A interação entre representantes do governo nas esferas Federal, Estadual e Municipal, agentes do sistema financeiro, instituições de pesquisa, ensino e extensão, representantes do setor e organizações não governamentais na elaboração de um programa dessa natureza é condição sine qua non para o alcance dos resultados esperados.
A parceria com instituições de ensino, pesquisa e extensão também é de importância vital para gerar subsídios técnicos para as decisões dos stake holderes (produtores rurais, agentes financeiros e instituições governamentais). As atividades sob fomento devem ser economicamente viáveis, aumentando a diversificação da utilização da propriedade rural e, por sua vez, a possibilidade de renda por meio de florestas plantadas, manejadas e exploração do mercado de comoditties ambientais.
Os tradicionais agentes financeiros que apóiam o setor agropecuário na Amazônia Legal, incluindo as holdings, devem rever seus critérios de financiamento, adequando-os na medida do possível ao Protocolo Verde, ao Pacto do Equador e à Resolução n° 3545 do Conselho Monetário Nacional.
É necessário sensibilizar lideranças rurais e produtores da região para a importância de uma nova visão de desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal e criar projetos específicos para determinados nichos de mercado, potencializando o uso das áreas já desflorestadas para reduzir a pressão de desmatamento sobre as áreas de florestas nativas.
Os principais obstáculos são o esclarecimento das questões técnicas de exploração da região e a obtenção de fontes de recursos para implementação de projetos que deverão rever todo o modelo atual de exploração, aproveitando seus pontos fortes e eliminando as fraquezas do sistema. É preciso buscar um modelo adequado ao quadro sustentável que se deseja para o setor.
Um programa de reflorestamento deve ser desenhado de modo a disponibilizar as condições necessárias para mais de uma alternativa de geração de renda para o produtor rural amazônida, com a identificação de espécies viáveis técnica e economicamente e com recursos articulados nas instituições financeiras, baseadas nos critérios anteriormente descritos.
O manejo é outra atividade que deve inserir o produtor rural num modelo de gestão sustentável dos recursos naturais de sua propriedade rural. Os principais objetivos dessa atividade deverão estar focados na introdução de técnicas de manejo integrado de solos, pragas e doenças; geração e difusão de técnicas de manejo florestal, como alternativa de aumento de renda; sensibilização dos produtores rurais, de suas famílias e dos trabalhadores para o novo paradigma de desenvolvimento sustentável da atividade rural; bem como a sua capacitação nas áreas específicas de produção florestal.
A inclusão nas pautas das discussões do setor rural da Amazônia Legal na questão dos novos mercados das comoditties ambientais é alternativa que se justifica principalmente a partir da ratificação pelo Governo brasileiro do Protocolo de Quioto. Os projetos deverão sensibilizar os produtores rurais para os novos mercados de comoditties ambientais e demonstrar suas potencialidades; negociar nos mais diversos fóruns nacionais e internacionais a questão das comoditties ambientais como instrumento financiador dos produtores rurais; trazer para a categoria, através dos seus órgãos representativos a discussão do tema, uma vez que são os produtores rurais hoje os detentores das áreas potenciais para a implantarão de projetos voltados ao MDL.
A expectativa que se cria é de desenvolvimento das condições mínimas de manutenção das empresas agropecuárias amazônidas, sustentando ou ampliando os níveis de emprego, gerando renda e atendendo às exigências de sustentabilidade do ciclo produtivo. Percebe-se o interesse do setor em se enquadrar em sistemas produtivos equilibrados, que permitam a produtores e trabalhadores rurais permanecerem em suas regiões de forma digna, crescendo e expandindo suas atividades de acordo com seu potencial real de competitividade, focado na visão de que a riqueza e a diversidade biológica da região sejam vistas como bandeiras de apresentação dos produtos amazônidas, e não como obstáculos à sua produção.
João Bosco Campos é, Jornalista, Administrador de Empresas, Tecnólogo em Agricultura Familiar e Sustentabilidade, Especialista em Desenvolvimento Territorial, Palestrante, Master Coach.