À parte de como Lula possa estar reagindo aos resultados do primeiro turno e esperando os do segundo turno da eleição municipal, a semana foi boa para ele quanto às perspectivas abertas pela tranquila e folgada confirmação pelo Senado da escolha de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central.
Nos dois anos de governo que já está completando, Lula teve seus planos muito mais travados pelo Banco Central herdado de Bolsonaro do que pelas chantagens de Arthur Lira e do Centrão no Congresso. A partir de janeiro, o Banco Central estará sob a direção de Galípolo e de outros diretores também nomeados por Lula. O que não significa que Lula vá mandar neles, mas significa que eles não estarão predispostos a travar os planos de Lula.
Lula, aliás, fez questão de declarar, antes e depois da sabatina de Galípolo e da votação no Senado, que respeitaria a independência dos novos diretores, não os pressionaria nem tentaria intervir em suas futuras decisões. Galípolo, por sua vez, reafirmou que agirá sempre com independência e que Lula lhe garantiu essa independência.
A propósito, Galípolo e os demais diretores nomeados por Lula votaram com Roberto Campos na última reunião do Copom, permitindo que fosse unânime a decisão de aumentar os juros. Essa unanimidade deve ter tido como objetivo manter o mercado financeiro em sossego e não atrapalhar a aprovação de Galípolo no Senado – tanto que Lula recebeu calado esse aumento, do qual, em outras circunstâncias, não deixaria de reclamar.
Agora, com esse obstáculo ultrapassado, convém observar o que Galípolo disse na sabatina do Senado sobre sua visão do papel que pretende desempenhar na presidência do Banco Central a partir de janeiro:
- A missão essencial da autoridade monetária é perseguir a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional – e não se deve virar as costas para o “poder democraticamente eleito”.
- Se pegarmos a literatura essencial sobre autonomia do BC, os cânones vão dizer que o BC tem autonomia operacional para buscar as metas estabelecidas pelo poder democraticamente eleito.
- As metas e objetivos são estabelecidos pelo poder democraticamente eleito. Uma vez estabelecida, cabe ao BC perseguir essa meta. Esta é a definição que existe.
Isso é o oposto do que o Banco Central vem fazendo e seu alinhamento às metas “de um poder democraticamente eleito” pode ser um novo começo para o governo Lula.
antes mesmo de um novo começo
Na sexta-feira, Lula inaugurou em Fortaleza um novo conjunto habitacional do programa Minha Casa Minha Vida, com 1.296 apartamentos, divididos em 81 blocos de quatro andares, com quatro unidades cada e novidades que podem fazer torcer o nariz dos reacionários que sempre se perguntam por que “tudo isso” para “essa gente”: área de lazer para crianças, área de computação e biblioteca. Quem sugeriu a biblioteca foi o próprio Lula.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.