Há algo que poucas pessoas percebem, a saber, que quanto mais se usa as redes sociais nesse tempo de pandemia, de isolamento, de quarentena, mais se sente a o peso da solidão. Zygmunt Bauman numa de suas 44 Cartas escreve que, nesse mundo imerso em tecnologias, em geral, as pessoas não estão e não conseguem estar sozinhas. Mas, contrariamente a esta constatação, as redes sociais são uma lufada de ar fresco contra o confinamento. As pessoas se refugiam nessas bolhas digitais para manter contato com as pessoas ao seu redor, para se divertir e suportar o isolamento.
De acordo com um estudo de Damien Licata Caruso para verificar o que acontecia na França durante o isolamento, imposto para se resguardar durante a pandemia, 55% das pessoas em isolamento consultadas, simplesmente acharam difícil viver com esse confinamento sem acessar as plataformas das redes sociais. E continua que a mesma sondagem indica que 35% desses indivíduos, sobretudo os jovens, de 18 a 24 anos, que estão acostumados a acessar o Facebook, Snapchat, Instagram, e outras plataformas, não poderiam ficar sem esse acesso.
O Twitter e o WhatsApp tiveram um acréscimo muito grande nos acessos. Plataformas muito demandadas como o Zoom, que não são gratuitas, tiveram seus preços enormemente majorados; assim o Zoom de 3 dólares passou a 23 dólares, um pouco mais, um pouco menos conforme o país.
Esse incremento no uso, mostra a dependência que se cria, sobretudo nas pessoas mais jovens, da comunicação por redes sociais, e isso significa que a solidão é muito mais sentida, quando não se tem essa possibilidade. Já as gerações acima dos 60 a 65 anos suportam melhor, em geral a solidão, sempre de acordo com o estudo citado.
Mas, a dependência dessas redes se deve a dois fatores, entre outros, que saliento nesse texto.
Primeiro, os algoritmos que estão na configuração da estrutura das redes sociais. Não apenas permitem a comunicação, mas também leem e interpretam o que os usuários desejam ou possam desejar, mesmo que eles não estejam conscientes desses desejos. Por exemplo, todos já constaram que cada vez que você consulta pela Internet algum produto ou serviço, em seguida a pessoa recebe ou por e-mail, ou quando abre um dispositivo digital, seja notebook, smartfone ou tablet ofertas similares a tal produto ou qual serviço. Se alguém deseja consultar o preço de um livro numa loja de e-commerce, outra loja, diferente, vai oferecer o mesmo livro ou outro semelhante. Do mesmo modo, se consultar hotéis, receberá ofertas de outros hotéis da mesma cidade ou de outro país. Há uma oferta para estimular o consumo. Basta ver para isso, o livro de David Sumpter, “Dominados pelos números”.
Outro fator é a influência das ofertas ou sugestões subliminares, conforme explica a neurologia, e para isto cito apenas a obra de Gerald M. Edelman e Giulio Tononi. A pessoa “em questão” não vê ou não percebe a oferta ou sugestão porque o subliminar é mostrado de modo a impedir a percepção consciente, o cérebro, porém processa e cria a necessidade.
Além de potencializar a solidão, as redes sociais podem contribuir para o esfacelamento da personalidade, obscurecendo a noção de quem sou eu. Para isso, um dos remédios é a educação, tema de uma próxima comunicação.
Alvino Moser é docente na área de Humanidades na Escola Superior de Educação e Decano do Uninter.