Olhando com clareza a questão ambiental brasileira me vem à cabeça um ditado que se aplica a encruzilhada que a sociedade está imersa. Quando estamos em situação difícil diz-se “estar em palpos de aranha” que significa “estar em situação complicada, premida pela urgência de encontrar uma saída”, uma situação difícil, de complicada explicação e de saída nebulosa.
Para tentar achar uma luz no túnel, não quero chegar ao extremo de usar outro ditado de que “há luz no fim do túnel”, porque ter luz no fim do túnel quer dizer que vai aparecer solução, mas muitas vezes demora muito até chegar ao final, do túnel.
Fiz um exercício de modernidade (não que eu seja moderno), mas utilizei a Inteligência Artificial para perguntar o seguinte: “Qual o quantitativo de candidatos a prefeito no Brasil, em 2024 que tratam de questões ambientais?”. As respostas foram interessantes, primeiro que somente foram apresentados os dados das capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte. Segundo, “aproximadamente 60-70% dos candidatos das capitais brasileiras, em 2024, mencionam algum aspecto de sustentabilidade, embora a profundidade e especificidade dessas propostas variem amplamente…” Em terceiro: ”a maioria das propostas ainda é voltada para infraestrutura, como sistemas de alarme, defesa civil e projetos de arborização, com poucos compromissos explícitos para redução de emissões ou enfrentamento direto das mudanças climáticas…” Por fim, quando perguntei informações sobre o interior do Brasil, a resposta foi mais vaga, mas dá indícios do que se avizinha: “Em cidades do interior do Brasil, candidatos a prefeito em 2024 estão abordando questões ambientais, embora com limitações de recursos e apoio institucional. Municípios de pequeno porte enfrentam dificuldades para implementar políticas robustas devido à falta de autonomia financeira e técnica”, justificou-me a IA.
Um quadro foi apresentado pela IA e pode ser acessado no link a seguir: https://drive.google.com/file/d/1VC6zJwGKiNe8Zp87oji4J_tmhO4kbpAR/view?usp=sharing
Me atrevo a dizer que a IA está aumentando o preconceito com os territórios que não são do centro sul do Brasil, porque fiz a pergunta de todo o Brasil e a resposta que veio foram apenas quatro capitais (04) capitais, e as outras? Não existem ou não merecem ser abordadas?; eu acho que falta é inteligência na IA, porque se não olharmos para o interior e aos recantos do Brasil não haverá brazil do agronegócio e nem brazil das indústrias poderosas dos grandes centros, porque os recursos naturais vão escassear.
Antes de tratar dos dados da IA quero apresentar uns números interessantes do quantitativo de cidades em relação à população no Brasil: acima de 1 milhão de habitantes são 22 cidades, o que corresponde a 0,4%. Entre 500 e 1 milhão são 33 cidades, o que corresponde a 0,6%. Entre 100 e 500 mil habitantes há 390 cidades no Brasil, que corresponde a 7% e entre 20 e 100 mil moradores há 1.337 cidades brasileiras, correspondentes a 24% e até 20 mil moradores há 3.788 cidades, que correspondem a 68%. Ou seja, o país tem maioria de cidades pequenas e médias, até 100 mil habitantes são 5.125 de um total de 5.570, é muita população para não ser considerada pela IA, se não fosse trágico seria cômico, porque também esta população está desassistida pelo poder público e suscetível aos desastres ambientais.
Voltando às capitais apresentadas, a população destas é de 22,43 milhões e 11% da população total, pode ser uma amostra, mas estatisticamente não é uma amostra representativa e que possa ser expandido para o Brasil. Há um ponto relevante das respostas das capitais é que não há profundidade nas propostas e nas intervenções que podem minimizar os efeitos dos desastres ambientais. Mesmo que a IA tenha tratado de poucas capitais, mas pela importância, é pouco o que está sendo proposto.
Mas, o que há nas capitais? Vejamos. Os planos nas capitais apresentadas tratam de parques, corredores verdes, sistemas de drenagem, mitigação de calor urbano, reassentamento em áreas de risco e sistemas de alerta, expansão de áreas verdes, defesa civil, turismo, saneamento básico e coleta seletiva. A IA nos diz que não tem metas claras para emissões de carbono, pouca ênfase na crise climática e detalhamento ambiental e sem planos abrangentes. E no interior do Brasil? Não são menos graves as informações, trata-se de limitações de recursos, falta de apoio institucional, enfrentam dificuldades por falta de autonomia financeira e técnica.
Ou seja, é muito pouco para a crise climática que estamos vivendo. Nada se fala das mitigações e das mudanças climáticas, ou seja, como adaptar as cidades para encarar o “novo normal”. O que estamos considerando como importante para as questões ambientais no Brasil?
Não há avanços nas capitais e, tampouco, no interior! Estamos vendo e sentindo as crises e os desastres climáticos e estamos imóveis, elegemos gestores que não tratam de Meio Ambiente nos planos de governo. Não quero saber se os governantes são de direita ou de esquerda, qual o gênero, a cor, opção sexual e/ou a crença, o que eu quero reclamar é que todos (a) estão com olhos vedados para a grave situação climática que está posta, os desastres ambientais estão cada vez mais frequentes.
O que está posto é nada perante a crise. Só me resta dizer que estamos em “palpos de aranha”, porque estamos à beira do precipício e não fazemos nada. A IA não vai ajudar a consertar, porque tudo depende do que o homem fizer.
(*) Artur de Souza Moret, físico, doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos é pesquisador amazônico em Energia Renovável. Marxista, Ambientalista, Pacifista e anti Capitalista.
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