A polêmica premiação de melhor atriz no Oscar 2025 revela a necessidade de uma compreensão incisiva, urgente e abrangente sobre o desvelar do papel da mulher na sociedade.
Os dias que antecedem o Dia Internacional da Mulher em 8 de março deste ano foram marcados por controvérsias devido ao enorme sucesso que teve em seu centro a premiação do Oscar para o papel de melhor atriz. Estavam no jogo duas mulheres sexagenárias, uma jovem atriz, uma transexual e uma mulher negra. Cada uma delas desempenhava um papel marcante e forte atuação. Pois foi justamente nos papéis desempenhados que as controvérsias foram marcantes, mas que não serão aqui analisados. O que se quer são os temas geradores desse debate, que levantaram questões como feminismo, etarismo, transexualidade, movimento negro, LGBTQIA+ e lutas sociais e libertadoras.
É bastante interessante este debate vir no momento em que a visibilidade da mulher ganha força a cada edição do Dia Internacional da Mulher. E o filme “Ainda estou aqui”, que deu o primeiro Oscar ao Brasil, é responsável por retratar o drama de Eunice Paiva, representando a dor e o sofrimento de tantas outras mulheres vítimas da ditadura militar, que, no Brasil, durou 21 anos. Estamos falando de Clarices, Therezas, Elizabeths e Marias que também estão retratadas neste drama e que também sofreram os horrores do obscurantismo representado pela ditadura militar, mas que foram protagonistas e vozes da resistência.
Essa geração de mulheres lutadoras se tornou mais reconhecível a partir da criação da Comissão Nacional da Verdade, criada em novembro de 2011, pela presidenta Dilma Rouseff, para investigar as violações de direitos praticadas pelo Estado brasileiro entre 1946 e 1988, com foco nos 21 anos de ditadura militar, juntamente com a Lei de Acesso à Informação, que determina, entre suas atribuições que informações ou documentos que versem sobre violações de direitos humanos não podem ser objeto de restrição de acesso ou destruição. A Comissão conseguiu gerar um enorme acervo, fruto de uma luta incansável de vítimas e testemunhas dos tempos sombrios da ditadura militar. O relatório final orienta que o Estado Brasileiro responsabilize juridicamente as pessoas apontadas como responsáveis pelas violações de direitos. Sugere ainda que seja criado um órgão de governo para dar continuidade às buscas de restos mortais de 210 pessoas que seguem desaparecidas.
Neste dia 8 de março, em que o feminismo já se encontra espraiado e as mulheres ocupando espaços que lhes são devidos, não se pode esquecer das mulheres que, desde os anos 1800, lograram a luta pela igualdade de direitos entre os gêneros como condição necessária para a emancipação da mulher. Como consequência desse movimento, foi realizada, em 1907, a Primeira Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, que trouxe em sua resolução final como principal reivindicação “o direito ao sufrágio universal da mulher para as mulheres adultas, sem limitação alguma no que se refere à propriedade, ao pagamento de impostos, ao grau de educação ou a qualquer outra condição que exclua aos membros da classe operária do exercício deste direito”. Essa resolução já demonstrava a importância da educação e do conhecimento no caminho do pensamento crítico em vistas da libertação para as classes oprimidas para entender sua opressão e reivindicar igualdade de justiça. O que deixa evidente que o Dia Internacional da Mulher é o dia da mulher trabalhadora.
A prática de celebrar esta data é momento de valorizar e reconhecer o trabalho das mulheres, seja em qualquer espaço. Por isso, torna-se urgente a atuação do Estado, em sincronia com as questões do nosso próprio tempo, na promoção de mudanças estruturais e culturais que favoreçam a inserção da mulher nos espaços públicos, nas universidades, no incentivo à educação antissexista e antirracista e à redução na distância salarial entre homens e mulheres, comprometendo-se por maior valorização e reconhecimento do trabalho das mulheres.
E porque a história demonstra não estar completa no que diz respeito à valorização e reconhecimento do papel da mulher na sociedade é que a Editora UnB se soma ao coro de vozes que reivindicam a construção do conhecimento, que tem a educação como prática da liberdade, trazendo o visível e o invisível na produção de ideias para os processos de enfrentamento e resistência. Nessa dinâmica, ressaltamos a quantidade de obras de autoria feminina do nosso acervo na produção do conhecimento, o que revela uma política de fortalecer a presença de mulheres intelectuais no pensamento social, cujas interpretações ajudam a conscientizar, libertar, humanizar.
Um viva às mulheres guerreiras de todo o mundo!