Estamos convivendo há mais de quatro meses com a pandemia do novo coronavírus, e com ela, os problemas e as desigualdades sociais que o país já coleciona de longa data vieram à tona. Com essa crise, questões que estavam encobertas com a máscara de que está tudo bem, de país das maravilhas, surgiram com o clamor das minorias, os pobres, os negros, as mulheres, os fragilizados. A corrupção e os desvios de verbas da saúde em plena pandemia mostram uma sociedade que está acostumada a colocar seus problemas debaixo do tapete.
Habermas em seu livro “Conciencia moral y accion comunicativa”, fala da necessidade de uma ética do discurso e uma consciência moral em uma ação comunicativa nas relações com outros e mesmo nas ações governamentais. Ele aponta que vivemos em uma época que nunca foi tão importante o modo de se comunicar com os outros, principalmente a utilização mais frequente das redes sociais, de mostrar no discurso uma argumentação que vai de encontro com a verdade, e não, como fazem, os detentores do poder, sustentando a ideia de que se está fazendo algo para as classes menos favorecidas, se preocupando apenas em sustentar o poder com suas falácias evasivas.
A igreja sempre teve preocupação e cuidado com as pessoas em risco, com as minorias, indo contra os discursos racistas, a favor de uma integração do papel da mulher na sociedade, elevando e dando dignidade ao pobre e respeitando a vida. Em sua doutrina social, a igreja, não somente aponta os problemas sociais mas procura soluções de acolhimento e de elevação da dignidade da sua vida e existência, organizando eventos que promovem a inclusão destas minorias, como fala o Compêndio da Doutrina Social da Igreja em sua introdução, um humanismo integral e solidário e que está a serviço da plena verdade sobre o homem.
Infelizmente, com todos estes acontecimentos vem-nos uma certeza que quem vai pagar a conta mais uma vez é o povo, que procura com sua dignidade fazer a diferença neste mar de lama, ainda mais com o desemprego e a pandemia que insiste em continuar, que está nos levando a uma loucura sem precedentes, em que a diferença é a nossa solidariedade e a esperança de dias melhores. E temos tempo ainda para uma reflexão: com todos estes acontecimentos, o que vamos deixar para as próximas gerações? Espero que não seja o nada!
Gilberto Aurélio Bordini é sacerdote da Arquidiocese de Curitiba, doutor e professor de teologia do Uninter.