Já está em curso sucessão no BC Independente para mudança da política monetária.
O governo brasileiro, como o presidente Lula já reconhece, está na armadilha do tripé neoliberal, que não o deixa promover desenvolvimento sustentável com distribuição de renda capaz de romper com desigualdade social. E o ministro Fernando Haddad desabafou que Neto conversa mais com o mercado que com a Fazenda
O câmbio flutuante, praticado pelo Brasil, compondo o tripé ao lado das metas inflacionárias e do superávit primário, como impõem credores da dívida pública, virou empecilho básico ao desenvolvimento, por conta das oscilações econômico-financeiras internacionais, que impedem queda da taxa de juro, conforme anunciou o presidente do BC Independente, Campos Netos.
Sendo assim, a alternativa é a mudança do câmbio flutuante para câmbio fixo, especialmente, porque o fator externo tende a elevar os juros e os riscos, especialmente, se os Estados Unidos elevarem tarifas de importação sobre a China, como prometem, tanto Joe Biden como Donald Trump, em disputa presidencial americana.
O câmbio fixo, ao contrário do câmbio flutuante, dará maior margem de manobra ao presidente Lula, na medida em que, abrasileirando a política cambial, como faz com os preços dos derivados do petróleo, terá maior margem de controle da inflação para promover a industrialização e melhor poder de compra da população.
A sucessão já em curso no Banco Central, comandado por Campos Neto, comprometido com política neoliberal, que freia o desenvolvimento econômico, segurando, propositalmente, a taxa de juro, inviabilizando investimentos, passa a ser objetivo central de Lula.
Direcionando o BC para o desenvolvimento com taxa de juros competitiva para promover renda financeira na produção de bens e serviços, Lula reverterá expectativas econômicas e disporá de maior poder de negociação com o Congresso, onde perde todas as disputas na pauta dos costumes.
NOVO CENÁRIO INTERNACIONAL
As eleições nos Estados Unidos, que perdem a corrida comercial para a China e não têm mais condições de bater militarmente a Rússia, depois da derrota da OTAN-EUA, na Ucrânia, mudam cenário internacional, cujas consequências sobre as economias capitalistas periféricas, como Brasil, serão decisivas.
No contexto da financeirização econômico-neoliberal em crise, as incertezas cambiais serão cada vez mais pronunciadas, afetando, diretamente, a política monetária restritiva imposta pelos credores em nome do combate à inflação, para sustentar juros elevados, como produto direto delas.
O câmbio flutuante, diante do protecionismo imperialista americano, tenderá a variar sem controle do mercado, porque está sendo manipulado justamente pelo mercado controlado pelos oligopólios; é a forma de criar expectativas inflacionárias especulativas.
Os resultados serão, sempre, juros altos monitorados pelo BC Independente, para favorecer o mercado financeiro, em prejuízo dos setores produtivos.
Nesse ambiente, o câmbio flutuante, decorrente do acirramento da guerra comercial EUA-China, pressiona governo, sob arcabouço fiscal neoliberal, a cortar gastos sociais, renda disponível para o consumo, aprofundando tendência recessiva, porque impossibilita expansão da arrecadação, sem a qual não se realizam investimentos que elevam, renda, salários, produção e novos investimentos.
Que fazer senão cogitar da substituição do câmbio flutuante para o câmbio fixo nacionalista, para evitar aceleração da dolarização dos preços forçada de fora para dentro sem controle governamental?
Reverter o modelo neoliberal, que o golpe de 2016 implementou para derrubar o nacionalismo petista social-democrata, a fim de se submeter ao rentismo da Faria Lima.
O triunfo da Faria Lima acelera privatizações dos principais agentes desenvolvimentistas nacionais, como a Petrobrás e Eletrobrás, colocando o país em inevitável dependência externa crescente.
Câmbio fixo inicia trajetória inversa à lógica neoliberal financista cujo instrumento é o câmbio flutuante.
NOVO TEMPO, NOVA POLÍTICA
BC Independente, braço neoliberal da Faria Lima, está na contramão da história, quando insiste na tese furada de que inflação é fenômeno monetário, por dois motivos essenciais: 1 – depois do crash de 2008, quando o BC americano elevou a quantidade da oferta de moeda em circulação, para salvar os bancos, a inflação caiu e a dívida pública se estabilizou, evitando hiperinflação e debacle capitalista; 2 – criou-se outra ordem econômica: gastos estatais com moeda própria, nacional, não provoca inflação nem desestabiliza dívida; e 2 – as reformas neoliberais geraram queda dos salários e redução do consumo, o que atenuou pressões inflacionárias, como se verifica, neste momento, com a evolução do IPCA.
Portanto, o jogo especulativo sustentado pelo mercado financeiro-Faria Lima, comprado pelo BC Independente, para manter Selic elevada, recomenda, no cenário do protecionismo imperialista americano contra a China, substituição do câmbio flutuante pelo câmbio fixo nacionalista, como arma do desenvolvimento sustentável, com melhor distribuição de renda, como prega o presidente Lula.
Foto Brasil 247
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.