Mal se noticiava que a recém privatizada Refinaria Landulpho Alves, na Bahia, passara a praticar preços 27% mais altos que os já extorsivos impostos pela Petrobrás (ou impostos a ela), quando se anunciou nova alta para eles.
Agora a alta é de 18% para a gasolina e de 24% para o diesel, depois de 59 dias apenas de vigência dos preços anteriores, e de 16% para o GLP, o gás de cozinha, depois de cinco meses. Essa alta foi decretada num momento em que o mundo está em guerra e antes que os preços internacionais do petróleo oscilem ainda mais, forçando altas ainda maiores no Brasil.
Naturalmente a majoração obedece à política de preços vigente na Petrobrás desde o governo Temer, de alinhamento com as cotações internacionais do petróleo bruto, que no ano passado garantiu à Petrobrás lucros de 100 bilhões de reais a serem distribuídos sob a forma de dividendos que beneficiarão majoritariamente os acionistas privados e minoritários da empresa.
Estamos todos habituados a pensar e a dizer que esses preços são impostos pela Petrobrás, mas eles na verdade são impostos à Petrobrás: impostos pelo governo, que é seu acionista majoritário e escolhe sua direção. Para não se confessar culpado pelos aumentos, o governo alega que não pode interferir e não interfere na Petrobrás, mas a verdade é que interfere e a partir de agora vai interferir ainda mais, com a nomeação do novo Presidente do Conselho de Administração da empresa, Rodolfo Landim.
Trata-se de um ex-engenheiro da Petrobrás, que trabalhou nela por 26 anos e chegou a ser Presidente da Aepet, sua associação de engenheiros, totalmente independente dela e defensora de uma política nacionalista para o petróleo brasileiro. Mas depois Landim tornou-se privatista e foi dirigir a OGX, a empresa de petróleo e gás de Eike Batista. Nela acrescentou aos conhecimentos que trazia da Petrobrás a expertise da indústria petrolífera privada. A parceria não durou muito tempo, porque Eike e ele se desentenderam sobre questões de dinheiro, e ultimamente Landim dedicou-se à presidência do Flamengo, que agora vai dividir com a presidência do Conselho de Administração da Petrobrás.
Bolsonaro dizia no momento dessa nomeação que decisões e leis erradas adotadas no passado tinham imposto a atual política de preços. Disso ficava no ar no mínimo a sugestão de que caberia ao Conselho de Administração presidido por Landim acabar com a política de alinhamento dos preços da Petrobrás às cotações internacionais do petróleo.
Essa declaração de Bolsonaro contradizia tudo que ele tinha dito antes e contradiria de novo o que ele diria depois, mas hoje é indiscutível que Bolsonaro dedica-se com método, com certa destreza e com muita esperteza à prática de um discurso da razão cínica que lhe permite dizer coisas opostas em dias seguidos e sempre manter a fidelidade do núcleo duro de eleitores que continuam a mantê-lo no segundo turno da eleição presidencial.
Mas deve ser verdade que a missão de Landim será mudar a política de preços da Petrobrás de modo que esta não derrote Bolsonaro no segundo turno, quando não bastarão os votos desse núcleo duro. Landim conhece como ninguém a vida interior das empresas privadas de petróleo, sua governança e os meandros de seu relacionamento com os diversos grupos de acionistas – além de ter conhecido por um quarto de século a vida interior da própria Petrobrás.
No conflito com a Ucrânia, Putin já avisou que a cotação do barril de petróleo pode saltar dos 100 dólares que já ultrapassou para 300 dólares. Se isso acontecer, o Brasil ficará numa situação que poderia até tirar Bolsonaro do primeiro turno da eleição.
Se, portanto, Landim conseguir ajustar os preços da Petrobrás aos verdadeiros custos de produção de seus derivados, e não mais a cotações determinadas pela situação internacional, o governo Bolsonaro terá objetivamente conduzido o país numa verdadeira operação de segurança nacional. Para Bolsonaro, porém, essa terá sido uma bem sucedida operação de “segurança” eleitoral.
(*) José Augusto Ribeiro – Jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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