Uma coisa é certa: Donald Trump acelerará exploração de petróleo em todo o mundo para gerar negócios com as corporações internacionais petrolíferas, mas a preferência dele é para iniciar tais explorações, preferencialmente, na América do Sul e Central, onde estão as grandes reservas da Venezuela, Brasil, México e, ao norte, no Canadá.
É a forma de conseguir matéria prima para a industrialização americana ficar mais competitiva diante da China, sua concorrente.
Na madrugada da vitória, ele reafirmou o propósito de acelerar a produção e o aumento da riqueza das corporações americanas.
Já durante a campanha eleitoral, convocou as 20 maiores corporações para fazer promessas de campanha eleitoral: o governo, com ele no poder, daria todos os incentivos para as empresas petrolíferas explorarem petróleo etc.
Portanto, as pressões em favor da privatização da exploração de petróleo, especialmente, no continente, tendem a crescer.
Trump quer governos dispostos a negociar com as petroleiras americanas, que terão incentivo fiscal para comprar ativos por parte do tesouro americano.
BRASIL SOB PRESSÃO
A política do governo Lula para a área de petróleo estará, de agora em diante, sob pressão para exportar petróleo aos Estados Unidos, assim que Donald Trump assumir a Casa Branca, a partir de 20 de janeiro de 2025.
Certamente, Trump, como admitiu Steve Bannon, futuro assessor especial, vai cobrar tarifa de importação baixa de petróleo para os Estados Unidos disporem de vantagens comparativas no campo energético e dos derivados de petróleo que movimentam a industrialização americana.
O discurso de transição energética, para exploração de alternativas, vai ser engavetado na Era Trump, como ficaram claras as reuniões entre o novo presidente e as corporações durante a campanha eleitoral.
Depois do golpe neoliberal de 2016, que derrubou a ex-presidente Dilma, com a participação dos Estados Unidos, aumentou a ingerência americana na privatização das empresas subsidiárias da Petrobras, partícipes da cadeia de produção petrolífera, na extração, na produção e na distribuição.
A prioridade deixou de ser produção interna e exportação de manufaturados para dar lugar à exportação de petróleo cru.
Toda a estrutura de industrialização da Petrobras está deixando de ser otimizada em termos de conquistas internacionais competitivas, como denuncia a AEPET, Associação de Engenheiros da Petrobrás, para limitar-se à rotina de vender produto cru sem valor agregado, sem valor-trabalho agregado/valorizado, pró-aumento da produtividade e expansão global da empresa nacionalista no mercado global.
O caráter nacionalista está em franca metamorfose, para adaptação às regras que deverão ser reivindicadas pelo governo Trump, de aproximar a exploração petrolífera americana dos Estados Unidos, na América do Sul, em comparação à prioridade ainda hoje vigente, de exploração do petróleo do Oriente Médio, potencialmente dinamizar de guerras.
SINTONIA COM TRUMP
Os objetivos das corporações estão sendo traçados pela política que Trump prega seja operada, de agora em diante, de levar o produto daqui para lá sem valor agregado, isto é, cru, para ele vir de lá para cá em forma de manufaturados, com valor agregado.
Configura-se tal estratégia aprofundamento da deterioração nos termos das relações de troca.
Vende-se matéria prima barata destituída de valor-trabalho e importa caro a matéria prima industrializada lá fora, grávida de valor-trabalho adquirida de fora para dentro.
Importa-se valor-trabalho caro e vende valor-trabalho desvalorizado.
O sonho de Getúlio Vargas, dessa forma, vai para o sal.
E O PETRÓLEO EQUATORIAL?
Os interesses que prevalecem de impor a reprimarização produtiva do setor petróleo estão ou não por trás da decisão de não explorar, por enquanto, o petróleo na Amazônia, na faixa equatorial, em decorrência da posição da política ambiental do Ibama?
Não seriam as corporações americanas candidatas de Trump para a exploração das reservas amazônicas, como já está acontecendo com a exploração do petróleo na Guiana, operada pelas corporações anglo-saxônicas, nas vizinhanças com a Venezuela, em Essequibo?
O fato é que a direção da Petrobrás anunciou que, por enquanto, os investimentos, para elevar a produção interna, serão realizados preferencialmente na Bacia de Campos, descoberta pelo governo Geisel.
A participação do governo na exploração da Bacia de Santos será reduzida porque as corporações internacionais forçam a Petrobras a manter o pré-sal, ali localizado, como reserva para exportação, em vez de dinamizar a refinação do óleo de alta qualidade.
O fortalecimento das corporações pelo novo presidente americano cria cenário para a exploração do petróleo brasileiro, com maior ingerência delas nas políticas de exploração da empresa.
É o que vem acontecendo, desde o golpe neoliberal de 2016, inclusive, com alteração do sistema tributário para as petroleiras, favorecidas pela isenção de trilhões de dólares em pagamento de impostos pelos próximos trinta anos, aprovada no Congresso, dominado pelas forças neoliberais.
O interesse meramente comercial das corporações prevalece sobre estratégias de médio e longo prazo, como sempre foi prioridade da orientação estatal, sintonizada com programas de industrialização dos derivados de petróleo, atualmente, rendida ao ponto de vista privado, com visão de lucro imediato.
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.
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