SETOR ENERGÉTICO
A eficiência como estratégia
O aumento da eficiência no transporte e distribuição de energia elétrica pode ser uma primeira estratégia para assegurar um aumento da disponibilidade de energia nos estados da região e no Brasil.
Trata-se de incorporar medidas e procedimentos com vistas à redução das perdas técnicas que hoje em dia caracterizam os sistemas energéticos. Sabe-se, conforme dados sistematizados pela Agência Internacional de Energia, que os países da América Latina apresentam perdas da ordem de 12% a 18% desde a geração de eletricidade nas usinas, passando pelas linhas de transmissão e redes de distribuição até chegar à tomada do consumidor final. No caso do sistema elétrico brasileiro, estima-se que estas perdas sejam da ordem de 15%.
Se fosse adotado pelo Brasil um índice de perdas de 6%, considerado como padrão internacional, o sistema elétrico teria um acréscimo de disponibilidade de energia de 35 milhões de MWh, equivalente ao que produz durante um ano uma usina hidrelétrica de 7.000 MW de potência instalada, ou seja, mais da metade da Usina de Itaipu, que possui 12.600 MW.
Os custos necessários para promover essa redução das perdas consistem, basicamente, em melhor isolamento nas linhas e na substituição de equipamentos antigos ou defeituosos, ações que não têm sido feitas na freqüência e na amplitude que a atual situação exige, mas que poderiam propiciar um acréscimo na disponibilidade de fornecimento de energia sem inundar terras ou expulsar populações que vivem às margens dos rios barrados para a construção das usinas hidrelétricas.
Segundo este mesmo princípio do aumento da eficiência, uma segunda estratégia consiste na repotenciação das usinas já instaladas. Estima-se que o sistema elétrico brasileiro pode alcançar um acréscimo de potência da ordem de 6.800 a 8.000 MW, resultante da reabilitação, reconstrução ou promoção de reparos nas usinas hidrelétricas existentes, e que operam há mais de 25 anos. Este ganho de potência pode ser obtido com custos reduzidos em comparação com os custos de novas usinas (em torno de 1/3, podendo chegar a 1/5 dos custos de um novo kW instalado). Se a repotenciação não interferir no nível do reservatório, não aumentando a cota de operação, serão cerca de 8.000 MW a serem obtidos sem impactos sociais e ambientais como ocorrem na construção de usinas novas.
As chamadas energias renováveis (biomassa, eólica, pequenas hidrelétricas, solar e geotérmica) devem ser entendidas como complementares, pois não têm a capacidade de substituir completamente o atual perfil de oferta existente. Este limite decorre do caráter de intermitência que caracteriza estas fontes. Elas não estão sempre disponíveis, o que relativiza sua maior utilização. As possibilidades de maior disseminação das energias renováveis na região devem necessariamente vir acompanhadas de uma mudança de concepção dos sistemas energéticos existentes, dando lugar à geração distribuída, promovendo a diversificação da matriz energética e beneficiando atividades econômicas locais promotoras de trabalho e renda.
João Bosco Campos é jornalista, Administrador de Empresas, Tecnólogo em Agricultura Familiar e Sustentabilidade, Especialista em Desenvolvimento Territorial, Palestrante, Master Coach.