O triunfo lulista está acontecendo, mesmo diante do ajuste fiscal neoliberal: o emprego em alta com economia crescendo, inflação sob controle, emprego em alta, investimentos previstos por gente que acredita no Brasil e com a industrialização avançando por conta do engajamento do BNDES e dos bancos públicos na oferta de crédito no ritmo de demanda aquecida pela valorização do salário-mínimo etc.
Se houvesse campeonato mundial de expectativas positivas quanto ao funcionamento da economia brasileira, pelos padrões internacionais, era para soltar foguetes e esperar bons resultados na sucessão presidencial em 2026.
No entanto, o mercado financeiro, que domina a mídia e mantém a sociedade em estado de alienação, sem espírito crítico, despossuída de opinião suficientemente própria, vende o oposto.
Criou a narrativa e imagem neoliberais de que a economia vai mal porque a inflação de 4,5%, dentro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional, sinaliza juro alto, para evitar expansão incontrolável do dólar e do déficit.
O país vive susto criado pelo mercado financeiro especulativo.
TUDO ESPECULAÇÃO
A pesquisa Focus, realizada, apenas, com os bancos que manipulam mercado financeiro especulativo, projeta, para gerar efeito a seu favor na reunião do Conselho de Política Monetária(Copom), o pior para levar o melhor: juro mais alto, que deverá chegar à Selic de 11,25%.
Carne para leão.
O aumento da taxa de juro, que não deixa o país crescer, bombeia a dívida pública, maior conta do déficit, que fica oculta na discussão econômica, na grande mídia corporativa, pró-rentismo.
Sobre a maior despesa orçamentária, que é o custo da dívida, na casa dos R$ 800 bilhões, não se fala nada.
Todo o esforço da burocracia tecnocrática do Ministério da Fazenda e do Planejamento se concentra nos gastos sociais, para cortar cerca de R$ 50 bilhões de suas dotações orçamentárias.
Trata-se de dinheiro que jogado na circulação capitalista transforma-se em emprego, desenvolvimento e arrecadação tributária.
É como diz o presidente Lula: não se trata de gastos, mas de investimentos.
Esse argumento presidencial está sendo rasgado pelos operadores do mercado que querem abocanhar as verbas orçamentárias da educação, da saúde, do BPC, do abono salarial, do seguro desemprego, bem como outras verbas de programas sociais, como Farmácia Popular etc, tudo em nome do ajuste fiscal neoliberal.
PAPO FURADO
Teoricamente, eliminados tais gastos haveria, segundo o mercado, equilíbrio na relação dívida-PIB capaz de permitir redução relativa da taxa de juros, e a economia ganhar tração sustentável.
Verdade ou mentira?
Em outras vezes tais argumentos foram utilizados e desmoralizados, porque não passam de ficção no cenário dominante da financeirização econômica.
A economia política dominada pelos rentistas, em escala nacional e global, pois se unem em forma de grandes fundos de investimentos especulativos, baseia-se no mecanismo da multiplicação do dinheiro pelo por meio de expectativas criadas especulativamente.
Dinheiro parindo dinheiro.
São juros sobre juros, juros compostos, como destaca o Instituto Auditoria Cidadã da Dívida, que desvenda o mecanismo da financeirização que se reproduz mediante manipulação da dívida pública pelo Banco Central Independente.
Trata-se de criação de instrumento financeiro sugador das finanças públicas que impede equilíbrio orçamentário satisfatório, para justificar aumento de juros diante dos gastos crescentes do custo da dívida pública.
Pode ocorrer que até se consiga fazer o déficit zero ou superávit primário das contas públicas, como promete o ministro Haddad, cortando despesas orçamentárias obrigatórias determinadas pela Constituição e, ainda assim, as contas públicas não fechem, porque as despesas financeiras crescem em velocidade superior, no ritmo da especulação rentista, no ambiente da financeirização absoluta.
O ARGUMENTO QUE CONFUNDE O PT
Diante desse quadro, o governo está dividido: de um lado, os que consideram o sacrifício fiscal necessário, para não continuar a desestabilização do mercado pela manipulação do dólar, que acelera inflação, e, de outro, os que querem resistência do presidente Lula.
Pregam que o presidente continue com sua tese de que gastos sociais são investimentos, que puxam a demanda global, e não meros gastos administrativos ineficientes, que vão para o ralo, e não contrapartidas como emprego, renda, consumo, arrecadação, produção e investimentos – o silogismo capitalista.
Ou seja, movimento oposto ao que acontece com os gastos com a dívida, já que não dão retorno em forma de novos investimentos para a economia, como denuncia Maria Lúcia Fattorelli, diretora do Instituto de Auditoria Cidadã da Dívida.
Nesse contexto, o PT está confuso no divã de Freud: tende, uma parte do partido, a mais conservadora, parlamentar, ao argumento de que é necessário apoiar o ajuste fiscal, para evitar um surto especulativo sobre a moeda.
A outra parte prega ousadia, que Lula sairá vitorioso porque a economia está crescendo segundo os indicadores de produção, do comércio, da indústria e dos serviços, sinalizando crescimento de 3% com inflação sob controle, dentro da meta de 4,5%.
A taxa de desemprego, dizem, é a mais baixa dos últimos dez anos e os salários, embora sob ataque neoliberal da direita bolsonarista, estão crescendo, mediante valorização do salário-mínimo.
PEC POLITICAMENTE EXPLOSIVA
O PT, próximo de eleição para renovação dos seus quadros, de olho na reeleição de 2026, vai apoiar o rompimento com o mercado ou a aposta que continuará subindo a popularidade do presidente com o bom funcionamento da economia?
Interessa ao centro-direita conservador vencedor das eleições municipais, de olho na sucessão de Lula, indo com ele ou sem ele, dependendo das circunstâncias, que a economia afunde e não alcance cacife para vitória eleitoral diante do centro-esquerda em nova disputa lulismo x bolsonarismo?
A decisão de Lula de fazer o ajuste por meio de Proposta de Emenda Constitucional (PEC) envolve organicamente a maioria conservadora que anseia o poder pelo voto popular em 2026.
Ajuste fiscal neoliberal, quando se disputa o poder político, seria bom negócio para o centro-direita?
A guerra pelas emendas parlamentares demonstra que o Congresso é gastador, não adepto de déficit zero, muito menos do superavit primário que espantam eleitores.
LULISMO X BOLSONARISMO
Portanto, o pano de fundo dessa guerra econômica em torno da disputa do dinheiro da dívida pública é a guerra entre lulismo desenvolvimentista x bolsonarismo neoliberal, que abandona o neoliberalismo, se precisar gastar para ganhar o poder.
O resultado eleitoral de 2024 mostra que a derrota da esquerda frente à direita decorreu das dificuldades produzidas pelo sacrifício de pagar os juros da dívida às custas do baixo crescimento econômico e dos baixos salários decorrentes da insuficiência de investimentos produtivos, sugados pelo rentismo especulativo insaciável.
O mercado, nesta semana, deve comemorar mais uma subida na taxa de juro que representa aumento da impopularidade do presidente Lula, já que o resultado é incerteza sobre toda economia, quando sobe a taxa de juros, em velocidade de juros sobre juros, juros compostos, especulativamente, bombeados pela Pesquisa Focus.
Ao priorizar o corte de gastos sociais, que reduz a taxa de investimento na produção e no consumo, em lugar de silenciar sobre o mal maior do custo financeiro da dívida pública, o governo corre o risco de não sair mais da ciranda financeira especulativa, que bombeia o dólar e puxa os juros para cima, recorrentemente.
O juro, na prática, transformou-se, no cenário da financeirização, na medida exata da própria inflação.
Inflação, financeirização, juros são o tripé do mecanismo de multiplicação do lucro financeiro especulativo, que inviabiliza a sobrevivência do lucro do setor produtivo, no capitalismo à moda clássica.
A inflação é, essencialmente, financeira, para servir de alavanca dos juros que elevam os lucros decorrentes do aumento do custo de rolagem da dívida pública.
DILEMA DA ESQUERDA
O dilema do PT é estar entre ser conservador agora na economia para atender os especuladores, enquanto confia na boa condução da economia, mediante indicadores favoráveis.
A esquerda está sob carga pesada no Congresso, quando o ministro Haddad deverá adiantar as medidas fiscais restritivas.
O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira(PP-AL), já se rendeu, como tem feito, ao mercado, à Febraban, à Faria Lima.
Disse, no final de semana, que chegou a hora de cortar os gastos para que seja cumprida a meta do déficit zero que o próprio ministro Haddad prometeu ao mercado.
Sem isso, os números do arcabouço fiscal vão aos ares.
Não vai dar para segurar os gastos com apenas 70% da receita tributária.
A pressão supera a possibilidade de limite de 2,5% acima da inflação para os gastos sociais.
Lula aposta no seu prestígio político diante das dificuldades econômicas que está conseguindo relativamente vencer: cumprir com o arrocho econômico e fiscal e equilibrar tal situação com o crescimento da economia na casa dos 3% do PIB, baixo desemprego de 6,4%, inflação sob controle em 4,5% e investimentos em infraestrutura sendo negociado com investidores nacionais e internacionais.
Dúvidas e mais dúvidas com o PT no divã: Freud explica?
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(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.