Aqui quem escreve é um “não eleito”. Vão dizer que é choro de “derrotado”. Nada disso, aos 71, não tenho mais idade para chorar sobre o “leite derramado”. A verdade é que um terço dos porto-alegrenses negou o processo eleitoral em 2024. Não importam as razões do absenteísmo, de todo modo foi rejeição à política.
Fiquei decepcionado com a votação que fiz, 2406 votos. Outrora, fiz quase 9 mil. Com menos amplitude de campanha. Os tempos eram outros. Neste momento não há espaço para “políticos intelectualizados, com visão abrangente de mundo, dotados daquele humanismo universal que Marx via como a essência superior dos seres”, escreve um amigo meu, que não é do PT. Aqueles tempos acabaram.
Com orgulho me considero um dos resistentes ao “domínio do particular, à visão fragmentada das coisas, da pequenez dos interesses de grupos”, usando os ditos do amigo. Recebi dezenas de recados e uma frase foi recorrente: “perdeu a cidade”. Há anos me preparo para a revisão do Plano Diretor. Estive novato na melhor de suas formulações em 1999, como estive em 2009. Queria estar agora. Não estarei. Lastimo por isso, não só pelo meu preparo, pois em minha volta há os melhores quadros do urbanismo local.
O que será da revisão? Pela força da direita mais radical, pelos amigos do Estado mínimo, pelos adoradores do Capital e das privatizações, salve-se quem puder, o que sobrará de nosso capital? Meu compromisso sempre foi com a verdade e com o livre debate. Agora, sem as amarras do parlamento, sem condições de concorrer mais uma vez, vou tentar trazer à baila todos os temas cruciais da cidade, como pensador.
Vou desagradar os segmentos majoritários da atualidade no parlamento, reflexo da sociedade. E sem “papas na língua” começo uma série de artigos nos quais falarei sempre e cada vez mais de nossa Porto Alegre. Por enquanto “nossa”; amanhã, não sei…
(*) Adeli Sell é professor, escritor, bacharel em Direito e vereador.