Osório Alves de Castro é dos meus. Explico: somos parte da principal minoria brasileira em direitos, a dos sertanejos. Deserdados, desvalidos, desrespeitados. Somos irmãos sanfranciscanos das barrancas baianas. Filhos de um estirão de terra que é caatinga na beira d’água, um eterno paradoxo. Esquecidos, esfaimados, estropiados. E mais: parceiros no duro ofício de contador de histórias, talvez a ligadura mais penosa.
Eu deveria ter lido no ginásio o Porto Calendário, primeiro romance do Osório, publicado em 1961 pela Livraria Francisco Alves. Isso se literatura tivesse alguma importância em nossa educação formal. Isso se a Bahia tivesse olhos para a produção cultural a oeste do Recôncavo. Se a Bahia não se ocupasse em investir em pólos de excelência econômica em detrimento de sua larga fatia de sertão. Mas somente provei da prosa osoriana dois anos atrás, bem depois de ter lançado meu primeiro romance. Mais que espantoso, isso é fruto do absurdo engendrado pelo silêncio que cobre o sertão baiano em todos os círculos de poder. O sertão existe, está dentro de nós, mas depois que calaram Conselheiro, Lampião e o apito do vapor, o sertão prova um longo e abjeto esquecimento.
Os romances de Osório Alves de Castro (Porto Calendário, Maria fecha a porta prau boi não te pegar e Bahiano Tietê) expõem o drama existencial do sertão baiano do São Francisco com uma linguagem preciosa, encantatória e prenhe de belezas terríveis. São livros destinados a quem busca contato com os códigos genéticos de nossa história campesina e de sua linguagem única, preservada no tempo por séculos de isolamento. Isso me interessa, e muito. Digo que Osório Alves de Castro é dos meus, na simples esperança de que não tarde o dia em que seja autor preferido de muitos, de todos.
(*) Por Carlos Barbosa em 17 de setembro de 2007.
123º aniversário de nascimento de Osório Alves de Castro
(*) Joaquim Lisboa Neto, colunista do Jornal Brasil Popular, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.