Sinto muito por desapontá-lo, Drumond. Mas antes das pedras, sempre tem um preto no meio do caminho.
As pedras são vistas, apreciadas e lapidadas. Transformadas em minério, em ferro. Mesmo que “exploradas”, aumentam seu valor no mercado depois de polidas.
Um preto, no meio do caminho, incomoda as balas perdidas; atrapalha a rota dos “metralhas”.
Um preto no caminho é uma ambulância às pressas rumo ao hospital que está sempre do outro lado da cidade; é um constante vai e vem de uma viatura em constante busca; quando sai do caminho, acolchoa as filas das unidades de saúde, onde, com frequência, morre.
No meio do caminho, é sempre um preto a procura de um CRAS, que escuta de uma Assistente: você vai ter que esperar.
Sempre no meio do caminho, ele lota delegacias e penitenciarias. Por incrível que pareça, é o lixo e ao mesmo tempo o profissional da limpeza.
Uma vez no meio do caminho, sempre é o alvo fácil de outras pedras: do crack, da condenação, da subjugação, do sujeito pouco capaz. Os dedos se transformam em pedras, para mirar um preto que passa pelo caminho e silenciar sua presença.
Nas portas de um supermercado, cai no caminho de um segurança vazio de consciência. É asfixiado porque estava no caminho do “super” mercado.
O meio do caminho é sucessivamente o lugar de preto, que atrapalha o caminho de quem desfila nas universidades. Querer sair do meio do caminho, atrapalha a caminhada de alguém.
O preto está sempre no meio de onde não nos convém. Foi objeto de troca, mercadoria perdida. Carne “explorada” que não se lapida como as pedras, envelhecem. Peles são usadas enquanto o cheiro é agradável. A pele, o corpo e a carne “são objetos mais baratos do mercado”.
No caminho das políticas econômicas, o preto, é gráfico negativo na estatística que o desabilita: é desocupado, informal, clandestino e vagabundo. É o centro da crise, é preto no meio da exclusão.
Submete as mais duras realidades para não ficar no meio do caminho, como quem caiu de uma mudança. Mas cai do nono andar, no meio do caminho por onde passeia uma cadela.
No calçadão do sul, sudeste, norte, nordeste tem um preto caído! No meio do caminho de tantos, tem um preto de mão estendida: esmola. No centro-oeste, planalto central, tem servilidade instalada, no meio da cabeça de preto, que atende por “bicudo-s” do mando do patrão.
Resultado de tudo: a exclusão que reside no meio do caminho do preto.