Uma notícia passou quase desapercebida na segunda semana de junho. No dia 8, segunda-feira, retornou a Cuba a Brigada Henry Reeve que estava na Itália, com 36 médicos, 15 enfermeiros e um especialista em logística. Uma pequena força tarefa que atuou vitoriosamente no combate à covid 19, mais especificamente na região da Lombardia. O contingente total é formado por mais de 2.500 profissionais de saúde, divididos em 30 grupos que estão espalhados pelo mundo, em vários países, combatendo a pandemia.
O assunto me chegou pelas mãos do historiador e professor Márcio José Gonçalves, um teórico e estudioso inveterado das grandes questões da humanidade. Na condição de “aproveitador da sorte” de sua amizade, me atualizo vez por outra sobre temas importantes que ele consegue enxergar, analisar e compartilhar com os amigos. Dessa maneira, pela primeira vez ouço falar do Contingente Internacional de Médicos Especializados no Enfrentamento de Desastres e Graves Epidemias Henry Reeve, nome completo da Brigada, através do artigo de Carmen Diniz, coordenadora no Brasil do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos.
Foi lá da Itália que as primeiras imagens alertaram o mundo sobre a gravidade do novo coronavírus. As fotos e vídeos dos caminhões lotados com milhares de corpos rumando aos cemitérios e crematórios provocaram um grande susto. A região da Lombardia entrava em desespero por conta da quantidade de infectados e de óbitos. A equipe cubana passou mais de 2 meses, exatamente nessa área que, até então, era o epicentro da doença na Europa. Há, também, uma outra equipe na região de Piemonte.
Chamou a atenção que a Itália não tenha conseguido ajuda de nenhum dos poderosos países vizinhos. A Itália faz parte da União Europeia, um bloco econômico formado por países ricos e que detêm o status de berço da cultura e do conhecimento mundial. O desconhecimento científico sobre o vírus mostrou que o medo e de certa forma o egoísmo falaram mais alto dentro da comunidade europeia.
É inevitável a curiosidade sobre o pensamento e os sentimentos presentes na cabeça dos profissionais que deixaram suas famílias para trás e embarcaram em uma jornada rumo ao desconhecido. Em 22 de março, data da partida para a Itália, ainda se sabia muito pouco sobre a totalidade dos riscos que envolviam a luta direta no front de batalha da pandemia, pois além da ausência de uma vacina, ainda hoje é limitado o entendimento do alcance e da eficácia dos medicamentos que se apresentam minimamente capazes de eliminar ou impedir o desenvolvimento do vírus.
O assunto Cuba é sempre controverso, qualquer que seja o foco. Mas é impossível não reconhecer a resiliência de um povo que mesmo sob um bloqueio que dura 58 anos consegue não só sobreviver e se manter de pé, mas ao mesmo tempo estende a mão a outras nações e corajosamente se lança a enfrentar e vencer desafios que parecem intransponíveis, tendo apenas a ciência como aliada.
Mesmo quem não conhece o país e admira os seus feitos, sabe que eles têm problemas. Não são perfeitos, como nenhum país é. Mas demonstram haver um esforço em superar as suas mazelas. O retorno da equipe de saúde foi festejado. Foram recebidos como heróis, com transmissão ao vivo pela tv e pronunciamento do presidente cubano Miguel Díaz-Canel que os saudou triunfalmente: “Vocês representam a vitória da vida sobre a morte”. A ministra italiana de Administração Pública, Fabiana Dadone sintetizou o agradecimento do povo italiano conceituando o apoio de Cuba ao seu país: “Extraordinário exemplo de solidariedade”.