Documentos são válidos até 2030 e serão focados em ciência e tecnologia, educação, indústria e comércio
Os governos da Venezuela e da Rússia assinaram 8 acordos nesta quinta-feira (7), em Caracas, em um movimento que “reforça os laços” entre as duas nações. Os acordos são válidos até 2030 e serão focados em ciência e tecnologia, educação, indústria e comércio. Os documentos foram assinados pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e o vice russo, Dimitri Chernyschenko.
O encontro entre os dois foi realizado no Palácio Miraflores, sede do Executivo venezuelano, e foi a 18ª reunião da Comissão Intergovernamental de Alto Nível. Além dos 8 acordos, foram assinados outros 9 documentos que formalizam intenções conjuntas de desenvolvimento entre Venezuela e Rússia.
O primeiro acordo foi um plano de desenvolvimento econômico e social de “áreas estratégicas” para russos e venezuelanos. O objetivo é promover o “desenvolvimento sustentável” em diferentes setores de forma cooperativa. O segundo tópico assinado trata sobre uma parceria entre universidades para pesquisa e uma cooperação científica e tecnológica.
Os dois governos também definiram que haverá uma troca de informações e ajuda mútua para as trocas comerciais e as tarifas cobradas para produtos comprados na Rússia e Venezuela. Também foi acordado um estudo geológico conjunto para o uso do subsolo por russos e venezuelanos.
A estatal petroleira venezuelana PDVSA também está envolvida em dois projetos. Um para a capacitação e formação petroquímica de estudantes da Universidade de Kazan e outro para o desenvolvimento de tecnologias e equipamentos para melhorar a segurança da indústria petroleira. O último acordo trata sobre a definição de um plano de ação para definir protocolos de segurança e normas trabalhistas.
A Comissão Intergovernamental foi criada por Caracas e Moscou em 2004, ainda sob a presidência de Hugo Chávez. O objetivo era aprofundar as relações entre os dois países em um período de expansão dos governos de esquerda na América do Sul e para enfrentar a influência dos Estados Unidos na região.
Nas duas décadas em que está formada, a comissão já assinou 300 ferramentas de cooperação bilateral. Nesta estrutura, 13 subcomissões discutem de forma regular os projetos coletivos para os setores de finanças, energia, indústria, comércio, alfândega, transportes e turismo, agricultura, pesca e alimentação, ciência e tecnologia, educação, saúde, cultura, desporto e juventude.
Durante o encontro, Maduro afirmou que os laços entre Venezuela e Rússia se fortaleceram durante os governos chavistas e que a relação entre os dois países faz parte de uma forma distinta da estabelecida entre países do Norte e do Sul Global.
“Não deixemos que as nossas relações dependam de mais ninguém. Tenhamos orgulho de manter uma relação livre de chantagens, pressões e sanções. Uma relação inexpugnável, de conquista e aprendizado mútuo. Este novo mundo que está nascendo é muito diferente daquele em que vivemos há 200 anos. Nem sanções, nem engano, queremos um mundo de cooperação e de paz”, disse.
Em seu discurso, Maduro não poupou elogios ao presidente da Rússia, Vladimir Putin. Para o mandatário venezuelano, o russo é um “goleador nato” que teve um “um grande sucesso com a histórica Cúpula do Brics, em Kazan, que também consolidou o bloco”.
O vice russo também falou sobre a importância da relação com os venezuelanos. De acordo com ele, a Venezuela é um dos principais importadores de trigo russo na região, se consolidando como um “parceiro estratégico e um poderoso aliado do seu país na América Latina”. Chernyschenko afirmou que há o interesse da Rússia de importar mais cacau venezuelano.
O representante russo também falou sobre a intenção de reforçar uma cooperação militar com os venezuelanos. De acordo com ele, é preciso não só uma parceria estratégica, mas que a Rússia vai trabalhar para “suprir as necessidades das Forças Armadas Venezuelanas e garantir a segurança do país”.
A vice-presidente da Venezuela e ministra do Petróleo, Delcy Rodríguez, também participou da comissão e disse que nas próximas semanas vão se desenvolver campos de extração de gás que a Rússia tem em território venezuelano para tornar o país exportador de gás pela primeira vez.
Ela concluiu o encontro entregando a Ordem Francisco de Miranda na sua Primeira Classe, uma honraria do governo venezuelano concedida para personalidades e políticos que trabalharam pelo desenvolvimento da ciência. Ela concluiu reforçando as alternativas criadas na relação entre russos e venezuelanos.
“Que o mundo veja que existem diferentes formas de relacionamento, por meio da amizade, da cooperação e do respeito mútuo”, afirmou.
Esse foi o terceiro encontro bilateral entre os governos russo e venezuelano no ano. Em fevereiro, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, se reuniu com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro e o chanceler venezuelano, Yván Gil, em Caracas. Em declaração após o encontro, Lavrov e Maduro falaram sobre as relações entre os países e questões geopolíticas que atingem a Venezuela.
Depois, em julho, Lavrov, e Gil assinaram um memorando de cooperação para combater as medidas coercitivas unilaterais, as chamadas sanções. O documento foi assinado em meio à reunião ministerial do Brics+, na cidade russa de Nizhni Nóvgorod.
Em outubro, Maduro se reuniu com Putin durante a cúpula do Brics em Kazan, na Rússia. No encontro, eles reforçaram o apoio mútuo e elogiaram a atuação dos países em meio aos desafios impostos pelas sanções impostas pelos Estados Unidos e União Europeia.
Desde o começo da guerra na Ucrânia em 2022, países como Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e outros aliados impuseram mais de 16.500 sanções contra pessoas, empresas e o governo russo. O objetivo é impedir de forma unilateral que empresas de outros países negociem com empresas russas, evitando a entrada de dinheiro na Rússia.
A Venezuela também é alvo de mais de 930 sanções econômicas nos últimos anos. EUA e UE impedem que empresas comprem o principal produto do país, o petróleo, para supostamente pressionar o governo de Nicolás Maduro, a permitir a atuação de opositores.
Em outubro do ano passado, no entanto, Washington começou a emitir licenças para que o setor petroleiro venezuelano possa negociar com empresas estrangeiras, principalmente as norte-americanas.