O ex-policial militar Ronnie Lessa, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (27), revelou que assassinou a vereadora Marielle Franco por ganância, atraído por uma promessa de R$ 25 milhões. Segundo ele, esse valor correspondia ao preço de dois terrenos prometidos pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O assassino declarou que estava “encantado” com a quantia prometida e que, apesar de estar em uma fase tranquila de sua vida, foi seduzido pela ilusão de ganhar essa fortuna.
Lessa afirmou que os terrenos seriam destinados a ele, enquanto Edmílson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, receberia outros R$ 25 milhões. Já os irmãos Brazão ficariam com terras adjacentes, que deveriam passar por obras de infraestrutura.
O ex-policial descreveu o plano como a criação de uma “Medellín da milícia” nas encostas de dois morros desocupados às margens da Estrada Comandante Luís Souto, uma região que, na época do crime, em 2018, estava amplamente dominada por grupos paramilitares.
Durante seu depoimento, ele admitiu que conhecia os irmãos Brazão há mais de 20 anos e que se reuniu com eles três vezes para discutir o assassinato de Marielle Franco. Duas reuniões ocorreram antes do crime e a terceira, após a execução de Marielle e de seu motorista, Anderson Gomes.
Nessa última reunião, Lessa afirmou que Domingos Brazão estava visivelmente nervoso, enquanto Chiquinho observava a conversa de braços cruzados. Ele relatou que ele garantiu que ele não precisava se preocupar com a investigação do crime, pois o então chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, “viraria o canhão para o outro lado”.
Segundo o ex-policial, Brazão mencionou ainda que, caso necessário, teria o apoio de promotores, juízes e desembargadores para abafar o caso. O depoimento ele, que durou cerca de cinco horas, continuará nesta quarta-feira (28) por videoconferência.
Os advogados de Domingos Brazão afirmaram que não há provas que sustentem as alegações de Lessa e que sua versão dos fatos carece de elementos que a comprovem. A defesa de Chiquinho Brazão classificou a delação dele como uma “desesperada criação mental” em busca de benefícios, destacando que há diversas contradições, fragilidades e inverdades na narrativa apresentada pelo ex-policial.