Durante três horas e sob chuva, ato homenageia lutadores por direitos humanos, vítimas da violência de Estado e pede fim da impunidade
Para marcar os 58 anos do golpe de 31 de março de 1964, defensores da democracia e dos direitos humanos participaram nesta quinat (31) da segunda edição da Caminhada do Silêncio. Organizado pelo Instituto Vladimir Herzog e o Núcleo Memória, o ato no Parque do Ibirapuera reuniu centenas de pessoas. A iniciativa é fruto do movimento Vozes do Silêncio contra a Violência de Estado, liderada por organizações, coletivos e ativistas que, desde 2019 chamam a atenção da sociedade para as violências cometidas pelo Estado durante e após a ditadura.
Segundo os organizadores, a caminhada é também um momento para refletir sobre as lutas das populações invisibilizadas naquele período – negros, LGBTQIA+, indígenas – e que continuam sofrendo as consequências na necropolítica do governo marcada pela doença, fome, desemprego e outras violações.
“Este evento é muito importante porque é uma resposta da sociedade à violência cometida 58 anos atrás, pelos que derrubaram o governo legítimo, rasgaram a Constituição. E ainda cometeram uma das maiores violências contra o povo brasileiro, impondo um processo de terror, desaparecimentos, sequestros de crianças, corrupção e da destruição do estado democrático de direito”, afirma o diretor-executivo do Instituto Vladimir Herzog, Rogério Sottili. Ex-secretário nacional de Direitos Humanos, Sottili, alerta que ainda hoje há setores militares fazendo “ameaças significativas de volta a esse período”.
A violência de Estado impune ainda hoje
Durante o ato no Ibirapuera, manifestantes ouvidos pela RBA observaram também que a Caminhada do Silêncio é também para denunciar as atuais vítimas da violência de Estado. “A gente sabe o quanto operários, classe média e estudantes sofreram durante a ditadura. Mas os corpos negros seguiram sendo torturados, presos e assassinados, como o são até hoje”, disse a arquiteta e urbanista Lígia Rocha, integrante do coletivo de bordadeiras Linhas de Sampa.”
O ato percorreu o interior do parque com vários cartazes, entre eles pedindo justiça pelos jovens assassinados de Paraisópolis, em dezembro de 2019, e os do massacre da Sé, em 2004. Ao final, foram repetidos os nomes de todos os jovens executados nesses episódios e em outros episódios de violência policial ainda impune. E também citados os nomes de 650 presos, desaparecidos e mortos, tanto pela ditadura quanto pela violência policial contemporânea. Também foram homenageados parlamentares atuantes na defesa dos direitos humanos, como José Mentor, Carlos Neder e Marielle Franco. Após três horas de manifestação silenciosa e sob chuva, a caminhada interrompeu o silêncio encerrando com gritos de “fora Bolsonaro” e “ditadura nunca mais”.
Confira no vídeo abaixo reportagem do Seu Jornal, da TVT, e também depoimentos colhidos pela reportagem da RBA durante a Caminhada do Silêncio. Entre eles, do ex-deputado Adriano Diogo, que presidiu a Comissão Estadual da Verdade em São Paulo, da indígena Vanusa Caimbé, dos ativistas Anderson Miranda (Povo de Rua), Maurice Politi (Núcleo de Memória Política) e Ediane Maria (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, MTST).
Marcos Gama, do @porcomunas, organização atifascista de torcedores do Palmeiras, lembra de um detalhe importante, do qual é testemunha: "o golpe foi feito no dia 1º de abril de 1964, e não no dia 31 de março". Vídeo: @DanArroyoFoto pic.twitter.com/cvkp0xJnaZ
— Ponte Jornalismo (@pontejornalismo) March 31, 2022
AGORA EM SP: começa, no PArque do Ibirapuera, zona sul da capital paulista, a II Caminhada do Silêncio, em homenagem às vítimas da ditadura militar instalada no Brasil em 1964. Video: @DanArroyoFoto pic.twitter.com/6KWATGsuDN
— Ponte Jornalismo (@pontejornalismo) March 31, 2022
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