A deputada transexual LGBTQIA+, Erika Hilton(PSOL-RJ), e o vereador carioca mais votado, Rick Azevedo, também do PSOL, viraram o foco político nacional depois da eleição municipal.
Erika mirou no exemplo de Rick, balconista do comércio, cuja bandeira – VAT, Vida Além do Trabalho – é a supressão do regime de trabalho semanal 6×1 para os comerciantes, e apresentou Proposta de Emenda Constitucional(PEC) que atende a demanda política de Rick.
O vereador balconista, porta-voz de milhões de comerciários em todo o Brasil, em processo de mobilização, e a deputada trans, com a PEC pró-fim do 6×1 , pegaram o PT e o governo Lula de surpresa.
Agora, os petistas correm atrás do PSOL para pedir carona na PEC anti-6 x1, que está obtendo assinaturas necessárias para tramitar em ritmo que vira fato político mobilizador emergente.
A pressão deve aumentar diante da convocação da categoria em nível nacional, que exercerá pressão forte sobre os congressistas, simpáticos às demandas dos trabalhadores em todos os partidos, de centro-esquerda e de centro-direita, excluindo os fascistas bolsonaristas de ultra-direita.
O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), por exemplo, quer que a deputada Erika apense seu projeto ao dele que reduz de 44 para 36 horas a jornada semanal.
Erika, sabida, fez sugestão contrária: que Reginaldo ligue o projeto dele ao dela.
Afinal, a proposta da deputada carioca ganhou súbita popularidade com chance de escalar nacionalmente o assunto em termos políticos irresistíveis.
O fenômeno eleitoral Rick Azevedo, combustível político que levou a deputada Erika a propor a PEC, amplia-se, exponencialmente, nas redes sociais, cobrindo amplamente a categoria comerciária mobilizada politicamente pelo discurso Erika-Rick.
ABANDONO DO IDENTITARISMO
O foguete político Erika Hilton abandonou a bandeira do identitarismo à qual o PT assume equivocadamente como principal luta a ser travada e ergueu a nova bandeira da esquerda, apoiada pela massa de comerciários em todo o país a favor da supressão da jornada de trabalho 6×1.
Reduzir o tempo de trabalho e ampliar jornada de descanso é a palavra de ordem que ganha corações e mentes em forma de luta de classes.
A tecnologia a serviço da economia permite a todos trabalharem menos com aumento da produtividade tecnológica, para que sejam garantidas redução de jornada com manutenção dos salários contratados.
Erika, que, por ser trans e negra, dispõe, intrinsecamente, da condição de identidade de classe socialmente excluída, fez a autocrítica política pragmática.
A luta de classe é pela conquista de direitos gerais para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, que se evidencia com redução da jornada de trabalho, argumenta ela na PEC
Os socialistas iniciaram no final do século 18 e início do 19 a luta de classe em defesa da redução da jornada de trabalho como sua principal bandeira.
Com essa conquista, elevou-se o volume de emprego e a luta pela valorização do salário ao longo de todo o século 19, fortalecendo a luta sindical.
A luta continua até hoje.
Os trabalhadores do comércio, depois da reforma ultraneoliberal trabalhista bolsonarista-fascista, que roubou dinheiro e direitos dos trabalhadores, tiveram que trabalhar dobrado sob regime de 6×1.
DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE
Sucesso total a mobilização política que a iniciativa da deputada carioca pesolista despertou: ampliação da consciência de classe com propulsão de movimento nacional mobilizador.
O PT está agora correndo atrás do prejuízo por ter deixado escapar das suas mãos bandeira histórica dos trabalhadores, para priorizar a conciliação de classes com o modelo neoliberal rentista antidesenvolvimentista que o levou à derrota eleitoral municipal.
A cúpula do PT levou choque com o movimento de repúdio ao 6×1, que ultrapassou a prioridade conferida ao debate do ajuste fiscal, virando foco político principal na agenda política nacional.
Passeatas e movimentos de mobilização estão sendo marcados em todo o país pelo trabalho desenvolvido pelos parlamentares do PSOL, que arrastam politicamente PT, PC do B, PDT etc.
No parlamento, o PSOL cria a maior expectativa política em torno da captação de assinaturas para a apresentação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC do Descanso remunerado).
O apoio maciço nas redes sociais à supressão do 6 x 1 cria fato político de mobilização de massa que pode atropelar o ajuste fiscal neoliberal do ministro Fernando Haddad.
CAPITALIZAR O APOIO POPULAR
O presidente Lula está diante do dilema: se não apoiar a maior reivindicação do trabalhador para dar prioridade ao ajuste fiscal que reduz renda dos trabalhadores corre o risco de ver minar sua base eleitoral.
Se for um sucesso político a mobilização marcada para quinta-feira pelo PSOL, estará emergindo novas circunstâncias políticas que embaralham as prioridades do governo.
O ajuste fiscal, diante da mobilização social, terá dificuldades de se sustentar, especialmente, agora, que pesquisa de opinião aponta que somente 12% da população considera o governo ótimo.
Esse é ou não o recado para o presidente Lula abandonar o ajuste fiscal neoliberal e capitalizar o apoio da massa que se mobiliza pelo fim do 6X1, fortalecendo sua base social para lutar contra os especuladores da Faria Lima e se fortalecer politicamente para 2026?
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.
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