É na hora da tragédia, como essa do Rio Grande do Sul, que os conceitos econômicos e humanistas mudam de ponta a cabeça; por exemplo: é o momento de poupar ou de gastar, dado que todos ficaram mais pobres, os gaúchos e os brasileiros em geral?
Poupança ou investimento?
Os ortodoxos monetaristas, fiscalistas, rentistas, principalmente, o pessoal da Faria Lima, a turma neoliberal da bufunfa, adepta do equilibrismo fiscalista, como o megaespeculador Armínio Fraga, estão preocupados não com a tragédia social, mas, sobretudo, com o bolso de cada um, para ter assegurados os juros da dívida pública, de modo a manter sua lucratividade absurda às custas da miséria dos outros.
Sobrarão, diante da necessidade de gastar para recuperar os estragos das chuvas, os recursos para o governo continuar pagando R$ 730 bilhões/ano, cerca de 7% do PIB, somente, de juros e amortizações da dívida pública, aos rentistas, enquanto os flagelados morrerão de fome, se isso continuar acontecendo?
Ou se faz necessário, rever as contas públicas, para destinar mais recursos às obras de recuperação de mais de 2/3 das cidades que foram destruídas num dos estados mais importantes da Federação?
Certamente, se o governo inverter, agora, as prioridades, que são gastos públicos mais do que proporcionais para recuperar a infraestrutura urbana e rural gaúcha, e continuar atendendo, sem limite, os rentistas especuladores, que não contribuem para o desenvolvimento sustentável, é claro, que as distorções econômicas e sociais se triplicaram.
NOVA PRIORIDADE, URGENTE
É indispensável lembrar que o que está sendo destruído é a estrutura produtiva e ocupacional brasileira que garante oferta de mais da metade de alimentos para população e, consequentemente, controle inflacionário.
Poupar ou investir, nesse momento?
A cabeça ortodoxa diz que o investimento depende da poupança, razão pela qual estaria, para os ortodoxos, errada a opção de ampliar, talvez, além dos limites, os gastos e investimentos, elevando, ainda mais a dívida pública, para colocar recursos na recuperação econômica em colapso.
Destaca-se que mais gastos em moeda nacional, visto que o país dispõe de reservas internacionais satisfatórias(mais de 350 bilhões de dólares), não representaria fator de pressão inflacionária, o que aconteceria se o governo tivesse que lançar mão de poupança externa, a juros flutuantes.
Os investimentos, se aplicados, em massa, nesse momento, de dramaticidade social e material para a população, em processo de empobrecimento acelerado, darão ou não retorno econômico em forma de desenvolvimento, emprego, renda, consumo, produção, arrecadação e, claro, mais investimentos como resultado dialético dessa opção desenvolvimentista?
Poupar, agora, para cumprir o receituário neoliberal segundo o qual a taxa de juros somente recua, se o governo deixa de gastar no social para equilibrar relação dívida-PIB, como prega os banqueiros gananciosos da Faria Lima, que controla o Banco Central neoliberal, impediria ou aprofundaria a tragédia?
Mais do que nunca, portanto, as chuvas torrenciais que jogaram os gaúchos na mais grave crise social e econômica brasileira, nos últimos anos e décadas, ensinam a lição econômica básica que atende o ponto de vista dos trabalhadores, aliás, abraçado pelo presidente Lula, de que gasto no social não é despesa, mas, investimento.
LIÇÃO DA HISTÓRIA
A revolução econômica que aconteceu no mundo, no final do século 19, com o colapso do modelo liberal, entre 1873-1893 – 20 anos de crise –, levando o capitalismo à era dos monopólios e oligopólios, deixando para trás a economia do livre mercado, representou superação dialética dessa dicotomia poupança-investimento, que, lamentavelmente, ainda, persiste até hoje.
Os países ricos que conseguiram, pela ampliação dos gastos do governo, dinamizar economia de guerra, para tirá-los do colapso do laissez-fare, romperam, essencialmente, com a dicotomia poupança-investimento.
A ampliação dos trustes, oligopólios e monopólios, pós-primeira guerra mundial (1914-18), que desembocará no crash de 1929, rompeu com o impasse dicotômico poupança-investimento, porém, os países pobres continuaram sufocados pelos conceitos econômicos neoliberais.
Para as economias subdesenvolvidas, como acontece até hoje, passados mais de um século, ficaram valendo os conceitos neoliberais de que a prioridade é poupar e não gastar, isto é, pagar suas dívidas aos países ricos, mediante o subdesenvolvimento.
Os mais pobres ficaram proibidos de investir sob o tacão do argumento de que o fundamental é poupar, para depois gastar, enquanto os ricos gastaram para ampliar sua poupança, transferindo os ônus para os subdesenvolvidos.
Resultado: aprofundou-se, ilimitadamente, a desigualdade social e consequente redução dos investimentos na periferia capitalista, transformando-a em eterna fornecedora de matérias primas, acelerando deterioração nos termos e relações de trocas.
Os pobres ficaram mais pobres e os ricos mais ricos; estes continuaram gastando para enriquecer, enquanto os pobres continuam cortando despesas para empobrecer.
O fenômeno do subconsumismo capitalista, imposto pelos ricos aos pobres, é a expressão do conto do vigário dos imperialistas de que estes precisam, primeiro, poupar, para depois investir, enquanto o Estado subdesenvolvido se obriga a fazer ajustes fiscais crescentes, de modo a transferir sua poupança para pagar dívida criada pelos ricos para escravizá-los.
PROPOSTA VITORIOSA LULISTA
A pregação econômica e social do presidente Lula, diante da catástrofe gaúcha, fica mais clara para o pensamento popular, quando defende que é preciso ampliar os gastos sociais para dinamizar a economia como um todo, já que tais gastos são sinônimos de investimentos, e não desperdício, como pregam os Arminio Fraga da vida.
O presidente brasileiro ultrapassou o entendimento atrasado e colonizado das elites tupiniquins de que precisam multiplicar sua poupança não na produção e no consumo, mas na aplicação financeira especulativa, conforme lição dos colonizadores, segundo a qual a função da periferia capitalista, historicamente, é servir ao centro do capitalismo explorador, cujo resultado são os desequilíbrios econômicos e ambientais, como o que se vê no Rio Grande do sul.
O desastre ambiental, portanto, é uma consequência do capitalismo financeiro que impera desde final do século 19, com o avanço dos oligopólios e monopólios, que enterraram a econômica de mercado, tornando-a mera ficção, colocando em cena a necessidade de o Estado nacional virar o agente econômico fundamental para salvar os mais pobres da ganância dos mais ricos.