O presidente Lula foi ovacionado pelo G20 com sua proposta de taxação dos mais ricos para dar aos mais pobres.
Só não teve a aclamação da secretária de Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen.
Para ela, não está na hora de executar tal taxação, aplaudida por todos os países do sul global, interessados em ingressarem nos BRICS.
O raciocínio imperialista de Yellen é idêntico ao de qualquer representante de partido republicano ou democrata americano: eles estão a serviço da reprodução capitalista econômica e financeira nos Estados Unidos.
Taxar os mais ricos americanos para atender a demanda social de Lula, a fim de melhor distribuir a renda global, excessivamente acumulada, é incompatível com o espírito do capitalismo de acumulação crescente, permanente, sem limites, para elevar a riqueza da América.
O capitalismo é incompatível com a distribuição de renda, especialmente na fase ultra financeira de sobreacumulação de capital.
No momento em que os Estados Unidos ensaiam protecionismo contra a China que vai impactar o mundo inteiro para que os americanos atrasem ao máximo a hegemonia comercial dos chineses, que coloca em risco a industrialização americana, o horizonte não é outro senão de guerra comercial.
A dificuldade americana de competir com a China não recomenda, aos olhos de Yellen, a taxação dos empresários americanos, os mais ricos, para distribuir sua renda com os mais pobres, via taxação de riqueza, como propõe Lula no G20, quando cresce a dificuldade deles de competirem com a China.
Seja Trump, que está com o discurso protecionista mais agressivo, seja Biden ou Kamala Harris, que luta contra a China, o fato é que o império está temeroso de concorrer com os chineses, razão pela qual resistirão à taxação pretendida por governos capitalistas periféricos, como o brasileiro sob Lula.
Maior concorrência, menor a taxa de lucro, maior a resistência ao pagamento de impostos.
NEOCOLONIZAÇÃO FINANCEIRA
O objetivo claro do império é a extração de riqueza, de mais valia, especialmente, financeira, no contexto da financeirização geral da economia, da periferia para o capitalismo cêntrico.
As políticas neoliberais de ajuste fiscal do império falam por si: são armas do mercado financeiro, executadas por bancos centrais independentes, na manipulação da taxa de juro.
A taxa Selic, calculada, semanalmente, por 100 bancos privados, à revelia da sociedade e do Congresso, é a forma acabada de dominação colonial financeira tirânica cuja função é controlar as dívidas públicas periféricas.
Atualmente, na casa dos 10,5% frente a uma inflação de 4% que garante juro real de 6,5%, o mais alto do mundo, o Brasil é o paraíso fiscal mais cobiçado.
O exemplo brasileiro de pagar cerca de 800 bilhões de reais de juros e amortizações da dívida pública, anualmente, enquanto o volume de investimento na produção nacional está estimado em R$ 50 bilhões/ano, conforme permitido pelo arcabouço neoliberal, é o modelo de sucesso rentista campeão do mundo na avaliação dos analistas nacionais e internacionais.
PROPOSTA INCÔMODA SILENCIA GLOBO
Se a missão dos credores é extrair ao máximo da população mais pobre, a proposta contrária do presidente Lula, justíssima, de cobrar dos mais ricos, foi entendida pela porta-voz do império, Janet Yellen, como uma ameaça.
Por isso, reagiu, radicalmente, contra Lula.
A grande mídia, Globo à frente, ficou calada, consentindo com a posição de Yellen, favorável aos rentistas e sonegadores de impostos, que escondem rendas em paraísos fiscais, enquanto não pagam IR sobre rendimentos de ações.
O silêncio midiático corporativo é a prova de que é conivente com a posição do representante de Tio Sam de que não quer saber dessa reivindicação do presidente Lula e de todos os demais países latino-americanos, sob desigualdade social, como o Brasil.
Não pagar imposto de renda ou imposto sobre riqueza ou herança, no cenário da financeirização global especulativa é a nova lei que a chefona do Tesouro americano decretou, no G-20, sem discutir com a maioria.
Na prática, o que ela quer é o que o presidente do Banco Central Independente(BCI), Roberto Campos Neto, já está fazendo: impondo, com o apoio do mercado financeiro e do Congresso, o ajuste fiscal antidesenvolvimento, antiarrecadação, antinacionalista.
Lula foi visto por Yellen como o velho Leão da Receita Federal que quer cobrar imposto dos ricos americanos.
Foto Agência Brasil
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.