Mundialmente conhecida também foi a árdua tarefa de uma equipe de cientistas cubanos, desde 1995, para cumprir o compromisso contraído pelo Comandante em Chefe Fidel Castro Ruz, de não deixar nunca abandonado um combatente, e trazer para Cuba os restos mortais do Che e de seu destacamento guerrilheiro. Confira o artigo na íntegra
Um gigante moral cuja força e influência se multiplicaram por toda a terra
O exemplo do Comandante Ernesto Guevara de la Serna ultrapassa as fronteiras de Cuba e Bolívia para se manter vivo, de geração em geração, na consciência da humanidade
O corpo de Ernesto Che Guevara foi baleado, há 56 anos, por um suboficial boliviano, em cumprimento de ordens da Agência Central de Inteligência [CIA], dos EUA; depois de ser ferido em combate e detido na Quebrada del Yuro, após esgotar todos os seus projéteis.
Foi levado até uma escolinha do pequeno povoado montanhoso boliviano de La Higuera, de onde seu legado segue expandindo sua mensagem anti-imperialista por todo o mundo.
A cada 8 de outubro, dia da captura, em 1967, do mítico Comandante guerrilheiro, pessoas de todas as latitudes viajam a La Higuera para render uma espontânea homenagem a quem encarnou, como nenhum outro, o arquétipo do Homem Novo.
Em cada aniversário de nascimento ou morte do Che, como é universalmente conhecido, tomam renovado impulso suas ideias e esse exemplo e coragem sem limites, que lhe fizeram se sobrepor à asma desde pequeno, viajar por países da América do Sul para conhecê-los «por dentro», se opor ao golpe de Estado contra o presidente Jacobo Arbenz, na Guatemala, patrocinado pela CIA, e se envolver no México na expedição que Fidel preparava para libertar Cuba de uma sangrenta tirania, prelúdio de suas façanhas posteriores no Exército Rebelde.
É conhecida sua enorme estatura como político, estadista, diplomata e novamente como guerrilheiro no Congo e na Bolívia.
É grande a coragem de quem, sobre uma cadeira de madeira, na escolinha de La Higuera, sem poder se mover por causa de suas feridas, foi capaz de ordenar a seu atribulado assassino: «Você vem me matar. Se ponha sereno e aponte bem. Você vai matar a um homem!».
A personalidade do Che era multifacética. Ademais de sua coragem e inato talento estratégico como militar, era um analista profundo dos temas políticos e filosóficos, estabelecidos em sua concepção de que, para alcançar o desenvolvimento de um país, a primeira coisa que havia que ter era independência e soberania plenas e consolidar então sua identidade cultural própria.
Assim o demonstrou logo após o difícil desembarque do iate Granma, quanto teve que abandonar com dor sua valise de médico, para carregar uma caixa de munições e um fuzil para se tornar para sempre um combatente. O Che foi um médico que se converteu em soldado sem deixar de ser médico um só minuto.
Em data tão precoce como em 7 de setembro de 1959, a só uns meses do triunfo revolucionário, o Che aprofundou estas ideias, ao afirmar, numa conferência, que «a tarefa dos poderes coloniais em todo o mundo sempre foi afogar a cultura autóctone da nação, destruir as crenças próprias de um povo e lhe inculcar a cultura de seu país de origem, seus costumes… Podem ser vistasr sempre as tentativas dos poderes coloniais por transformar tudo, adaptam tudo a seu tipo mental, formas de vida e de organização».
Pretender sintetizar as facetas de sua vida dizendo que foi estrategista militar, médico, político com profundo sentido humanista, ideólogo promotor da formação do homem novo, economista, analista agudo, jornalista e fundador da agência Latinoamericana Prensa Latina, escritor e diplomata seria como esquematizar sua integralidade como revolucionári.
Porém omiti-las seria faltar com a realidade de quem, em sua curta vida de 39 anos, foi em Cuba comandante guerrilheiro, levou a Revolução até o centro da Ilha, enfrentando um exército de mais de 20 000 homens, presidente do Banco Central de Cuba, ministro de indústrias, diplomata em transcendentais missões ante as Nações Unidas, a Organização de Estados Americanos [OEA] em Punta del Este, Uruguai, e as que levaram à firma dos acordos comerciais e militares com a União Soviética.
Porém o Che nunca esqueceu do compromisso que lhe fez prometer ao líder da Revolução Cubana, desde sua união ao grupo no México, de que, uma vez triunfante a luta na Ilha, não lhe poria obstáculos para continuar seus empenhos por libertar outros países. Pensava sempre em sua natal Argentina, onde o jornalista conterrâneo Jorge Ricardo Masetti criou em 1964 um foco guerrilheiro em Salta, como Comandante Segundo, pois o Comandante Primeiro seria o Che, o que nunca pôde ser.
“Até a vitória sempre!”
Em princípios de 1965, Guevara de la Serna escreveu uma carta de despedida a Fidel –que este leu na constituição do primeiro Comitê Central do Partido Comunista de Cuba-, renunciando a todos os seus cargos, à nacionalidade cubana, que lhe foi outorgada em 1959, e anunciando sua partida para «novos campos de batalha». Finalizava a carta com a frase Até a vitória sempre, convertida desde então numa convicção do povo cubano.
Após uma frustrada experiência africana na luta para libertar o Congo, o Che decidiu concentrar seus esforços na América Latina.
Considerou que a Bolívia era então o país com maior desenvolvimento da consciência popular, em especial do movimento mineiro, que estava no coração da América do Sul, e limitava com Argentina, Chile, Peru, Brasil e Paraguai.
Em 3 de novembro de 1966, o Comandante Guevara de la Serna chegou a Bolívia sob a identidade falsa de Adolfo Mena González e com passaporte uruguaio, e a 7 desse mês começa seu Diário em Bolívia, ao se instalar numa zona montanhosa e selvática, perto do rio Ñancahuazú, onde a cordilheira dos Andes se une com a região do Gran Chaco.
A história heroica do incipiente Exército de Libertação Nacional de Bolívia [ELN] é mundialmente conhecida, integrado por 47 guerrilheiros [16 internacionalistas cubanos, 26 bolivianos, três peruanos e dois argentinos], dos quais Tania [Tamara Bunke] era a única mulher.
Travou numerosos combates durante os 11 meses nos quais se estende a contenda, contra um exército treinado e armado por assessores ianques.
Mundialmente conhecida também foi a árdua tarefa de uma equipe de cientistas cubanos, desde 1995, para cumprir o compromisso contraído pelo Comandante em Chefe Fidel Castro Ruz, de não deixar nunca abandonado um combatente, e trazer para Cuba os restos mortais do Che e de seu destacamento guerrilheiro.
Em dois anos encontraram a uma parte dos guerrilheiros, porém os restos do Che não apareciam.
Em 28 de junho de 1997, através de revelações de um General boliviano reformado, encontraram em Vallegrande, após 30 anos, sete corpos enterrados clandestinamente, numa fossa comum, e identificaram, com o apoio da equipe argentina de Antropologia Forense, o de Ernesto e seis de seus homens.
A 17 de outubro de 1997, ao depositar em Cuba os restos do Guerrilheiro Heroico no Mausoléu que leva seu nome em Santa Clara, Fidel expressou que: «Não viemos a despedir do Che e de seus heroicos companheiros. Viemos a recebê-los. Vejo ao Che e a seus homens como um reforço, como um destacamento de combatentes invencíveis, que desta vez inclui não só cubanos, senão que também latino-americanos que chegam a lutar junto a nós e a escrever novas páginas de história e de glória. Vejo, ademais, ao Che como um gigante moral que cresce a cada dia, cuja imagem, cuja força, cuja influência se multiplicaram por toda a Terra».
Autor: Pedro Ríoseco López-Trigo | internet@granma.cu. Tradução > Joaquim Lisboa Neto
Monumento ao Che Guevara em La Higuera, Vallegrande, na Bolívia, onde o assassinaram. Foto: El País
(*) Joaquim Lisboa Neto, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.
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