PUC-SP cancela participação em programa renomado de pós-graduação em aparente retaliação ao ativismo pró-palestina de alunos e docentes de Relações Internacionais. Interferência de organizações não governamentais estrangeiras na PUC-SP reflete a falta de autonomia universitária no Brasil, diz professora.
Professores da PUC-SP associados à causa palestina sofrem novo golpe da universidade ao terem salários cortados e participação em renomado programa de pós-graduação cancelado. A universidade privada freou seu convênio com o programa de mestrado e doutorado San Tiago Dantas – movimento interpretado como retaliação ao ativismo pró-palestino.
Mantido em parceria com a UNICAMP e UNESP, o Programa San Tiago Dantas é um dos principais formadores de quadros acadêmicos na área de Relações Internacionais (RI) no Brasil: com nota 5 na CAPES, cerca de metade de seus egressos se tornam professores universitários, informou a Carta Capital.
O convênio da PUC com o San Tiago Dantas é renovado anualmente há mais de 20 anos. Em 2024, no entanto, a Fundação São Paulo (Fundasp) – mantenedora da PUC-SP – não assinou a renovação, mantendo alunos e professores em compasso de espera.
“Na prática, a PUC-SP já não participa do San Tiago Dantas. Os professores tiveram suas horas cortadas e, nesse momento, estão trabalhando sem receber”, disse o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Bruno Huberman, à Sputnik Brasil. “As matrículas dos estudantes que entraram no programa a partir da PUC-SP, neste momento, estão canceladas.”
A princípio, a Fundasp alegou motivos financeiros para cancelar a participação da PUC-SP no programa. Com os gastos administrativos absorvidos pela Unesp, os encargos da PUC-SP com o San Tiago Dantas se restringem ao pagamento de quatro docentes para ministrar aulas e orientar alunos.
“Os custos do programa para a PUC-SP são baixos – cerca de 50 mil reais mensais”, disse Huberman. “Isso, para uma universidade que está com um lucro de R$ 33 milhões anuais não deveria ser um impeditivo.”
A imagem da PUC-SP como uma universidade em constantes turbulências financeiras ficou no passado. “Podemos reconhecer essa contribuição da Fundasp para a PUC-SP. Hoje a universidade tem uma gestão econômica bem-sucedida“, disse o professor Huberman.

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Além disso, o curso de Relações Internacionais é um dos mais lucrativos da PUC-SP. Os cerca de 580 alunos matriculados, pagantes de mensalidades de cerca de 4 mil reais, geram recursos suficientes para financiar seus colegas de mestrado e doutorado no San Tiago Dantas.

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“O argumento econômico não se sustenta. E vemos que a Fundasp está mudando o seu discurso: agora alega que os próprios professores querem cancelar o convênio, o que não é verdade”, disse Huberman. “Pelo contrário, estamos lutando para manter nossa participação no programa.”
Custo político
O contexto do cancelamento do convênio com o San Tiago Dantas é de perseguição política do curso de Relações Internacionais da PUC-SP, acredita Huberman. Segundo ele, o curso está sendo excluído sistematicamente de iniciativas da universidade.
Recentemente, Huberman e seu colega Reginaldo Nasser foram alvo de denúncia anônima por suposto antissemitismo. A apuração interna da universidade, no entanto, concluiu não haver motivo para punição dos docentes.

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No entanto, o ocorrido levou a Fundasp a publicar “protocolo antidiscriminatório” que adota definição polêmica do termo “antissemitismo”. A nova formulação adotada pela universidade abre brechas para que críticas contra o Estado de Israel sejam classificadas como antissemitas.